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Especial 24 de abril de 2019

Logística florestal: Uma integração entre a produção florestal e a distribuição do produto final

É possível chamar de logística florestal o conjunto de sistemas logísticos que compõem a cadeia produtiva florestal: logística de abastecimento ou inbound; logística de produção, interna ou industrial; e logística de distribuição ou outbound.

 

O setor florestal brasileiro está fortemente focado na produção de produtos originários de plantios florestais de basicamente dois gêneros: Pinus spp. e Eucalyptus spp. Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores, responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas no Brasil, a área de árvores plantadas para fins industriais no país totalizou 7,84 milhões de hectares em 2018, sendo responsável por 90% da utilização para fins industriais. Deste total, 5,84 milhões de hectares são ocupados por plantios de eucalipto, localizados principalmente nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, enquanto os plantios de pinus ocupam 1,6 milhões de hectares, concentrando-se, principalmente, nos estados do Paraná e Santa Catarina.

Do ponto de vista econômico, o setor de florestas plantadas tem crescido a cada ano, sendo responsável por 1,1% de toda a riqueza gerada no País e cerca de 6,2% do PIB industrial. Além disso, a indústria de árvores plantadas é responsável pela geração de R$ 11,4 bilhões em tributos federais, estaduais e municipais, correspondendo a 0,9% de toda a arrecadação do País. Mesmo com o país passando por uma situação econômica complicada, a indústria de base florestal fechou 2017 com superávit de US$ 9 bilhões, ou seja, cresceu cerca de 15% em relação a 2016.

“Os produtos gerados pelo setor de florestas plantadas representam quase 4% do total das exportações brasileiras, o que mostra a importância das operações de logística outbound para o desempenho do setor”, comenta o professor-doutor Renato Robert, coordenador do Laboratório de Abastecimento e Mecanização da Universidade Federal do Paraná (Fone: 41 3360.4273). Renato possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (1999), mestrado em Sustainable Forestry And Land Use Management pela Albert-Ludwigs Universität Freiburg Alemanha (2004) e doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (2013). Atualmente é professor naquela Universidade e coordena o curso a distância de Logística Florestal e o MBA em Gestão Avançada em Logística Florestal a ser lançado em 2020.

Ainda segundo o professor-doutor, as produtividades alcançadas pelas florestas plantadas brasileiras alcançam índices muito altos quando comparados com os de outros países. O rápido crescimento das árvores no Brasil implica em um grande volume de toras e biomassa que deve ser aproveitado ao máximo a partir da otimização das operações logísticas.

“A importância da logística no setor vem sendo evidenciada a partir de uma análise simples acerca da estrutura administrativa das grandes empresas do setor: até pouco tempo atrás, estas empresas não possuíam um departamento ou gerência específica de logística e, atualmente, esses setores especializados de gestão logística das empresas, em alguns casos, vêm incorporando até mesmo a área de colheita de madeira, mostrando, assim, uma visão mais ampla do conceito de logística na cadeia produtiva, pois a colheita é fundamental para o planejamento e a execução do transporte.”

 

Operação

Em relação a como é a operação neste setor, Renato diz que, basicamente, é possível chamar de logística florestal o conjunto de sistemas logísticos que compõem a cadeia produtiva florestal: logística de abastecimento ou inbound; logística de produção, interna ou industrial; e logística de distribuição ou outbound.

“As operações são mais complexas e envolvem muitas operações na fase de abastecimento, uma vez que a carga transportada se encontra na forma de toras de madeira e cavacos, na sua grande maioria. Já a logística interna é muito dependente da natureza do produto que será obtido após o processo de industrialização e pode ter características que envolvem enorme quantidade de matéria prima com pouca diversidade até pouca quantidade com alta diversidade de matéria prima – sortimentos de madeira.”

A natureza do produto a ser manufaturado influencia muito o tempo de estocagem em campo ou nos pátios das indústrias, uma vez que a madeira pode ser suscetível a danos devido a pragas, tensões de crescimento e outros. “Eu diria que esta é uma das razões em que saber e ter experiência de trabalho com madeira e suas especificidades garante um bom perfil profissional exigido para a área de logística florestal.”

 

Diferenciais

Com relação aos diferenciais da logística no setor florestal, o professor-doutor diz que o grande diferencial está na movimentação, na característica e na medição da madeira.

Diferentemente de outros produtos, a madeira necessita de métodos específicos de medição de suas dimensões, sejam estas feitas em madeira roliça (toras), cavacos, madeira serrada, lâminas, painéis, etc. Uma floresta é quase sempre inventariada e medida em volume de madeira presente na mesma, enquanto que, após passar pelas transformações a partir da derrubada das árvores, este volume deve ser transformado em peso ou massa devido à exigência legal dos pesos das cargas a serem transportadas, ou seja, o transporte a partir da carga máxima permitida a ser transportada é um grande balizador dentro deste processo.

“Fica, portanto, dentro deste processo um grande desafio que consiste na determinação com acurácia do fator de transformação do volume das florestas obtido em metros cúbicos para quilogramas ou toneladas, uma vez que a relação água-madeira é uma questão de grande complexidade. Como consequência, é comum ouvir que nas operações de transporte de madeira se paga, além da madeira, a água que vem transportada junto com ela. Como exemplo eu diria que devem ser analisados com mais detalhes os modelos de tarifa em reais por tonelada e reais por viagem, em que são expostas frequentemente a variações de produtividade, mas não de caixa de carga, o que traz um menor risco em relação aos modelos de tarifa em reais por tonelada e reais por metro cúbico, que são mais focados na acurácia e na qualidade das operações logísticas envolvidas no processo.”

