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Logística Setorial 13 de junho de 2017

Automotivo e autopeças: parceiros logísticos precisam de muito foco e excelência na execução

Trata-se de um mercado altamente competitivo, no qual qualquer desvio pode comprometer seriamente o resultado ou a imagem da empresa, como risco de parada de linha de produção ou não atendimento ao prazo preestabelecido com o cliente final.

A indústria automotiva é reconhecida por ser pioneira em diversos processos de qualidade. “Muitos dos métodos atuais de logística que são aplicados em diferentes segmentos tiveram origem nessa área”, lembra Fabrício Orrigo, diretor de vendas e marketing da Penske Logistics (Fone: 11 3738.8200), que atua principalmente com transporte rodoviário, mas também utiliza o modal aéreo para demandas mais específicas e tem licença para atuar com cabotagem.
Segundo ele, quando se fala da logística para abastecimento de produção, os principais requisitos dizem respeito à criticidade de atendimento dos tempos e volumes de peças. “As montadoras trabalham muito no conceito just in time, ou seja, em vez de manterem estoques de peças para montagem dos veículos, toda a cadeia de suprimentos é programada para que a peça esteja disponível praticamente no momento em que será utilizada. Com isto, todas as atividades de logística de transportes e movimentação interna têm de estar alinhadas para que não ocorra ruptura e eventual parada de produção por falta de matéria prima”, conta.
No caso da logística de peças, Orrigo expõe que a criticidade é transferida para o lado mais sensível, pois uma falha no abastecimento de uma concessionária atinge diretamente o cliente final da montadora. Otavio Fedrizze, diretor de operações e comercial da Carvalima Transportes (Fone: 65 3316.3900), que atua com transportes rodoviário e aéreo, frisa que o segmento de autopeças é muito rigoroso, principalmente com o prazo de entrega nas curtas distâncias.
Beatriz Soares, gerente de vendas da Hamburg Sud (Fone: 11 5185.3100), que atua no transporte rodoviário e marítimo tanto para longo curso, quanto para cabotagem, salienta que os segmentos automotivo e de autopeças são extremamente exigentes, especialmente nos quesitos qualidade, segurança e pontualidade, particularmente por trabalharem com inventários cada vez mais enxutos. “É um mercado altamente competitivo, qualquer desvio pode comprometer seriamente o resultado ou a imagem da empresa, como risco de parada de linha de produção ou não atendimento ao prazo preestabelecido com o cliente final, gerando custo extra e afetando toda a cadeia de suprimentos”, conta.
Por sua vez, Deives Ricardo Privatti, gerente de operações da JSL (Fone: 0800 0195755), que oferece serviços rodoviários, chama atenção para performance de atendimento, tempo de janela, transit time, descarga e logística reversa das embalagens. “Todos devem cumprir as premissas: Operador Logístico, fornecedor e montadoras.”
Nas palavras de Luiz Carlos de Faria Junior, diretor comercial da Maxitrans – Transportes & Logística Internacional (Fone: 11 3685.2786), que atua com transporte rodoviário, FTL e LTL para a Argentina, trata-se de um mercado muito pujante e dinâmico. “Os Operadores Logísticos devem estar sempre atentos às evoluções dos conceitos empregados em cada operação, para proporcionar maior agilidade e, consequentemente, maior produtividade”, afirma.
Nesse ponto também toca Robson Luiz Bissani, gerente de operações da Columbia (Fone: 11 3330.6700), que atua com transporte rodoviário e operações portuárias através da CMLog. “O setor automotivo é altamente tecnológico, com uma cadeia produtiva cada vez mais complexa, oferecendo grandes desafios aos OLs. Os fabricantes e fornecedores, cada vez mais exigentes, requerem desses parceiros muito foco e excelência na execução das atividades. A agilidade e a pontualidade são itens indispensáveis para quem pretende atuar na área”, alerta.
