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Capa 23 de agosto de 2018

Logística farmacêutica: mercado em constante crescimento exige cada vez mais especialização

A crise econômica não impactou tanto o setor, mas os Operadores Logísticos e as transportadoras foram obrigadas a revisar suas planilhas de custos e a trabalhar uma situação de redução. O lado positivo é que isto selecionou as empresas mais capacitadas e exigiu mais organização delas.

Por envolver itens de primeira necessidade, o setor farmacêutico não foi tão impactado pela crise econômica quanto outros segmentos. A expectativa é que este mercado cresça entre 8% e 9% neste e no próximo ano, de acordo com análise feita durante evento organizado pelo Sindusfarma – Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo, em junho último.
Nesta edição especial de Logweb, ouvimos diversos elos da cadeia logística farmacêutica, apresentando uma análise completa deste mercado no Brasil, país que ocupa o oitavo lugar no ranking mundial, e pode chegar à quinta posição em 2021, segundo o Guia 2017, publicado pela Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa.
Para esta matéria de abertura, entrevistamos Operadores Logísticos e transportadoras, que avaliam a logística do setor, as tendências e os desafios, entre outros assuntos.

Situação atual
Mesmo não identificando uma mudança significativa no volume deste segmento devido à crise, Valmir Souza de Almeida, diretor de transporte Brasil da Solistica (Fone: 11 2739.5001), nova marca da FEMSA Logística, observa que houve um forte achatamento das margens no setor, assim como no mercado de logística de forma geral.
“Neste momento de crise, obviamente, as empresas foram obrigadas a revisar suas planilhas de custos e a trabalhar uma situação de redução. A cadeia logística sofreu bastante e, por muitas vezes, teve de ceder”, lamenta.
Agora, depois de dois anos de crise mais acentuada, Valmir observa que o mercado retorna ao crescimento, e a logística está buscando uma recomposição de preços, até porque as empresas não têm mais margem para continuar da forma como estavam. “Grande parte do foco do segmento logístico como um todo está em busca de recomposição de margem. Não basta apenas ter carga para transportar, é preciso que o processo seja saudável”, salienta.
Na análise de Giuseppe Lumare Júnior, diretor comercial da Braspress Transportes Urgentes (Fone: 11 2188.9000), como o setor tem grande complexidade e muitas exigências, há poucas opções de transporte, o que reduz a concorrência e tende a encarecer os fretes. “Nesse sentido, a crise pode ter tido um efeito positivo, na medida em que promoveu certa atração pelo segmento. É o caso da Braspress, que há três anos decidiu investir no transporte farmacêutico e, em pouco tempo, passou a contar com algumas grandes contas, tendo perspectivas excelentes de crescimento”, expõe.
Segundo Mayuli Fonseca, especialista em Supply Chain e diretora de novos negócios da UniHealth Logística Hospitalar (Fone: 11 3555.5800), nos últimos anos houve uma migração de clientes entre grandes Operadores Logísticos, entrada de operadores menores no segmento de saúde e, inclusive, a internalização da operação por grandes empresas, situação que era impensável antes da crise. “Essa migração se deu pela necessidade de aumento dos níveis de serviço paralelamente com as reduções de custos de operação logística. Como resultado desses movimentos, a logística no segmento farmacêutico sofreu uma grande comoditização dos serviços e reduziu significativamente a margens dos Operadores Logísticos”, analisa.
Fernando Lopes, diretor comercial da Trans War Transportes (Fone: 19 2101.0604), também diz que foram sentidas a retração e as ações das indústrias se reorganizando, buscando oportunidades de melhoria, redução de custos, revisão de processos e outras ações que, inevitavelmente, atingiram toda a cadeia logística.
“Isso fez com que nós nos organizássemos, e acredito que todas as outras empresas também. Se há um lado positivo na crise, talvez seja esse. Agora estamos melhores, aguardando só a retomada que, aos poucos, já está acontecendo, apesar de tudo o que já ocorreu este ano e o que ainda está por vir”, conta.
