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Conteúdo 4 de maio de 2015

A Logística que os brasileiros merecem (parte 1/2)

Quando vejo o trem-bala japonês, o Maglev, atingindo 603 km por hora e sendo uma proposta de transporte totalmente viável para os padrões japoneses em 2027, e o funcionamento do Shinkansen (Nova Linha Troncal), desde 1964, como um modelo de pontualidade, praticidade e que hoje oferta um transporte veloz, seguro e que possibilita ganhos nada modestos à economia japonesa, me pergunto: o que temos de projetos sólidos até 2027 nesse aspecto? Ao conhecer o modelo de transporte público de Londres que oferece tudo o que para nós brasileiros soa como fantasia quando, na verdade, só significa respeito pelo ser humano, pelo cidadão, pelo contribuinte, me pergunto: o que deu errado conosco?

Até seria mais fácil compreender se colocássemos a culpa apenas na corrupção, apesar de ser um câncer social; mas, é só isso? Alguns pensam que é o principal ou único motivo para vivermos um atraso tão significativo dentro de todos os segmentos e, principalmente dentro da Logística, com todos as deficiências estruturais tão conhecidas e tão vividas por nós brasileiros. Sendo ela a principal, gera uma discussão ampla por ser hoje um artifício mundial, apesar de que os níveis altos de corrupção estão mais presentes no nosso país do que nos já citados aqui; já sobre ser o único motivo, tenho a absoluta certeza de que não é. Mesmo quando outros motivos levam à corrupção, há outras circunstâncias responsáveis por uma logística instável, ineficiente, insuficiente e judiada que detemos hoje.

Podemos destacar aqui a falta de conhecimento e interesse por parte do poder público, juntamente com os empecimentos na forma burocrática sobre o poder privado que limita os investimentos naquilo que faz crescer a economia, falta de competência e de planejamento fiscalizado para que vá para o papel e saia dele, falta de acompanhamento da população que sucumbe como vítima e não se vê como a detentora do poder emprestado aos representantes. Uma coisa é certa: para onde se olha, para onde se mexe, o principal e único motivo para tudo isso é a política brasileira abonada pelos brasileiros.

Também não adianta colocarmos a culpa em governo “x” ou governo “y”. O Brasil arrasta correntes que assombram nossa economia há mais de três décadas quando desaceleramos e ficamos dependentes da globalização que nos ofertou novos negócios, mas não nos trouxe novos meios de transporte, implantações e conservações da nossa estrutura de atendimento por despreparo nosso. Os problemas transcendem reformas políticas, fiscais e econômicas, apesar de serem absolutamente necessárias. São situações que nos fazem pensar se estamos nessa por não crescermos ou não crescemos por estarmos nessa.

Em meio a tudo isso, só sabemos que nós brasileiros não merecemos um setor logístico que nos é ofertado. Somos um povo trabalhador, acolhedor e inteligente que preza pela competência naquilo que faz, mas vê seus cidadãos morrerem em rodovias federais que não oferecem segurança àqueles que zelam pela vida – em 2014 foram 8.227 mortes, quase uma a cada hora –; vê suas crianças serem engolidas por um sistema que as transformará no que somos hoje. Sim, temos futuro! Desde que entendamos que precisamos de investimentos conscientes que venham mudar essas situações e que tenhamos prioridades nesses investimentos. Educação é, sem dúvidas, a primeira de todas. E não adianta só investir. Para a Unesco, o investimento mínimo em educação é de 4% a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) ou 20% do orçamento. O Brasil cumpre parte da meta investindo 6,6% numa educação desfocada, ineficiente e com propósitos distantes, mas tem seu orçamento voltado ao sustento da máquina pública.

Somos capazes de construir uma logística pautada em soluções, com modais integrados ao mesmo tempo independentes para que sobrevivam fomentando os demais. Temos que ter estrutura para inovar ou copiarmos o que dá certo em outros países, coisa que não temos hoje, senão a vontade apenas. Somos capazes de redesenhar nossos portos e aeroportos para que tenhamos pleno atendimento de nossas necessidades. Dinheiro temos para isso e já perdemos um tempo substancial que reduz nossas alternativas e nos deixa acuados perante os concorrentes.

Sim, merecemos um transporte público eficiente e que devolva o respeito aos seus usuários para que possam produzir com a energia hoje deixada nos trens e nos ônibus ou nas ruas por aqueles que não dependem do transporte público, mas que também são prejudicados por várias razões diretas ou indiretas. Merecemos ofertar ou adquirir soluções logísticas confiáveis e suficientemente adequadas ao nosso crescimento. Merecemos um setor que nos lance aos degraus mais altos onde estão presentes países que, por enquanto, só os invejamos.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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