Segundo João Daniel de Freitas Neto, supervisor comercial da Transportadora Sulista (Fone: 41 3371.8200) – que atua com transporte rodoviário –, em função das características das indústrias desse setor, principalmente o fato de trabalharem de forma enxuta e com baixos níveis de estoque, o nível de controle, informação e pontualidade é fundamental para o sucesso do processo. “A logística é bastante complexa, exigindo grande preparo dos OLs para atingir o nível de excelência requerido.”
O mercado automobilístico se caracteriza por uma cadeia longa, com vários fornecedores, que tanto podem estar integrados em um polo produtivo, como localizados em diferentes países. É o que explica Solon Barrios, diretor de operações do setor automotivo da DHL Supply Chain (Fone: 19 3206.2200), que atua em todos os modos de transporte, com destaque para o rodoviário.
“O estoque dos automóveis é, em linhas gerais, controlado pelas próprias montadoras, mas as etapas intermediárias demandam esforços de armazenagem para garantir que a produção possa continuar”, conta. Ele lembra também que a variação da taxa cambial e outros fatores macroeconômicos podem levar a mudanças na cadeia de fornecedores e até de foco de produção.

Impacto da crise
É óbvio que a crise econômica afetou duramente as montadoras. Como isso se refletiu no segmento de logística? “A busca por redução nos preços se acirrou, levando o transportador a otimizar processos para conseguir manter a rentabilidade”, declara Wanderley Rodrigues Soares, diretor-presidente da Unicargo Transportes e Cargas (Fone: 11 2413.1700), cuja especialidade é o transporte aéreo, complementado com coleta e entrega rodoviárias.
Para atuar no segmento, continua ele, as empresas de logística precisam rever processos, otimizar recursos em parceria com o embarcador e trabalhar firme para diminuir a sinistralidade.
Na opinião de Everton Patriota, gerente de operações da Nova Minas Express (Fone: 35 2102.1000), transportadora rodoviária, a crise gerou no segmento de logística a redução de trabalhadores e frota, o aumento no tempo do veículo parado aguardando descarga e, consequentemente, a perda de produtividade e faturamento.
“Considerando que apesar da crise ainda há demanda e montagem de veículos, a maior mudança deve acontecer na operação de carga e descarga, quer seja diretamente por embarcadores, quer seja pelos Operadores Logísticos e pelas montadoras”, conta. De acordo com Patriota, as imensas e constantes filas de veículos tornam as operações inviáveis: carrega e descarrega primeiro quem oferece algum benefício. “Vale ressaltar que as diárias pagas por embarcadores não cobrem os custos de um caminhão parado.”
Para superar a queda nas operações com as montadoras, a Nova Minas Express diversificou os segmentos de atuação, reduzindo a dependência do setor automotivo.
Para Fedrizze, da Carvalima, as montadoras foram as empresas que mais sofreram na crise, mas também as que mais se beneficiaram antes dela, com vendas recordes. “Agora o mercado vai se ajustar e voltar ao normal”, aposta. O profissional diz que os juros fáceis criaram uma demanda que não existia e inflacionou o mercado de caminhões. Com a diminuição do crédito, a demanda diminuiu e agora com a retomada econômica vai chegar a um ponto de equilíbrio.
“Nosso mercado é bem pulverizado, o que fez com que não sentíssemos esta queda com tanta intensidade, além de focarmos em outros segmentos para balancear as operações”, explica.
Fedrizze diz que o setor de autopeças continua aquecido de maneira geral, houve uma diminuição do tamanho dos pedidos, não se compra mais para estoque de grandes quantidades e, sim, o que realmente precisa. “As distribuidoras fazem os pedidos maiores, e os clientes finais passam a comprar mais das distribuidoras do que diretamente dos fabricantes.” Bissani, da Columbia, conta que o principal reflexo da crise na logística se dá pela queda nos volumes, que acabam impactando toda a cadeia, exigindo do OL novas soluções que tragam melhoria nos processos, agreguem valor final e apresentem custos competitivos aos seus clientes.
“Aqui na empresa, foram necessárias revisões de processos, adequação de recursos humanos, tecnológicos e materiais, bem como de estruturas físicas e equipamentos. Por outro lado, buscamos desenvolver soluções mais complexas para agregar valor à cadeia logística e, consequentemente, buscar aumentar o market share nesse segmento”, diz.