Por sua vez, Mariana Nascimento, gerente comercial da D&Y Transportes e Logística (Fone: 27 3067.9990), analisa que com a popularização dos medicamentos genéricos e a expiração de patentes, o mercado está cada vez mais exigente no sentido de repor um portfólio somado à pressão intensa na formação de preços no setor. “Isso impacta toda a cadeia de Supply Chain, sobretudo o transporte, que é o braço logístico com maior tensão em todo o processo, haja vista que requer um alto nível na prestação de serviços, considerando que ainda existem restrições específicas na movimentação dos produtos e na execução do transporte”, expõe.

Tendências
O mercado farmacêutico, independentemente do cenário econômico, apresenta tendência crescente em unidades e valores. Segundo Davilson de Almeida, diretor de Relações Institucionais da Ativa Logística (Fone: 11 2902.5000), entre os pontos marcantes para esse êxito estão as novas patentes, o lançamento de produtos inovadores, a popularização dos medicamentos genéricos e a expiração de patentes, que impulsionam um cenário competitivo.
“O segmento farmacêutico busca novas formas de eficiência em toda a cadeia. Desta forma, o Operador Logístico assume um papel importante para atender todas as demandas do setor, que tem exigências próprias e requer alto nível de serviço”, destaca.
Este setor do mercado logístico está passando por profundas mudanças e continua crescendo, lançando novos desafios aos operadores e ao mercado como um todo. É o que afirma Arlete Gago, gerente regional para Latino-América de desenvolvimento de negócios da área de soluções de gerenciamento de temperatura da DHL Global Forwarding (Fone: 11 5042.5500).
De acordo com ela, este contexto tem sido pressionado por diversos fatores, dos quais é possível destacar uma condição emergente e algumas macrotendências. “O aquecimento global e as mudanças climáticas estão causando condições de transporte cada vez mais extremas, difíceis de prever e que aumentam o risco na cadeia do frio como um todo. As macrotendências são as seguintes: a globalização, que impõe distâncias cada vez maiores entre consumidores e produtores; o aumento da volatilidade social e de mercado; o avanço da tecnologia; e o surgimento do big data, ou seja, o uso de dados para desenvolver uma logística preventiva.”
Marcos Cerqueira, vice-presidente de Life Sciences & Healthcare da DHL Supply Chain Brasil (Fone: 19 3206.2200), diz que para acompanhar o desenvolvimento do mercado, a cadeia logística farmacêutica terá de continuar a inovar. “Um primeiro grande desafio é a questão da rastreabilidade que, cedo ou tarde, irá chegar. Modelos que atendem adequadamente e com eficiência os medicamentos biológicos também são outra tendência. A solução é a especialização dos Operadores Logísticos”, salienta.
Para Luiz Eduardo de Souza Pimenta, diretor executivo da EMF Logística (Fone: 31 2572.7520), as tendências atuais no mercado em geral são investir em equipamentos com alta performance e, consequentemente, na gestão, para redução de despesas, otimizando o máximo possível as operações, fazendo sempre mais com menos.
Valmir, da Solistica, comenta que é muito complexo e oneroso para os Operadores Logísticos conseguir atender de maneira uniforme todas as demandas e características específicas do segmento de logística farmacêutica, como as exigências e regras das companhias que fazem o seguro e as normas da Anvisa para transporte e armazenamento de medicamentos.
“Dá para perceber nitidamente esta depuração do mercado no segmento de logística farmacêutica. Os embarcadores estão vendo que a melhor alternativa são empresas com soluções mais completas e que atendam com maior tranquilidade todas as regras do processo”, expõe.
A tendência, para Newton Cesar Tosim, gerente comercial da TSV Transportes (Fone: 11 2954.7778), é de, por alguns anos, ainda perdurarem poucos prestadores de serviços qualificados para atender a este segmento, até que haja um reestabelecimento econômico para os investimentos necessários e adequações de estrutura operacional.
