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Conteúdo 1 de agosto de 2017

Estávamos mesmo preparados para a globalização?

As décadas de oitenta e noventa marcaram um avanço incomensurável no comércio mundial. Dava-se início à aproximação comercial das fronteiras internacionais que trouxe um acréscimo substancial de modernidade e, porque não dizer, um estreitamento do conhecimento, não só tecnológico, mas cultural também: era a globalização.

Foi o momento em que passamos a perceber como estávamos atrasados em relação ao mundo. E o mundo nos mostrava que as duas décadas de Ditadura Militar (1964-1985) era mais que uma estagnação político-econômica. Era o momento em que víamos que nossa logística era “aquela criança que, para ver tevê, tinha que olhar pelas frestas da janela do vizinho”.

Estávamos mesmo preparados para a globalização? Entendam que, em nenhum momento, estou duvidando da necessidade dela. Até acho que demorou bastante para a abertura, mesmo que parcial, de muitas fronteiras comerciais devido ao protecionismo de países mais ricos e pelo desnivelamento que cada país experimentava, pois da mesma forma que até hoje o Brasil sofre com os efeitos do regime militar, o mundo sofre com os efeitos de outras ditaduras e com os efeitos da Guerra Fria (1947-1991) que, com certas pausas, findou com a extinção da União Soviética em 1991, mas seus “fantasmas” ainda pairam por aí. Contudo, falando de Brasil, entendemos tardiamente a globalização, apesar de termos muitos pontos positivos no desenvolvimento de nossa agricultura e de nosso extrativismo, méritos do empreendedorismo brasileiro, e perdemos muito tempo porque muito do nosso tempo foi empregado para nos consolidar como nação.

Em 1988 era promulgada a atual Constituição Federal; mesmo ano em que a inflação atingia 366% no Governo Sarney; em 1992 o impeachment de Collor e a luta contra a inflação marcava a década de noventa, quando em 1993 atingiu incríveis 2.477% e, um ano depois, nascia o Plano Real para colocar a inflação em níveis compreendidos após mais um ano, em 1995. Nossa logística agora sairia da inércia e começaria a se desenvolver? Infelizmente, não. Os impactos positivos mais significativos só viriam dez anos depois.

As diferenças nesse período eram sentidas, principalmente, no progresso da tecnologia. Experimentávamos produtos que antes nos eram disponibilizados cinco ou seis anos após seu lançamento. Nossas indústrias passavam pela dupla face do desenvolvimento: umas se modernizavam enquanto outras sucumbiam diante da competitividade no novo mundo globalizado. Setores passam a “mandar” no mercado e aqueles pautados no “Brasil de campo” sofrem com o mercado importador e com a falta de incentivos para exportar. Mas, nada se compara com as dificuldades e a extrema limitação de uma infraestrutura logística que ancorava setores inteiros ou os deixavam à deriva. Décadas de estagnação da economia, da logística e da educação, deixaram o Brasil, literalmente, a ver navios e mais navios aguardando uma janela para atracação em seus portos desestruturados.

Muitos países também foram pegos desprevenidos pela globalização, porém, poucos tiveram tantos contratempos internos e tantos erros sistemáticos em suas decisões de não priorizar o desenvolvimento de sua infraestrutura logística para apoiar sua produção doméstica e para garantir o aproveitamento das oportunidades oriundas do comércio internacional. Talvez por essa razão tenhamos participação de apenas 1% nas exportações do comércio global e estas contribuam apenas com 11,5% de nosso Produto Interno Bruto (PIB), quando a média global entre países é de quase 30%. E, após quatro décadas, com alguns erros suavizados, ainda aguardamos o “boom” da logística brasileira.

Difícil dizer se o Brasil estava preparado para a globalização quando a “visita” pareceu inesperada ou desprezada. Acredito que a resposta para isso tenha algumas variações a depender da área de mercado. O fato é que fomos colocados num jogo sem que conhecêssemos todas as regras, sem subsídios aos nossos jogadores e, se mesmo assim, conseguimos fazer grandes jogadas, é porque somos brasileiros: um povo que tira leite de pedra. E nossa certeza é a de que muita coisa mudou e, por isso, muito ainda tem que mudar.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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