Em decorrência dessa situação, a Columbia passou a operar nesse ano o novo Centro de Distribuição para exportação de peças da Ford Brasil, na Bahia, que exporta peças para as principais fábricas da marca no mundo. “Nesse conceito, as operações são realizadas dentro da nossa área alfandegada e proporcionam maior velocidade, controle e competitividade, atingindo padrões internacionais para esse tipo de operação”, revela Bissani.
Na análise de Barrios, da DHL Supply Chain, as vendas no mercado interno caíram, mas as exportações cresceram e alguns nichos de mercado se mostraram resilientes. “A indústria já está se movimentando para se reinventar e se aproximar mais do consumidor”, acredita.
Em vista a essa realidade, uma das alternativas que mais a empresa trabalhou foi na busca de maior eficiência nos processos logísticos. “Investimos muito na logística in plant e no LLP, ou seja, em ajudar as montadoras a gerir processos logísticos dentro das fábricas, incluindo a alimentação das linhas de produção e gestão de insumos. Há muito espaço para aprimoramentos e ganhos de produtividade nesta área, tanto que conseguimos alguns clientes neste período”, expõe.
A empresa espera um segundo semestre melhor, baseado nos sinais de melhoria da economia que começam a aparecer, sem falar que o câmbio favorece as exportações.
Como reflexo da crise no segmento de logística, Beatriz, da Hamburg Sud, cita que um dos pontos mais relevantes está relacionado ao posicionamento de contêineres. “Como o setor geralmente possui regularidade de embarques amparados por contrato, a partir do momento em que o volume é drasticamente reduzido, os equipamentos precisam ser levados e/ou redirecionados pelo transportador, alterando assim o custo logístico pelo reposicionamento de contêineres vazios”, explica.
A gerente de vendas destaca também a forte pressão por redução de custo em virtude da alta competitividade, fazendo com que muitos fornecedores trabalhem abaixo da margem de contribuição mínima necessária, ocasionado rupturas, algumas irreversíveis. “Expomos a situação ao mercado e revisamos a matriz de custo, a fim de garantir a logística dos equipamentos sem que haja prejuízo aos clientes em termos de qualidade e disponibilidade.” Para superar essa fase, a empresa escutou as expectativas, preocupações e sugestões do mercado.
Outro fator extremamente diferencial, segundo ela, é a qualidade no contato e a dedicação exclusiva ao cliente, principalmente em casos críticos. “As montadoras precisam sempre ter certeza que o provedor está ao seu lado, trabalhando junto para apresentar soluções e alternativas ao problema e não somente ‘repassar informação’”, expõe.
De acordo com João Lordello, do departamento comercial e responsável por novos negócios, e Tiago Perri, gerente comercial, ambos da RAI Armazenagem e Logística (Fone: 11 4351.2152), que atende todos os modos de transportes, com estrutura própria ou subcontratada, o segmento precisa de volumes altos para se manter e acabou perdendo muitas vendas, tendo de se adequar com os grandes cortes de pessoal.
“Com volumes menores, as compras precisam ser reguladas com maior velocidade para que não haja acúmulo de estoques. O maior controle do planejamento da demanda é o desafio a ser transposto”, expõem. Nesse ponto, eles citam o VMI – Vendor Managed Inventory (inventário gerido pelo fornecedor), solução utilizada para que se possa fazer o controle de demanda, guiando transportes e armazéns e dando previsibilidade de chegada de materiais para as linhas de produção.
Em vista a essa situação, a RAI precisou ajustar suas áreas e fazer redimensionamentos para se adequar à realidade atual de volumes e estoque. “Novas técnicas de recebimento, processamento de armazenagem e expedição foram aplicadas, a fim de imprimir maior velocidade e obter ganhos de produtividade, além de abertura para novas ferramentas sistêmicas, cada vez mais integradas aos ERPs dos clientes, para apoiar as operações”, destacam.