Já Rodrigo Rocha, gerente comercial e marketing da Wilson Sons Logística (Fone: 11 4976.9688), percebeu, nos últimos anos, um crescimento na demanda por câmara fria – em nível estrutural – e também por pessoas especializadas.

Diferenciais
O maior diferencial entre a logística deste segmento e dos demais é a regulação, como destaca Wanderley Soares, diretor da Unicargo Transportes Urgentes (Fone: 11 2413.1700). “A Anvisa, cada vez mais, exerce seu papel regulador, garantindo a integridade dos materiais, na sua produção, armazenagem e distribuição até o ponto de uso ou venda ao consumidor final. Questões como temperatura, umidade e impacto ao manusear requerem total atenção por parte do Operador Logístico e do transportador.”
Outro fator importante que difere o setor dos outros, ainda de acordo com Soares, é a necessidade de reduzir estoques, seja na indústria, no distribuidor ou no ponto de venda. “Tal necessidade impulsiona o uso do modal aéreo, responsável por oferecer menores prazos de entrega, além de garantir a regulação eficiente para o transporte de termolábeis”, acrescenta.
Quem fala do modal aéreo também é Eduardo Calderon, diretor de cargas da Gollog (Fone: 0300 1 465564). “Carregamos produtos perecíveis farmacêuticos, que precisam ser mantidos em temperaturas muito baixas. Pelo modal rodoviário acaba saindo muito caro, pois precisaria de um caminhão frigorificado para fazer uma rota de São Paulo para o Nordeste, por exemplo. Nessas ocasiões, o transporte aéreo é perfeito, pela flexibilidade, e, dependendo do produto, pela segurança”, expõe.
Calderon salienta que o transporte aéreo farmacêutico é muito importante considerando a perecibilidade do material. “Como o produto tem pouca vida útil, o aéreo possibilita transportá-lo com mais rapidez. Vale lembrar que a indústria farmacêutica é um dos principais usuários do modal, não só no Brasil, como no mundo todo”, salienta.
Já Lumare Júnior, da Braspress, diz que além da necessidade da gestão do tempo, o segmento farmacêutico se caracteriza por requerer cuidados especiais no trato das cargas. “Quer dizer, o transporte é marcado pelo conceito da ‘intocabilidade’, ou seja, é preciso preparar as cargas e cuidar para que não sofram afetações durante o transporte, o que se justifica como fator de garantia de que o consumidor final terá produtos que cumpram sua função.”
Mariana, da D&Y, acrescenta como diferencial do setor o fato de não haver sazonalidade. “Trata-se de um mercado com fluxo perene ou com raros picos de produção, o que garante uma produtividade contínua, embora traga grandes desafios para a logística, pois há crescimento vertiginoso dos SKUs e a necessidade de alto investimento em tecnologia embarcada e controles de qualidade”, opina.
O mais importante, para Arlete, da DHL Global Forwarding, é olhar antecipadamente para todas as fases envolvidas. “Em outras palavras, não podemos ver o transporte da cadeia do frio como um mero frete: trata-se de um projeto completo”, considera.
Responsável técnico do segmento que garanta toda a integridade do produto quando já expedido pela indústria; ambiente de movimentação e armazenagem altamente complexo; e dificuldade no equilíbrio das operações (fragilidade + perecível + alta performance + rastreabilidade + gerenciamento de risco + formação de preços) foram os diferenciais citados por Tosim, da TSV.
De fato, o segmento healthcare é muito sensível, não apenas pelo alto valor agregado das cargas, mas também pelo atendimento ao serviço de saúde, portanto, Cássia Fernandes, gerente de vendas para o segmento farmacêutico da Panalpina Brasil (Fone: 11 2165.5500), acredita que é de suma importância a confiança nos parceiros logísticos nesta área.
Ela diz que as exigências da indústria vão desde certificações próprias, como GDP – Good Distribution Practices e CEIV Pharma – Centre of Excellence for Independent Validators a um atendimento especializado.
