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Logística Setorial 26 de julho de 2017

Produtos farmacêuticos requerem licenças específicas e controle rígido em todas as etapas

Para atuar no setor, as empresas de logística precisam ter farmacêuticos treinados, sistemas de qualidade que permitam rastrear todo o processo e departamentos jurídico e fiscal capacitados.

Os medicamentos são produtos altamente sensíveis, que requerem manuseio e armazenagem corretos, além do cuidado no transporte, para manter a eficácia da sua fórmula e assegurar o correto tratamento do paciente. São também sensíveis às variações de temperatura, umidade e luz, o que os tornam realmente especiais. Essas características são destacadas por Eduardo Luiz Viana, gerente comercial de fármacos da IBL Logística (Fone: 11 2696.2230), que atua nos modais rodoviário, aéreo, marítimo e fluvial, em níveis nacional e internacional.
Segundo ele, investir em tecnologia é essencial para que o produto chegue ao consumidor com qualidade e custo acessível. Desde a estocagem dos insumos até os medicamentos acabados, é necessário o controle térmico, que pode variar entre 15º C e 30º C, ou, no caso de câmaras frias, de 2º C e 8º C.
“Por isso, há tempos os laboratórios e distribuidores vêm buscando parcerias estratégicas com fornecedores logísticos que tenham capilaridade e estrutura capazes de garantir a entrega com agilidade para todo o território nacional, além de atender as exigências técnicas necessárias e ter um sistema de segurança robusto para manter a integridade dos fármacos”, expõe.
Angélica Wanderlei de Brito, farmacêutica responsável técnica da Via Expressa Transportes Urgente e Logística (Fone: 11 2632.2729), que atua com transporte rodoviário e aéreo, acrescenta que para o transporte e armazenamento de produtos farmacêuticos é necessário entender a necessidade de cada cliente, pois o tipo de carga e o cuidado são diferentes. “Na maioria das vezes, a carga de medicamentos perecíveis tem duração de 48h até 72h, portanto, a entrega deve ocorrer dentro deste período de tempo em qualquer local do país. A empresa que atua no segmento tem de garantir a integridade do produto até a sua entrega final, e devido à extensão de nosso país, este é um item bem trabalhoso”, aponta.
De fato, os produtos farmacêuticos requerem controles no recebimento, manuseio, armazenagem e transporte até o descarte, afirma Flavio Fassini, gerente geral de negócios da 2 Alianças Armazéns Gerais (Fone: 21 2139.9395), que faz a gestão de transporte em todos os modais, sendo que cerca de 90% é rodoviário. “Além das licenças da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o controle dos lotes de fabricação e a rastreabilidade são cruciais. Resumindo, diria que rastreabilidade 100% no ciclo logístico de vida do medicamento é a principal característica.”
Por sua vez, Claudia Guimarães, diretora comercial do Grupo TPC (Fone: 11 3572.1763), que atua com transporte rodoviário, expõe que o setor é extremamente exigente. “São requeridos e observados todos os detalhes regulatórios, de planejamento, gestão e expertise do Operador Logístico, além do que diz respeito à capacidade técnico-operacional para atendimento, desde expedições de palete fechado até fracionamento e alto número de SKUs com total rastreabilidade e segurança”, acrescenta.
De acordo com Cássia Fernandes, gerente de vendas para os segmentos farmacêutico e químico da Panalpina Brasil (Fone: 11 2165.5500), a movimentação desse tipo de produto deve ser feita em modais e em armazéns modernizados, munidos com tecnologias de controle de temperatura, como o dispositivo Data Logger (sensores de radiofrequência), que monitoram a temperatura daquele produto durante todo o seu processo de distribuição, permitindo ao fabricante acompanhar tudo à distância e, praticamente, em tempo real.

