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Conteúdo 20 de março de 2017

Ou o Brasil deixa o “jeitinho” no passado, ou não terá futuro

Historicamente o “jeitinho brasileiro” nos persegue. Se formos mais a fundo, perceberemos que quando D. João II assumiu o trono de Portugal em 1481, 19 anos antes do descobrimento do Brasil, já era espalhada a “triste sementinha” que nos seria apresentada, até de forma cultural, na consolidação da nação.

O mais curioso é que essa “esperteza” nunca funcionou. Pelo contrário, sempre remete a prejuízos. Embora alguns visualize vantagens com a prática do “jeitinho”, nada mais é do que um grande engano enganar os outros.

Para exemplificar isto, mais uma vez cito D. João II que em 1487 convocou uma missão secreta de espionagem com o intuito de dominar o comércio de especiarias através da descoberta do caminho das Índias. Pêro da Covilhã por terra e Bartolomeu Dias por mar, reuniram informações importantes que apontavam o caminho pelo sul. Devido ao jogo de interesses com a Espanha, usou de sua “esperteza gananciosa” para despistar Colombo lançando-o na direção errada após aliança que contemplava as trocas de informações comerciais. Porém, o tiro de despistar os espanhóis saiu pela culatra com o descobrimento da América em 1492 e se ainda estivesse vivo em 1545, morreria de desgosto e com a conquista das minas de prata de Potosí por aqueles a quem tentou enganar – Estes e outros detalhes estão descritos no interessante livro de autoria de Marcos Costa: “A História do Brasil Para Quem Tem Pressa”.

Entendido o que talvez tenha sido a inserção dessa coisa da vantagem a qualquer custo na cultura econômica de nosso país, podemos observar que ainda hoje essas práticas persistem e ganham força para manchar a imagem de um povo onde uma parcela considerável abomina tal estilo e luta, se não para mudar, para conviver com tais mazelas socioeconômicas sem se contaminar.

Imagino o quanto deve ser difícil para essa parcela importante de brasileiros assistir ao que estamos acompanhando nos jornais: falta de ética e de moral na política, quase todos os segmentos econômicos envolvidos com ilicitudes, brasileiros desacreditando no conserto do país já que tudo parece caminhar por meios sub-reptícios.

Operações da Polícia Federal nos colocam bem mais perto de uma realidade que repudiamos. Embora muitos defendam que os interesses políticos e particulares dominaram os interesses públicos, se há motivos para investigar é porque pode haver “gato na tuba”. E vamos vendo, numa comunhão escusa entre empresários e políticos, coisas que beiram a sandice.

Não há como deixar a indignação de lado ao ver uma safra maravilhosa de grãos brasileiros se perder em estradas esburacadas e na insuficiência e ineficiência de armazéns, perdendo valor diante de uma infraestrutura logística bombardeada por corrupções e por falta de interesse político em prestar serviços que realmente interesse a todos. Difícil demais ver a Operação Lava Jato empancada pelo próprio judiciário em sua já conhecida demora demasiada ensinando que é relativo essa coisa do crime não compensar.

É impossível acreditar que alguém queira complicar a imagem de um país perante o mundo todo, no próprio campo em que atua, comprometendo seu já lucrativo comércio em troca de vantagens que lhe deixa suscetível a prejuízos financeiros e de imagem, a não ser que haja uma crença total na impunidade.

A quantos outros escândalos estaremos assistindo até que, de fato, percebamos que essas práticas em nada soma e em muito nos empurra para uma normalidade perigosa que já toma conta de nossa política, de nossa segurança, de nossa saúde e de nosso comércio de uma forma a fazer com que muitos pensem que está tudo bem, tudo legal, e que é assim mesmo… Se desde o início foi assim, como vamos mudar agora?

O tratamento das doenças sociais está no exercício da cidadania, no respeito e na observância de nossas leis que hoje parecem esquecidas no fundo de uma gaveta qualquer. Não há como culpar nossos políticos por aquilo que os ensinamos. Não há como culpar a história que nós mesmos escrevemos. Não há como culpar D. João II que, de acordo com a história, envolvido em assassinatos, traições e intrigas, se desdobrava de maneira ávida na luta pelo poder, mesmo que para consolidá-lo tivesse que sempre dar aquele “jeitinho” para obter pequenas vantagens. Não há como culpar os mortos se o problema agora está com os vivos.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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