Além dos fatores citados acima, Valmir, da Solistica, aponta a necessidade de veículos adaptados à situação das estradas brasileiras. A empresa, por exemplo, tem investido em veículos com suspensão pneumática para diminuir ainda mais o impacto que o atrito com o solo pode causar na carga, evitando avarias.
“Isso é importante porque, hoje, os grandes distribuidores recusam as embalagens que apresentam qualquer avaria. E essa recusa gera retrabalho e desabastecimento na cadeia. Ou seja, o prestador de serviços precisa ser uma empresa com um excelente preparo”, afirma.
Valmir diz, ainda, que os armazéns precisam atender às necessidades específicas para a operação de medicamentos, como o controle de pragas e toda a regularização da Anvisa. “Enfim, a empresa deve estar altamente atualizada com as melhores práticas existentes”, resume.

Exigências
Além da regulamentação exigida perante os órgãos competentes, como Anvisa e Vigilância Sanitária Municipal, a empresa deve satisfazer as exigências dos clientes através de um sistema de monitoramento e rastreamento altamente eficaz, frota diversificada e adequada para atender às diversas situações, armazéns com infraestrutura adequada às necessidades das operações logísticas e profissionais qualificados. “A relação custo x qualidade e a eficiência da cadeia de fornecimento são importantes para garantir o sucesso da empresa como OL e transportadora”, comenta Davilson, da Ativa.
Concorda com ele Soares, da Unicargo, para quem o momento é de racionalização. Segundo ele, o embarcador satisfeito é o que conta com um fornecedor flexível, que valorize suas experiências e de seus clientes. “Inovar, utilizando sistemas integrados de informação, garantindo acompanhamento real das etapas do transporte, é sua principal exigência. Preço e qualidade são commodities. O que realmente o embarcador deseja é satisfazer as necessidades intangíveis do seu negócio, através da satisfação dos seus funcionários e de seus clientes e parceiros”, expõe.
Tosim, da TSV, diz que os principais indicadores cobrados são prazos de entrega e integridade do produto até o consumidor final. No entanto, há grandes problemas que envolvem atender esses requisitos.
Ele explica que há locais de entrega que demandam operação especial, como regiões fluviais, que necessitam de transporte via embarcações. “No entanto, elas não possuem as mínimas condições exigidas pelo segmento. Essa falta de estrutura, que seria governamental, é atribuída ao transportador, que assume toda a responsabilidade em caso de possíveis desvios na operação”, observa.
Outro fator destacado, ainda segundo Tosim, é a falta de capacidade de recebimento por parte dos grandes distribuidores, cujo volume de compras é superior à capacidade operacional de recebimento, obrigando os transportadores a enfrentarem longas horas de espera para descarga. “Os transportadores, por sua vez, são cobrados acirradamente pelo OL, que assume, perante a indústria, indicadores de performance que fogem totalmente da realidade atual, fazendo com que o transportador arque com altos custos nas operações, o que não é levado em conta pelo OL.”
Mayuli, da UniHealth, resume as exigências dos embarcadores do segmento com relação aos OLs e às transportadoras em qualidade na armazenagem, rapidez na expedição, acuracidade nos estoques, flexibilidade nas operações, altos níveis de serviço e baixos custos operacionais.

Relação conflituosa?
Em se tratando dos desafios e dos conflitos no relacionamento entre embarcadores e prestadores de serviços de transporte e armazenagem, Mariana, da D&Y, diz que o principal é a defasagem no valor das operações, pois os custos de transportes vêm crescendo desordenadamente, e a necessidade de garantir aos embarcadores serviços de alto nível com investimentos compatíveis, embora necessários, agride muito a rentabilidade do negócio. “Por um lado temos inúmeras oportunidades na ampliação do portfólio de embarcadores, mas também temos visto que os BID’s estão defasados com relação à nova tabela de fretes regulada pela ANTT. A expectativa é que tenhamos um reflexo positivo já a partir deste segundo semestre de 2018”, conta.
