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Conteúdo 20 de setembro de 2017

Santos 200 – Retrospectiva

“E lá vamos nós”, como dizia a bruxa no fantástico desenho animado do Pica Pau, em “A vassoura da bruxa”, de 1955. Novamente, contra nossa vontade, estamos nós cá falando do Porto de Santos. Gostaríamos de não ter de ficar voltando a esse assunto de tempos em tempos, mas é impossível. Não conseguimos ver o porto de Santos nas condições em que ele merece.

Inaugurado em 02/02/1892, com os primeiros 260 metros de cais, com a entrada do navio “Nasmith”, da armadora inglesa “Lamport & Holt”, hoje tem 14 quilômetros de cais. Com cerca de 60 berços de atracação. E continua sem as condições necessárias a um Hub Port (porto concentrador de carga).

Já escrevemos tantos artigos sobre isso, que perdemos a conta. Entra presidente, sai presidente, entra governo, sai governo, e o panorama é sempre o mesmo. Santos continua sem as condições que precisa para ser o porto que todos sonhamos. Temos, no momento, no porto, o que podemos chamar de um Senhor Presidente. Mas, de nada adianta se o governo não olha o porto como deve. Se não lhe dá as condições de transformá-lo no melhor porto brasileiro, das Américas ou do Hemisfério Sul.

Todos nós sonhamos com uma profundidade que lhe permita receber os maiores navios do mundo. De até 15-16 metros de calado (a medida da linha d´água até a quilha do navio). Para isso é necessário ter uma profundidade de 17 metros, que jamais será alcançada pelo que já vimos e vivemos. Não temos a idade do porto, mas sete décadas nos dão a visão necessária do que é o país e do que é possível fazer.

Dentre muitos artigos, palestras, aulas, entrevistas nos lembramos de alguns momentos interessantes. Há cerca de uma e meia década fomos entrevistados por uma emissora de TV de Santos, na Praça da Santa. Ao ar livre. Para podermos expandir nossos pensamentos, rsrs. Em meio a muitas coisas, lá pelas tantas, o apresentador nos pergunta o que achamos de Santos como um futuro Hub Port. Respondemos, de imediato, que Santos jamais seria um. Ele deu um pulo da cadeira “você está contra a opinião de todo mundo que diz que Santos é um futuro porto concentrador de carga?”. Todos, menos nós, e não retiramos isso.

Até hoje Santos não o é, efetivamente, e, neste momento, foi rebaixado novamente, para receber navios de até 12 metros de calado. Era de 13 metros.

Em Agosto de 2009, publicamos, na revista Sem Fronteiras, o artigo “Solução de Santos é o porto de Peruíbe”. Em nosso primeiro parágrafo, dissemos “Para quem estranhou este título, sugerimos pensar profundamente no assunto e a razão dirá que a solução dos problemas do Porto de Santos está na construção do quase natimorto Porto Brasil, que poderia ser construído em Peruíbe. Temos dito e escrito que, pelo andar da carruagem, e não vemos muita alternativa enquanto a política e os atuais interesses não mudarem, que Santos tem mais chances de ser porto secundário do que concentrador de carga”. Infelizmente foi mais uma tentativa frustrada.

Em fevereiro de 2010 publicamos em uma revista o artigo “Porto de Santos 2024”, que escrevemos no dia seguinte a uma reunião em Santos, com interessados, que havia sido decidido que, em 2024, Santos movimentaria a estranha quantidade de 230 milhões de toneladas de carga.

Nossos dois primeiros parágrafos diziam “Todos que nos acompanham nos últimos anos, e têm lido nossos artigos, sabem que poderíamos ter titulado este artigo de ‘Porto de Santos, a demência’. É conhecido o real apreço que temos pelo Porto de Santos. Mas, sabem também que somos realistas. Não pretendíamos retornar a este assunto tão cedo, mas diante dos fatos, tornou-se mister retornar a ele. Temos lido que há planos e projeções megalomaníacas para Santos. Para possibilitar a movimentação de 230 milhões de toneladas de carga em 2024. Não há ninguém, a não ser que não seja do ramo, que não saiba dos imensos gargalos que lá existem. E quase insolúveis a nosso ver”.

No último trimestre de 2015 participamos de uma reunião em uma Associação em São Paulo. Em que estavam diretores e presidentes de terminais de containers e da Praticagem de São Paulo. Haviam decidido que, em 2017, Santos teria uma profundidade de 17 metros. Contestamos e explicamos porque isso não ocorreria. Que em novembro de 2015 publicamos na revista Sem Fronteiras o artigo “Santos 17”, onde explicamos os motivos do porque isso não ocorreria. Citamos nossos argumentos de vários anos, mostramos a situação, os problemas de sempre, os gastos nunca aproveitados, o desleixo, a falta de organização, o controle pelo governo central, os gargalos que cercavam o porto etc.

Estamos no segundo semestre de 2017 e nada aconteceu de bom quanto à profundidade para tornar o Porto de Santos um Hub Port. Ao contrário, há poucos dias, Santos foi rebaixado de 13 para 12 metros. Não permitindo que navios apresentando mais calado que isso pudesse navegar no seu canal de acesso.

Estamos, há alguns anos, recebendo navios de 10.500 TEU – twenty feet or equivalent unit (containers de 20 pés ou equivalente – 6,09 cm de comprimento). E recentemente, um de 11.000 TEU. Apenas para mostra-los, pois eles não têm como, se precisarem, entrar nem sair com toda sua capacidade.

Só nos resta continuar rezando para que o futuro do Porto de Santos não continue a ser o passado, e que nos seus 200 anos, em 2092, possa estar melhor que hoje.

Samir Keedi
Bacharel em economia, consultor e professor da Aduaneiras e diversas universidades, e membro do comitê da ICC-Paris de revisão do atual Incoterms.
e-mail: samir@multieditoras.com.br

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