Além destes detalhes – continua Renato – alguns cases logísticos do setor envolvem a operação com diferentes modais de transporte, como é o caso do recebimento e expedição dos produtos para a fábrica da Suzano em Aracruz, no Espírito Santo. A madeira chega por trem, caminhões e por barcaças pelo mar e é a partir dali exportada pelo Portocell, que é dedicado a estas operações. A cabotagem de produtos manufaturados também é um exemplo interessante em alguns casos onde existe uma longa distância entre o local de produção e o destino do produto e o tempo de entrega do produto não é tão apertado.

Além disso, realizar o corte e a extração de madeira e o carregamento e descarregamento exige muita perícia e destreza dos operadores de máquinas que realizam estas operações, sendo, portanto, necessários o treinamento e a capacitação desta mão de obra.

 

Problemas

Renato também fala sobre os problemas enfrentados na logística neste setor, e como poderiam ser solucionados.

Um dos problemas da logística de abastecimento de madeira é relacionado à questão da localização dos plantios florestais. Devido a fatores de valorização dos terrenos destinados a culturas agrícolas, muitas empresas florestais optam por realizar seus plantios em áreas onde a topografia do terreno não é agricultável, mas, sim, possível de ser plantada com espécies florestais. Nestes casos, as declividades dos terrenos podem chegar até 37 graus, o que implica em dizer que as estradas para escoar a produção destes locais possuem maiores declividades e mais curvas, necessitando de mais manutenção e, consequentemente, menor velocidade dos veículos. Além disso, a complexidade da colheita de madeira é maior devido a particularidades do terreno e à necessidade de segurança máxima nas operações.

“De modo geral, a infraestrutura das estradas que escoam a produção dos produtos florestais, seja de florestas plantadas ou de nativas, carece de uma atenção mais especial devido à premissa de que onde há floresta há chuva, ou seja, o desafio aumenta para realizar o transporte de produtos florestais em estradas não pavimentadas em áreas úmidas e muitas vezes com declividade e muitas curvas.”

A solução – segundo o professor-doutor – estaria dentro de uma política de entendimento, por parte dos stakeholders no transporte florestal, baseada no conceito de que os valores e a força de trabalho dispensada nas ações de melhoria em estradas florestais não se tratam de custos e, sim, de investimentos, uma vez que o horizonte de resposta dado por estas ações é de longo prazo.

Por outro lado, o setor florestal deve estar atento à logística outbound para que um comportamento similar ao que ocorre com as commodities agrícolas não ocorra com os produtos florestais, citando como exemplo os fretes de retorno com origem no Estado do Mato Grosso, que hoje possuem valores muito altos devido à grande oferta destas commodities.

Para os produtos florestais de planos de manejo florestal sustentáveis, o grande desafio está em buscar um mercado que absorva a produção a preços justos, uma vez que a competitividade dos produtos legalizados tem uma concorrência muito forte no que se refere a preços com a de produtos provenientes de áreas de desmatamento.

 

Novidades

Renato também destaca que são muitas as novidades na logística neste segmento. A iniciar pela adoção do termo Logística Florestal 4.0 com mais frequência, mesmo que ainda em processo de consolidação.

“A Logística Florestal 4.0 pode ser definida como a reestruturação dos processos e atividades logísticas que ocorrem nas operações florestais, adaptando-os à tecnologia digital e de automação. Estas tecnologias são promovidas pela transformação nos modelos de negócios em geral, por meio da adoção de cloud computing; big data; internet das coisas; telemetria; inteligência artificial; digital twin; machine learning e outras tecnologias voltadas à conectividade e ao uso inteligente e preditivo da informação.”

O uso de telemetria e os dados obtidos com esta tecnologia, aliados a processos de gestão de pessoas, também são características deste setor, uma vez que diferentemente de outros setores, a indústria florestal possui um rigoroso sistema de certificação de suas atividades, a conhecida certificação florestal.

“Posso citar aqui uma situação bastante comum observada no transporte de toras de madeira. Devido ao porte e pesos dos veículos de transporte e das condições das estradas ao trafegar em determinados locais, a geração de poeira pelos veículos é bastante grande. Essa poeira pode gerar problemas para as comunidades vizinhas à operação de transporte. Os dados de telemetria e rastreabilidade podem gerar informações sobre a velocidade em que veículos passaram em locais onde se deve reduzir a velocidade devido à geração de poeira e, uma vez detectadas as irregularidades de condução por parte de motoristas, as ações de gestão podem ser realizadas, como reciclagem e palestras de conscientização dos motoristas”, explica Renato.

Além disso, existem cabines móveis que permitem o carregamento do veículo sem que o motorista saia do mesmo e o uso de tecnologias, como gruas operadas por realidade virtual, como a Hivision. Ela consiste em um sistema baseado nos recentes avanços dos óculos de realidade virtual, câmeras e conectividade, permitindo que o usuário possa operar uma grua florestal de dentro da cabine do caminhão.

“Eu também citaria como novidade o interesse demonstrado por grande parte de profissionais do setor florestal que estão cada vez mais buscando aperfeiçoamento nesta área”, finaliza Renato.

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