Arlete, da DHL Global Forwarding, entende que ainda prevalece uma subvalorização da importância da mitigação de riscos neste setor. Hoje, o transporte de produtos farmacêuticos, com cadeia fria, transcende o transporte físico de um ponto A a um ponto B. “As necessidades das indústrias excedem o que chamamos de básico para garantir as boas práticas de distribuição. Esse novo perfil requer um trabalho de preparação sustentável, profissionais alinhados com os conhecimentos requeridos para satisfazer a demanda; e um processo de monitoramento e visibilidade da cadeia de transporte que garanta as condições necessárias para provar a integridade e a qualidade dos produtos, conforme os requerimentos regulatórios”, expõe.
Cerqueira, da DHL Supply Chain Brasil, acredita que o fluxo de informação entre as partes ainda pode melhorar muito. Tanto no dia a dia, em relação aos documentos e dados necessários para o transporte dos medicamentos, como referente ao projeto como um todo. “Neste último caso, estamos falando em tratar o transporte de medicamentos como um verdadeiro projeto contínuo, que demanda um olhar mais aprofundado e amplo. Com essa abordagem, se aprimora a confiabilidade da cadeia logística e se captura mais sinergias e oportunidades de redução de custo”, declara.
Os desafios são diversos, segundo Pimenta, da EMF. Entre eles estão os custos operacionais altíssimos e os fretes baixos. Normalmente os conflitos são em relação ao cumprimento de agendas e à não fidelização devido ao trabalho de qualidade executado. Segundo ele, os embarcadores visam mais os custos do que propriamente a qualidade, gerando, assim, insatisfação. “Isso ocorre em razão da grande concorrência desleal do mercado. A única solução, no meu ponto de vista, é a fidelização através de contratos e a ação dos poderes públicos no que tange às tabelas de preços mínimos praticadas atualmente e também pelo fato de as agências regulatórias exigirem mais qualidades dos embarcadores”, declara.
Na opinião de Soares, da Unicargo, as diferentes leis e regulamentos em cada município, bem como nas regiões consideradas “zonas francas”, causam conflitos de interpretação, pois, em muitos casos, impactam diretamente o tempo de entrega contratual, elevando o nível de estresse. “A solução seria a convergência de leis e regulamentações melhor elaboradas, através de processos racionais.”
Lumare Júnior, da Braspress, diz que é evidente que o segmento farmacêutico tem grande poder de negociação, mas, por outro lado, essa força não pode ser exercida como pressão em sentido absoluto, pois a capacitação técnica exigida dos transportadores não recomenda que os laboratórios forcem a mão na redução das tarifas a ponto de comprometerem a qualidade dos serviços.
“É claro que há, por parte de muitos laboratórios, tentativas de ‘achatamento’ tarifário, o que em um mercado livre é algo legítimo, mas a própria realidade de custos e as largas exigências para o transporte de fármacos reduz muito essa possibilidade. A questão da qualificação técnica sempre entra com primeiro critério de negociação, colocando a negociação de preços em posição secundária, o que não quer dizer que não exista uma grande concorrência pelos transportes, mas apenas que os transportadores não podem fazer concessões sem base”, comenta.
Segundo a experiência da UniHealth, Mayuli conta que os principais desafios entre embarcadores e prestadores são causados por desalinhamento de expectativas e flexibilidade operacional.
Ela explica que o desalinhamento de expectativas vem, muitas vezes, de acordos com níveis de serviço que não refletem a necessidade do embarcador, ou seja, são contratados serviços que não têm como base a necessidade operacional do cliente, levando em conta especificidades operacionais, comerciais ou financeiras.
