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Conteúdo 22 de setembro de 2017

A safra é boa, mas a logística…

Historicamente o Brasil possui sérios problemas acerca da capacidade de armazenagem de suas safras. São problemas registrados em diversos levantamentos, feitos por entidades ligadas às atividades do campo e do comércio, que já faziam parte do cenário da cadeia agrícola há quase trinta anos. Há 22 anos, por exemplo, o país colhia cerca de 73 milhões de toneladas de grãos e em 2016 a safra foi de 184 milhões de toneladas. Para 2017, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), prevê uma safra acima de 225 milhões de toneladas.

Timidamente, o Brasil foi se convencendo da necessidade de proteger sua produção agrícola, a exemplo de outros países, e aos poucos, através de projetos de incentivo à produção, foi deixando de produzir números de importação fazendo com que surgissem novas áreas e novas técnicas de cultivo, principalmente em relação às entressafras, e com o auxílio de estudos climáticos e dos solos, adaptou-se às culturas de forma mais eficiente.

Movidos por um cenário cada vez mais promissor, os produtores levaram o progresso tecnológico ao campo. Muitos dos defensivos agrícolas evoluíram para um maior controle de pragas altamente danosas à produção, as sementes passaram por melhoramentos, enquanto os equipamentos revolucionaram o sistema de colheita ofertando um ganho considerável de produtividade.

Mais rapidez, do plantio à colheita, os produtores contavam com os investimentos em infraestrutura que tornasse o escoamento da produção compatível com a grandiosidade que o campo já representava para o comércio doméstico e, principalmente, para os anseios do comércio internacional.

Contudo, o governo não ofereceu infraestrutura adequada, nem os produtores planejaram eficientemente as operações de escoamento da produção, e o setor hoje sofre com a oferta insuficiente do transporte e com a baixa capacidade de armazenagem que deixa de atender hoje quase um terço do que é colhido.

Nos Estados Unidos, por exemplo, só a produção de soja e de milho está na casa de 500 milhões de toneladas e o país possui capacidade de armazenagem para uma safra e meia. E isso não lhes traz apenas melhores condições para o escoamento, como também mais ganhos no mercado através de grãos que preservam mais a qualidade e de negociações sem que o tempo seja o principal motivo para fechar negócio.

As safras, em sua maioria, recorrem a três tipos de armazenagem: armazéns próprios, com cerca de 15% de capacidade instalada, terceirizados ou privados, que atendem cerca de 60%, e os públicos, cujos números são confusos, pois a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que conta com o cadastro de 17.707 armazéns (graneis, convencionais e frigoríficos) espalhados pelo país, considera-os como sendo sua a capacidade de armazenagem, porém, sabe-se que apenas 2% dos estoques estratégicos desses armazéns estão em terras públicas.

Ainda assim, a estatal divulgou no final de 2016 um leilão de armazéns após uma queda de 54% da procura naquele mesmo ano. A queda se justifica pela dificuldade em administrar 90% das estruturas públicas, segundo especialistas.

Além dos produtores estocarem grãos cobertos com lonas ao lado das rodovias para facilitar o escoamento, a armazenagem volante, aquela feita em caminhões disponibilizados para o transporte que, devido às más condições das rodovias e à espera prolongada para a descarga, também causa perdas e compromete a qualidade devido à fermentação provocada pelas taxas de umidade, pensadas desde a colheita na busca por suportar a conhecida precariedade do sistema. Além de encarecer o frete e provocar escassez de mão-de-obra, a prática congestiona outras etapas do processo de escoamento e afeta diretamente a competitividade dos grãos brasileiros, principalmente nos aspectos de tempo, qualidade e quantidade.

Atualmente, estima-se que o Brasil perca mais de R$ 8 bilhões com problemas no transporte, só da soja e do milho, e quase o dobro disso com os problemas de armazenagem que geram perdas, baixas na qualidade e descontos em contratos.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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