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Conteúdo 28 de novembro de 2016

A queda dos investimentos em rodovias

Com um mapa fluvial de causar inveja em muitos países, assim como nossa localização geográfica que favorece o transporte marítimo e uma longa extensão para diminuir custos através do transporte ferroviário, o Brasil é dependente de um modal poluidor, perigoso, caro, insuficiente e caótico, que não só nos tira competitividade como a vida de mais de 44 mil brasileiros por ano e que, mesmo assim, não recebe os investimentos como deveria.

A 20ª edição da pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) sobre as rodovias brasileiras mapeou 103.259 km, 48,8% do total de rodovias asfaltadas. Atualmente são 1.720.756 km de rodovias, mas apenas 12,3% ou 211.468 km são asfaltados. 58,2% dos trechos do estudo apresentam algum tipo de problema da ordem de qualidade do pavimento, da sinalização ou da geometria da via. Problemas relacionados aos buracos considerados críticos representam um aumento médio de 25% nos custos operacionais do transporte, mas podem representar bem mais a depender da região. Os números nos dão a sensação de que continuamos parados no tempo.

Em 2015, as rodovias brasileiras receberam R$ 5,9 bi em investimentos e foram gastos cerca de R$ 56 bi com acidentes. Ano após ano o investimento real diminui: 2011- R$ 11,2 bi; 2012- R$ 9,3 bi; 2013- R$ 8,3 bi; 2014- R$ 9 bi (ano da Copa). Se para adequar a malha rodoviária brasileira para sanar os entraves deveriam ser investidos R$ 292,5 bi, segundo a CNT, estamos bem distantes do ideal.

A situação reflete no bolso e na saúde do usuário, pois o estudo estima que as transportadoras gastem por ano R$ 2,3 bi a mais e, com a queima de mais 700 milhões de litros de diesel além do necessário, o Planeta receba mais 2,07 megatoneladas de CO2.

Analisando os números da gestão pública e gestão concedida, temos 41,8% das rodovias pesquisadas classificadas como ótimas e boas. Os demais trechos são classificados como regulares, ruins ou péssimos:

– Gestão pública: nos 83.223 Km das rodovias federais e estaduais, apenas 5% foram consideradas ótimas, 27,9% boas, 38,2% regulares, 21,1% ruins e as péssimas são 7,8%;

– Gestão concedida: nos 20.036 Km de vias sob concessão, 39% são ótimas, 39,7% são boas, 19,9% regulares; apenas 1,3% são ruins e 0,1% são péssimas.

Impressiona o Brasil ser tão dependente de rodovias e não trabalhar para mudar esse cenário, ou para diminuir entraves ou para fomentar outros modais. Nos Estados Unidos, por exemplo, para cada mil km2 em extensão territorial são 438 km de rodovias asfaltadas, na China são 360 km, no Brasil são apenas 25 km. De 2006 até 2016 a frota cresceu 110,4%, enquanto as rodovias federais se expandiram 11,7%. Amargamos a 111ª posição no ranking sobre qualidade da infraestrutura rodoviária levantada pelo Fórum Econômico Mundial que analisou 138 países.

O governo federal investiu apenas 0,19% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em toda a infraestrutura de transporte no ano de 2015 quando o recomendado aos países em desenvolvimento é de 4%. Temos mais de 1500 obras paradas aguardando que nossa política inerte pare de olhar para o próprio umbigo e perceba que investir em infraestrutura é desenvolver o emprego no país.

Embora a edição anterior desta pesquisa também tenha trazido números altamente desconfortáveis para o setor logístico, sempre temos aquela esperança de que algo melhore e nos dê algum alento em nossa rotina, ao mesmo tempo que tentamos entender como funciona esse descaso, esse desprezo por um setor que, bem sabemos, não deveria ser tão utilizado, como já foi explicado, no entanto, é o que temos para fazer essa gigantesca máquina logística funcionar.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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