“Por outro lado, a falta de flexibilidade de OLs, ainda muito amarrados a processos manuais, e com capacidade de produção calculada pela média, causa gargalos e quedas de qualidade operacional sempre que existe algum fato, novo ou não, que exige mais capacidade ou flexibilidade desse operador, como, por exemplo, o acúmulo de vendas no final do mês, muito usual na indústria farmacêutica”, explica Mayuli.
Para a diretora de novos negócios da UniHealth, esses dois fatores são constantes motivos de descontentamento e custos elevados tanto para embarcadores quanto para OLs. Melhores contratos com níveis de serviço melhor ajustados, planejamento conjunto da cadeia de abastecimento com troca de informação mais efetiva e operações logísticas mais automatizadas são possíveis soluções para tais conflitos.
“Infelizmente problemas e conflitos inevitavelmente acabam ocorrendo ao longo do tempo, e por motivos diversos. Uma palavra ou um e-mail mal interpretado é suficiente. Importante mesmo é como lidamos com eles e, para nós, toda e qualquer relação deve estar pautada em diálogo, transparência, confiança, compromisso, responsabilidade e proatividade. O maior desafio é estabelecer essa relação”, expõe Lopes, da Trans War.
No desafio de superação entre embarcadores e prestadores de serviços, Davilson, da Ativa, inclui mais uma variável: o destinatário. “Consideramos que a relação entre os embarcadores e os prestadores de serviços é esclarecida e ajustada no momento dos acordos comerciais, onde são contemplados os valores dos serviços, prazos e locais de entregas, áreas de atuação, etc.”
Conforme analisa, o mercado farmacêutico tem grande concentração em grandes players, como distribuidores e redes de farmácias, e, por sua vez, cada um com seu formato e política de recebimento. “O objetivo dos embarcadores e prestadores de serviços é chegar a um consenso ideal e estruturar um protocolo de padronização de política de recebimento, com o ‘aceite’ dos distribuidores e redes de farmácias.”
Segundo a experiência de Calderon, da Gollog, não há conflitos, pois os agentes de carga especializada entregam à transportadora a carga preparada e acondicionada, geralmente em isopor com gelo, de forma que consiga chegar ao seu destino dentro do prazo estabelecido, com a temperatura adequada. “Quando se tem um problema, como parada para abastecer a aeronave ou cancelamento de voo, os agentes de carga vão até o terminal, retiram a carga, a reprocessam (trocam o gelo) e a levam novamente para o embarque. “Temos uma proximidade muito grande com esses agentes”, garante.

Maiores desafios
Os maiores desafios logísticos para a cadeia de frios ou cargas sensíveis, atualmente, estão relacionados à falta de infraestrutura aeroportuária e rodoviária do país, de acordo com Cássia, da Panalpina. Outros fatores impactantes, em sua opinião, são a falta de acesso à carga pelos Operadores Logísticos, em diversos pontos, e a carência de qualificação de profissionais.
Já Rocha, da Wilson Sons, cita as operações de armazenamento, que exigem cuidados especiais. “Com normas de segurança muito rígidas, os terminais precisam ter todas as licenças da Anvisa e seguir as boas práticas para armazenagem e distribuição desta classificação de produto”, expõe.
Ele diz que outro aspecto importante dessa cadeia é a logística reversa. “Se houver necessidade de devolução de um produto, isso também é do escopo do trabalho do OL – e o serviço deve ser feito com o mesmo rigor da entrega.”
São várias as barreiras de entrada no segmento, conta Mayuli, da UniHealth, envolvendo altos investimentos iniciais em infraestrutura específica e sistemas de controle robustos para conseguir as certificações necessárias para operar, alta concorrência com grandes empresas internacionais competindo no mercado, exigência de altos níveis de serviço pelos embarcadores do segmento farmacêutico e, finalmente, margens apertadas que exigem muita eficiência operacional para reduzir custos.
Como a operação logística para o mercado farmacêutico tem como premissa as “boas práticas de qualidade”, principalmente com a segurança e a qualidade dos produtos, Davilson, da Ativa, considera que um dos maiores desafios dos OLs é acompanhar as atualizações das normas e exigências determinadas pelos órgãos oficiais do setor.
