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Conteúdo 3 de outubro de 2016

Os maiores entraves da Logística Brasileira (PARTE 1/2)

Não é novidade para aqueles que trabalham no setor de logística que as dificuldades para cumprir prazos representem, muitas vezes, um desafio sobre-humano. Também não é mais novidade que os prejuízos gerados nesse setor sejam impactantes para empresas e, consequentemente, para o bolso do consumidor. Pior que tais prejuízos sejam vistos dentro de uma “normalidade” e que nada aponte para uma solução num curto ou médio prazo deixando esse esplêndido setor se desvirtuar, pois ele não está aqui para gerar prejuízos, muito pelo contrário, nossa taxa de crescimento está diretamente ligada ao que a Logística nos oferece hoje.

Muitas pesquisas apontam um custo logístico em torno de 12% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. É um custo operacional extremamente alto se compararmos com países concorrentes que, no caso dos Estados Unidos, representa quase o dobro do que os norte-americanos gastam com uma logística bem mais aparelhada. Considerando um investimento sólido e com custos logísticos aceitáveis, na casa dos 7%, a contribuição da Logística representaria algo em torno de 15% para o PIB que, se em 2015 foi de R$ 5,9 trilhões, estamos falando de R$ 885 bilhões entre reduções de custos e ganhos estimados com processos mais ágeis que resultam numa maior movimentação econômica. Peso dobrado se considerarmos um prejuízo se transformando em lucro…

Então, como ainda não incorporamos esses números à taxa de crescimento do país? Infelizmente, são muitas as causas. Contudo, três estão intimamente ligadas e sempre presentes na Logística ao ponto de se confundirem deixando que todos as vejam como normais e inevitáveis. Porém, se não atacarmos a falta de qualificação, a falta de infraestrutura e os excessos da burocracia, jamais poderemos pensar em uma logística eficientemente competitiva e auxiliadora de processos que resultem em crescimento econômico para o Brasil.

Sabemos que a falta de qualificação não se restringe apenas ao setor logístico, mas é nele que essa deficiência mais impacta, pois de nada adianta investir em outras áreas se os processos destas sempre se afunilarão na Logística.

Para a correção deste ponto, vários outros surgem e necessitam de uma maior atenção. A começar pelos investimentos em educação e incentivos aos professores brasileiros que um último estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em 46 países, apontou que além deles enfrentarem salas cheias e sem condições adequadas para o trabalho, ganham menos da metade da média salarial paga nos demais países trabalhando mais. A média na rede pública brasileira é de US$ 12.337,00 / ano, enquanto nos demais países é de US$ 28.715,00 / ano. O piso salarial de um professor está em R$ 2.135,00, mas em 10 estados brasileiros isso não se cumpre.

A desvalorização do ensino no Brasil passa por várias etapas e se mantém como algo histórico. Enquanto um professor precisa trabalhar mais para complementar sua renda, os alunos têm prejuízos na qualidade do ensino que, inevitavelmente, cai. Sem contar que tal situação afasta as pessoas da profissão e os alunos das salas, pois sem qualidade há o desprezo pela necessidade. É o que revela o mesmo estudo que apontou que 75% dos jovens brasileiros, de 20 a 24 anos, não estudam, enquanto em demais países houve registro de 55,2%.

No universo particular das faculdades o professor ganha mais, mas isso não significa que a qualidade esteja assegurada, pois o cansaço físico se sobrepõe diante das necessidades que muitos têm em ter uma profissão paralela. O nível dos trabalhos apresentados em sala fica muito abaixo da média e isso também pode ser atribuído ao cansaço do aluno e sua pressa em terminar o curso visando sua entrada ou melhoria no Mercado de Trabalho.

O Ministério da Educação afirma que vem investindo e melhorando o ensino médio, mas muitas pesquisas apontam quedas nas posições anteriores em comparação com outros países. A mesma OCDE coloca o Brasil em 60º de 76 países pesquisados em 2015, porém, em 2016, de 64 países pesquisados, o Brasil ocupou o 58º lugar embora as taxas de escolarização e acesso à educação tenham melhorado. O que deduzimos que a baixa qualidade é mesmo responsável pelo ingresso desastroso de muitos “profissionais” despreparados para o mercado e que os discursos insistentes sobre melhorias na educação não conduzem mudanças necessárias e extremamente urgentes.

Como o assunto é muito interessante pela riqueza de informações para a composição de uma linha lógica, continuarei numa segunda – e última – parte.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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