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Conteúdo 8 de maio de 2017

Uma infraestrutura que anda para trás

Dados divulgados recentemente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) levantaram uma preocupação com os investimentos em infraestrutura no Brasil. Não que nosso histórico de investimentos seja algo longe da percepção de precariedade, pois a cada ano os investimentos diminuem enquanto as desconfianças sobre a qualidade deles aumentam. Contudo, a comparação com os investimentos de países parceiros, e não por isso não considerados concorrentes diretos, chama atenção pela discrepância e nos coloca numa situação bem desfavorável.

A China, por exemplo, investe mais de 13% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura, enquanto o Brasil declara investir pouco mais de 2%. Claro que estamos falando de volumes bem diferentes que resultam num PIB seis vezes maior que o nosso, mas não estaria aqui uma parte importante que fez com que a escalada da China a deixasse em segundo lugar na economia global e, mesmo com uma situação difícil para a economia mundial, crescesse 6,7% em 2016?

O Brasil recuou 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, e espera crescer em 2018 o que cresceu em 2014: 0,5%. Embora saibamos que nossas taxas estão mais ligadas às questões de uma crise política e da escalada da corrupção, o que pioram ainda mais nossas perspectivas de competitividade, nossa infraestrutura parou no tempo enquanto o mundo avança.

Porém, nossa infraestrutura não anda para trás só devido aos insuficientes investimentos. O país não diferencia muito essa questão de estar bem ou mal economicamente e investe mal em infraestrutura de qualquer jeito. Claro que os números dos últimos três anos pioram ainda mais a situação, mas dos mais de R$ 14 bilhões “possíveis” investidos em 2016, estão incluídos a corrupção, a falta de qualidade e o que chamamos de diferença entre valor empenhado e valor liquidado, que é o que realmente foi desembolsado do orçamento para aquela obra. Cito o exemplo dos Portos Públicos que de 2000 a 2015 tinham R$ 14,6 bilhões para investir e só utilizaram efetivamente R$ 4,3 bilhões.

Essa e outras situações remetem a uma burocracia absurda, projetos incompletos ou imprecisos, ou barrados sob suspeitas de desvios ou superfaturamentos, ou ainda pela falta de planos e problemas nas licitações.

Nessa conta maldita, os impactos positivos dos investimentos em infraestrutura são praticamente dissolvidos. Embora não necessitemos de muitos números para sentir isso no dia a dia, a CNI utilizou números de 2014, quando ainda tínhamos uma taxa positiva de crescimento do PIB (0,5%), para ilustrar como foram os investimentos em transportes, energia elétrica, saneamento e telecomunicações:

– De cada R$ 100,00 gastos pela União, R$ 7,88 foram considerados investimentos, mas apenas R$ 1,47 foram realmente aplicados nessas linhas de infraestrutura, o que equivaleu a apenas 0,52% do PIB.

Como se não bastasse, os canais de corrupção, amplamente divulgados nas mídias, estão infiltrados nesse setor fazendo com que muitas das intenções de investimentos estejam apenas abrigando sub-repções.

Com isso, não é difícil entendermos de uma forma clara as razões que nos levaram às nossas conhecidas dificuldades de transporte, incluindo o deficiente sistema de escoamento de nossa produção e o transporte público. Enfim, entendemos da forma mais dolorosa os porquês de uma infraestrutura atrasada e ineficiente. Por outro lado, disputas políticas cada vez mais arraigadas na ilicitude e empoderadas com um dinheiro que deveria ser um bem público e que faz muita falta, nos convencem da incapacidade do poder público de reverter a situação.

Não que não haja corrupção pesada nos demais segmentos, mas é na infraestrutura que tudo se concentra, pois ela é a principal ferramenta para o desenvolvimento de todos os outros segmentos, inclusive reflete também na educação e na saúde com a oferta de estruturas físicas.

Os inimigos de nossa infraestrutura são muitos e são fortes. Se não contássemos com a força de um sistema logístico empresarial que faz uso dessa infraestrutura insuficiente de forma inteligente, teríamos um colapso inevitável.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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