De fato, o amplo arcabouço legal e regulatório do setor é um desafio, também para Cerqueira, da DHL Supply Chain Brasil. “A Anvisa dispõe de uma série de regras que devem ser cumpridas, além das burocracias de reporte de informação. A garantia do controle de temperatura também é uma questão fundamental. Fora isso, a infraestrutura insuficiente no Brasil é um fator que afeta o mercado logístico como um todo”, opina.
Por todas as particularidades envolvidas, fica evidente que o transporte de fármacos exige investimentos contínuos, havendo uma tendência de que isso se acirre ainda mais, expõe Lumare Júnior, da Braspress. “É claro, portanto, que essa necessidade de investimento intensivo vai restringir a oferta de transporte, provocando um efeito duplo. De um lado, o segmento acaba por induzir a especialização, o que ajuda na capacitação técnica e faz com que os fretes sejam mais caros, o que indiretamente não ajuda o segmento. Por outro lado, os fretes mais altos atraem alguns novos concorrentes, não necessariamente focados na exclusividade no transporte de fármacos, mas com capacidade de se especializarem através de divisões operativas, com a vantagem de oferecerem o mesmo grau de especialização, sem ficarem totalmente dependentes das receitas do transporte farmacêutico. Acredito que o mercado será muito influenciado por esses novos ‘entrantes’, o que ajudará no equilíbrio entre oferta e demanda. Falo isto porque está é a estratégia da Braspress”, revela.
Já Tosim, da TSV Transportes, acredita que os principais desafios logísticos enfrentados para se operar neste segmento são os investimentos em estruturas e evoluções tecnológicas constantes que possibilitem maior agilidade, produtividade e eficácia em toda cadeia logística.
A integridade dos produtos na entrega é o maior desafio do segmento, tão exigente com a qualidade e rigorosamente fiscalizado pelos órgãos reguladores. É o que expõe Soares, da Unicargo. “Minimizar os índices de avarias é fundamental para a satisfação do cliente final. Dependendo do tipo de embalagem utilizada pelo embarcador, é necessária uma maneira diferente de manuseio e alocação nos veículos e, principalmente, nas aeronaves regulares. Muitas vezes, para garantir a plena segurança, utilizamos embalagens especiais próprias e retornáveis, sem onerar os fretes”, conta.
Valmir, da Solistica, por sua vez, toca no assunto segurança. “Essa carga ainda é muito visada para roubos. Exige todo um preparo dos veículos, com várias capacidades e tecnologia embarcada para chegar sem desvios”, salienta.
Outro ponto citado são as restrições impostas pelos distribuidores, que precisam receber de um jeito específico. Cada um possuí uma característica e, portanto, devido às exigências, há necessidade de customização. Com isso, os desafios são grandes: carga de trabalho bem maior e margem reduzida, entre outros. “É um segmento que demanda um trabalho específico junto ao destinatário. É quase como se tivéssemos dois clientes: o que envia e o que recebe”, finaliza.

Principais diferenciais do OL no segmento farmacêutico
• Prestações de serviços mais sofisticadas;
• Alto nível de excelência para conseguir as licenças nesse segmento;
• Farmacêuticos responsáveis pela implementação e treinamento/supervisão das boas práticas de qualidade;
• Logística apurada e infraestrutura de ponta;
• Sinergia em tecnologias com a indústria farmacêutica;
• Padrões superiores de controle operacional;
• Sistemas de última geração, como WMS/ERP;
• Agilidade na customização e interfaces de processos;
• Precisão na armazenagem de medicamentos;
• Inspeções rigorosas para adquirir licenças de órgãos, como Anvisa, Vigilância Sanitária Municipal, Exército, Polícia Civil do Estado de São Paulo, Polícia Federal, Cetesb e Ibama, entre outras.
Fonte: Davilson de Almeida, diretor de Relações Institucionais da Ativa Logística

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