Segundo Lordello e Perri, com o reaquecimento da economia, ainda existe uma previsão de crescimento tímida em curto prazo. “A retomada em médio prazo é iminente e os mesmos padrões de austeridade em custos e gestão serão mantidos. Certamente, o mercado estará mais preparado e mais assertivo nesse momento.”
Como reflexo da crise, Freitas Neto, da Sulista, viu muitos concorrentes ficarem pelo caminho e outros que tiveram de diversificar sua carteira de clientes para se manter no mercado. “Nós nos preparamos com antecedência, em 2014. Diversificamos nossa atuação com a entrada em outros segmentos, como linha branca, embalagens e setor madeireiro, não ficando desta forma tão dependentes do segmento automotivo”, conta. Além disso, a empresa ajustou a estrutura aos novos volumes e passou a trabalhar com produtividade, fazendo mais com menos através de reengenharia de processos, otimizações e parcerias.
Sobre as previsões para a área, o supervisor comercial já vê uma leve retomada em 2017. “Acreditamos que o pior momento já passou, agora a tendência é melhorar, mas de forma lenta e gradual. Pelas projeções, a recuperação dos altos volumes, como em 2013, não vem antes de 2025.”
Com a crise, toda a cadeia ficou mais justa e todos precisaram ficar mais eficientes, afirma Privatti, da JSL. “Hoje, a montadora passa a demanda para os fornecedores que, por sua vez, informam a quantidade que irão entregar e o Operador Logístico disponibiliza o ativo ideal para garantir a melhor taxa de ocupação. Não se tem mais horas extras junto aos fornecedores. Se o veículo atrasar e chegar após o horário, o fornecedor fecha a porta e vai embora, com isso a logística de milk-run teve que mudar e hoje cada um assume o desvio”, explica.
A empresa fez ações rápidas de reduções para acompanhar a queda do mercado, mantendo, assim, a liquidez nas operações. “E por mais que o segmento como um todo tenha apresentado queda de cerca de 30%, a JSL cresceu 20% em faturamento em relação a 2015. Ou seja, soubemos aproveitar as oportunidades que surgiram com novas formas de atendimento, flexibilidade e agilidade nas implantações.” Privatti diz que o segmento de pesados e leves está retomando o volume, principalmente impulsionado pelas exportações.
Já a Maxitrans, de acordo com Faria Junior, foi obrigada a fazer uma reengenharia dos processos internos e um consequente downsizing (achatamento), para se adequar à nova realidade. “Direcionamos de forma mais efetiva nossos esforços comerciais para o segmento de cargas fracionadas (LTL) e também para o varejo de alto giro.”
O diretor comercial acredita que o pior já passou. “Já estamos sentindo uma ligeira melhora, principalmente para as cargas destinadas ao Mercosul, onde temos a nossa mais forte atuação. No mercado nacional, a retomada deve começar a ocorrer somente em 2018”, opina.
Na análise de Orrigo, da Penske, a redução na venda e a consequente diminuição na produção de veículos causaram uma queda de volume violenta no fluxo de abastecimento das fábricas. “Este ponto impactou diretamente também o setor de autopeças, não em volume, mas na necessidade de redução de custos. E isso fez com que os prestadores de serviço logísticos tivessem de adaptar suas estruturas para esta nova realidade.”
Em relação ao atendimento da produção, o diretor de vendas e marketing diz que as constantes revisões de volumes, reduções de turnos e layoffs causaram impacto direto na logística, afetando diretamente os volumes das operações.
A Penske precisou ajustar sua estrutura de custos e trabalhou muito na implantação de um produto novo chamado LLP (Lead Logistics Provider), que trouxe para o Brasil há 3 anos, para otimizar todos os níveis da cadeia de suprimentos. “Neste tipo de operação, atuamos com uma equipe de engenheiros e softwares próprios diretamente no abastecimento das plantas, sempre visando adequar a operação logística à realidade da operação, reduzindo custos, mas mantendo o atendimento com a criticidade demandada”, explica.
Quanto às “previsões”, elas não são animadoras para Orrigo. “Acreditamos que, assim como os demais segmentos da economia, as coisas não devem piorar, mas a recuperação nos parece ser mais lenta do que gostaríamos que fosse.”

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