Roubo de cargas
O medicamento é um produto muito visado por ter alto valor agregado. Segundo Claudia, do Grupo TPC, o roubo de carga levou as empresas envolvidas na cadeia a trabalharem fortemente na prevenção e investirem cada vez mais na segurança, como em monitoramento e rastreamento dos veículos, até escolta armada. “Também em resposta ao aumento das ocorrências, a ANVISA estabeleceu a Lei de Rastreabilidade, determinando que a indústria coloque um selo com número de série em cada unidade produzida. Todos os envolvidos na cadeia de distribuição devem ter tecnologia para leitura desses códigos e garantir a rastreabilidade desde o recebimento até a venda ao consumidor final”, explica.
Para lidar com o assunto, a IBL recentemente investiu R$ 6 milhões em supercaminhões com blindagem nível III e moderno sistema de rastreamento para transporte de cargas de produtos de alto valor agregado. “Além da blindagem robusta e completa (cabine e baú), os caminhões possuem recursos inteligentes, como fechaduras eletrônicas em todas as portas, duplo sistema de rastreamento, sistema de vídeo-monitoramento e fechaduras randômicas, entre outros. Alguns destes veículos poderão vir também com baús refrigerados, excelentes para transporte de alguns medicamentos”, salienta Viana.
Já a Panalpina trabalha apenas com fornecedores homologados, que possuem os requisitos de segurança mandatórios da indústria. “Nossos parceiros têm cada vez mais recursos de proteção, incluindo iscas e veículos blindados. No tocante aos armazéns, estamos localizados dentro de condomínios, com total infraestrutura e proteção”, conta Cássia. Angélica, da Via Expressa, revela que a companhia possui um PGR – Plano de Gerenciamento de Risco para minimizar e dificultar o roubo de cargas com produtos farmacêuticos.
Na opinião de Fassini, da 2 Alianças, as ações para diminuir o problema de roubo dependem muito mais de iniciativas de segurança pública do que das empresas. “O que vemos na prática é aumento nas tarifas de seguros para as entregas em áreas de risco, cobrança de sobretaxas, dispositivos de segurança remota e proliferação de escolta armada. No Brasil, insegurança é um bom negócio para alguns segmentos e um custo adicional para fabricantes e Operadores Logísticos”, observa.

Desafios
Na relação embarcador-OL-transportadora, a maior dificuldade encontrada, de acordo com Viana, da IBL, é normalmente o tempo da resposta referente à entrega da mercadoria no destinatário. Pensando nisto, a empresa implementou o Mobile Delivery, que permite aos motoristas, através do seu smartphone, colocar no sistema e no portal a informação completa da entrega em até cinco minutos após o ocorrido, incluindo a imagem da assinatura no comprovante de recebimento.
Os erros mais comuns, segundo Angélica, da Via Expressa, são endereço errado ou faltando informação, horários restritos para recebimento, pessoa responsável pelo recebimento ausente, destinatário que não realizou ou cancelou o pedido e trocas de volumes nas companhias aéreas.
Falta de treinamento constante no manuseio correto dos produtos pelas transportadoras e mistura de medicamentos com outros tipos de cargas ainda ocorrem, como destaca Fassini, da 2 Alianças. Mas quando se trata de importação, um pequeno erro no preenchimento de uma licença pode se transformar em custo adicional e dias de retenção do produto pela ANVISA no desembaraço nos portos. Por isso, a companhia oferece um novo serviço aos clientes que importam ou exportam produtos para agilizar este processo e evitar pagar armazenagem por erros inerentes da burocracia. “Temos colaboradores nos Estados Unidos e na Europa que preenchem os formulários, se antecipando e evitando que os produtos caiam em alguma exigência quando desembarcam aqui”, explica.
No transporte internacional, Cássia, da Panalpina, cita diversas questões que podem ser geradoras de atrasos: carga com chegada anterior ao deferimento da Licença de Importação; documentação de embarque ou comercial diferente do peso real da carga; entrega parcial; quantidades de carga classificada que ultrapassam os limites estipulados pela IATA para aeronave passageira (PAX); e desvios de temperatura ocorridos durante a desconsolidação ou o transporte, dentre outros.

Requisitos
Para atuar neste segmento, Angélica, da Via Expressa, explica que é exigido que a empresa esteja certificada nos órgãos reguladores. Primeiro, deve ter registro no Conselho Regional de Farmácia com prestação de serviço de um farmacêutico responsável técnico. Segundo, a companhia é vistoriada pelos fiscais da vigilância sanitária, que emitem o Alvará Sanitário de acordo com as classes de produtos escolhidos para trabalhar. Terceiro e último, após a emissão do alvará sanitário, a empresa solicita junto à ANVISA as autorizações de funcionamento, que serão publicadas no Diário Oficial da União.
Além das licenças, Fassini, da 2 Alianças, diz que é preciso ter farmacêuticos treinados, sistemas de qualidade que permitam rastrear todo o processo logístico, departamentos jurídico e fiscal capacitados e, principalmente, a confiança do cliente.
Claudia, do Grupo TPC, acrescenta que é necessário ter armazém com temperatura controlada e atendimento customizado para a indústria farmacêutica. “O Operador Logístico deve atender aos requisitos de qualidade, segurança e boas práticas de armazenagem e distribuição. É necessário, ainda, um sistema de WMS customizado.”
Viana, da IBL, expõe que se deve ter soluções inovadoras de valor agregado, para que os medicamentos sejam transportados do laboratório aos pontos de venda sob rigoroso controle e segurança, obedecendo aos requisitos necessários para preservar seus princípios ativos e propriedades.
As indústrias deste setor buscam, na opinião de Cássia, da Panalpina, parceiros que estejam preocupados em garantir que os investimentos e controles implementados pela companhia durante a fabricação dos produtos sejam mantidos no processo de armazenagem e distribuição. Dessa forma, os Operadores Logísticos devem oferecer soluções que assegurem a qualidade e a estabilidade dos medicamentos até que cheguem aos pontos de venda. Além disso, serviços logísticos que permitam às fabricantes obter ganhos em redução de custos também são levados em consideração.

