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Conteúdo 4 de fevereiro de 2008

O feijão com arroz da política

Todas as relações que se estabelecem entre os homens, não só as coletivas e sociais, mas, inclusive, as de ordem pessoal e individual, têm como instrumento intermediador indispensável o dinheiro. Esta colocação heterodoxa e radical não exprime uma circunstância temporal ou cultural. Refere-se a todos os tempos, povos, lugares e culturas. Mesmo os atos ou fatos eminentemente espirituais, como os religiosos e os amorosos, envolvem dinheiro: ou os gastos de casamento ou o gasto com um motel. Um simples beijo na rua supõe um passo de encontro dado com um sapato ou uma sandália. E estes custam dinheiro. Somente a vida natural, meramente biológica, dispensa o dinheiro _ e, neste caso, se rege por algo pior: a luta darwiniana mortal pela vida.

No caso humano, a luta se faz pelo dinheiro. E isto explica porque a política, que representa o poder supremo nas sociedades humanas, tem como seu instrumento fundamental, como seu próprio sangue ou atmosfera, a aura sacra famis , a fome pelo dinheiro, o domínio sobre ele.

Isto pode parecer demasiado radical e ao mesmo tempo simplório. Muito mais geral do que a teoria da luta de classes marxista. A luta é geral. Vamos, então, citar um único exemplo, tirado da China, aos tempos de Lao-Tsé e Confúcio (551-479 AC.). Dizia Lao-Tsé: "O povo sofre porque seus governantes comem demais com impostos. Por isso, é que passa fome. É difícil governar porque as autoridades querem fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Por isso, é difícil governar." Comenta o autor que cita essas palavras de Lao-Tsé que os problemas sociais eram produzidos principalmente pelo domínio político exercido por seus governantes. Pode-se ser mais atual do que isso? (Fonte > SERIES III. ÁSIA, VOL. 4 General Editor George F. McLean – 1992).

Cabe aqui uma passagem dos Analectos de Confúcio, também ocorrida há cerca de 2.500 anos: "E o que faríeis em primeiro lugar, Mestre, se dispusésseis do poder que pretendes?" Resposta: "Retificaria os nomes". E como o discípulo mal o entendesse e visse nisso muito pouca coisa, explicou-se: "Precisamos de uma linguagem correta e comum. Sem isso não podemos nos entender. E se não nos entendermos, como poderemos agir de acordo?" (transcrição livre).

Pode-se ser mais pertinente do que isso? A política é o domínio onde as palavras são usadas com libertinagem superior às ficções mais descabeladas. Tudo é falado e prometido como a realização dos mais altos ideais e teorias do bem-estar e da felicidade geral. O estilo messiânico é a retórica de maior sucesso junto ao eleitorado. E, acrescentemos, junto com isso, a mais ampla e desabrida manipulação de dinheiros. Obviamente, tudo isso custa muito dinheiro e aqui podemos nos reportar ao que diziam Lao-Tsé e Confúcio há 2.500 anos.

Até pode ser que o estilo do discurso político seja uma imposição inevitável dessa atividade, que nem tudo seja mera demagogia e que muitos políticos realmente queiram e acreditem no que falam. Tanto pior, para eles e para nós. Pois precisarão de muito dinheiro para cumprir o que prometem.

Toda história decorre de uma infinita conjunção de fatos fortuitos. Na Inglaterra, em 1215 os barões impuseram ao rei João a Magna Carta, que estabelecia ser sua prerrogativa decidir quanto dinheiro estavam dispostos a gastar para ter os serviços de governo. Cerca de quatro séculos depois, o primeiro-ministro do rei Jaime, Francis Bacon (o famoso filósofo), que era um juiz acusado de corrupção foi condenado pelo Parlamento à prisão e pesada multa. Comentou que fora o juiz mais justo do último meio século, mas que essa fora a "censura" mais justa dos últimos 200 anos. Talvez, seja esse espírito que explique, segundo preceituava Lao-Tsé, o notável sucesso da política inglesa em magnas circunstâncias sociais e históricas. O controle sobre o dinheiro.

Quase 400 anos depois do incidente acima referido, principalmente, mas não exclusivamente em países novos, regredimos para o arroz com feijão da política apontado por Lao-Tsé e o problema de sua retórica, apontado por Confúcio. Os governantes querem fazer coisas demais e utilizam uma linguagem que não dá o nome correto às coisas. Passam a mão em todo o dinheiro que podem. Com isso reduzem a capacidade de todo o povo, não só de melhorar sua situação econômica, como de investir com maior eficiência e produtividade. E como dinheiro público não tem dono, os políticos e sua camarilha o enfiam no próprio bolso. O exemplo paradigmático dos últimos séculos foi o da Nova Classe que se criou no paraíso social-marxista russo.

Nos últimos séculos, essa síndrome se alastrou mesmo para nações mais desenvolvidas politicamente e seu corolário inevitável _ a corrupção _ surpreendeu a opinião mundial. Mas é no caso de nações jovens, com menor experiência política e educação precária, que a síndrome diagnosticada por Lao-Tsé e Confúcio se verifica com maior generalidade e clareza. Um atraso de 2.500 anos. Apenas…

Não cuidaremos aqui do caso brasileiro. Já o tratamos à saciedade em numerosos artigos anteriores. Mera e sumariamente recapitulamos a súmula da coisa. Provavelmente, perdemos nos tempos republicanos a posição que tínhamos no ranking mundial nos tempos imperiais. No que se refere a decência com relação aos dinheiros públicos, os resultados das CPIS nem de longe se aproximam do produzido pelo "lápis vermelho" de D.Pedro II. De uma Constituição que tivemos no Império, a "Benjamina", considerada a melhor já feita, na República chegamos a 17 e na atualidade não temos nenhuma, mas um amontoado de retalhos que um Congresso ordinário remenda a cada dia. Nunca se projetam tantas coisas. No governo atual se atinge o recorde da arrecadação do que todo o povo e a nação produzem. E em matéria de linguagem, superamos a de "pau" (como foi a do governo comunista) pela linguagem messiânica dos salvadores do mundo. Ponto final.

 

 

Fonte: www.dcomercio.com.br

 

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