Os riscos da má escolha
Ao contratar uma empresa não especializada, o fornecedor pode ser preso se for identificada alguma fraude, ainda que seja por desconhecimento, aponta Fassini, da 2 Alianças. “Imagine a situação hipotética em que um importador de produtos para saúde queira armazenar produtos controlados pela ANVISA na 2 Alianças. Ele assina um contrato de armazenagem conosco e o apresenta à Polícia Federal. Quando a polícia checar e descobrir que o produto não está sendo armazenado na empresa, o executivo responsável pelo armazém pode ser preso por fraude. Por isso, é fundamental verificar se o cliente está cumprindo a sua parte, pois o parceiro logístico responde solidariamente pela guarda do medicamento”, explica.
Claudia, do Grupo TPC, cita os riscos de autuações pelo não cumprimento das exigências regulatórias e a perda de faturamento por ruptura no atendimento de pedidos. “Vemos como grande risco o comprometimento da qualidade da mercadoria, devido à má armazenagem e transporte, bem como pela falta dos demais cuidados que são exigidos neste segmento tão importante para a saúde da população. Como consequência, denigre também a imagem da própria empresa que contratou o transporte”, acrescenta Viana, da IBL Logística.
Ao trabalhar com empresas que não possuem a expertise necessária para atender o setor, Cássia, da Panalpina, diz que a indústria farmacêutica se expõe ao risco de não ter seus produtos entregues nos destinos com a mesma qualidade com que foram produzidos, podendo afetar sua durabilidade e os sujeitando a avarias.
Para Angélica, da Via Expressa, os riscos são inúmeros, como armazenagem em local não apropriado com temperatura fora dos padrões, incompatibilidade de carga durante o transporte ou o armazenamento e falta de limpeza dos veículos ou terminal de cargas, podendo causar contaminação cruzada, e funcionários sem conhecimento durante o manuseio da carga.

Cabotagem
Segundo a CNT – Confederação Nacional do Transporte, cerca de 60% da matriz do transporte de cargas do Brasil concentra-se no rodoviário, independentemente do setor. Para conscientizar os laboratórios farmacêuticos sobre as vantagens do serviço de cabotagem, Marcus Voloch, gerente geral de Mercosul e Cabotagem da Aliança Navegação e Logística (Fone: 11 5185.3100), conta que o modal oferece menor índice de avaria, tecnologia altamente moderna para garantir o produto intacto em todo o transporte e menor emissão de CO2 em relação ao transporte rodoviário, além da redução de custos de 10% a 15%, na mesma comparação.
A empresa realiza a coleta e a entrega porta a porta, transportando a carga em contêineres com temperatura e atmosfera controladas, com monitoramento em tempo integral. O cliente pode acompanhar a carga pelo Portal da Cabotagem, no próprio site da Aliança. “Quando utilizamos o transporte rodoviário em uma das pontas, os caminhões contam com GPS e, se necessário, são escoltados, dependendo do tipo de carga”, conta Voloch.
A companhia renovou sua frota com 11 navios em operação contínua, maiores, mais modernos e eficientes. “Com isso, atingimos índices de confiabilidade e pontualidade acima de 95%”, salienta.
Com relação ao roubo de cargas, como a maior parte do trajeto é efetuada por navio, não há incidência. “O modal rodoviário é utilizado nas pontas, entre a origem e o porto de embarque e entre o porto de descarga e o destino final, sempre respeitando o Gerenciamento de Risco proposto pelo cliente”, destaca. Não raro, um único contêiner transporta mais de um milhão de reais em mercadorias.
Durante o transporte terrestre, os contêineres viajam acoplados aos “Gensets”, que são os geradores de energia que os mantêm ligados e com a temperatura constante. Ao chegar ao terminal/porto, as unidades são ligadas à rede elétrica e são mantidos, dessa forma, até o embarque no navio, onde são novamente plugadas e contam com monitoramento remoto constante, dentro da sala de controle do navio. O processo inverso se dá no destino, ou seja, a temperatura é mantida constante durante todo o processo de transporte. Os contêineres são 100% computadorizados, de forma que o monitoramento é contínuo e, em caso de variação, um alarme dispara. “Posteriormente, o download dos dados pode ser enviado ao cliente, servindo como um atestado de que as condições dentro do contêiner se mantiveram conforme solicitado pelo cliente”, expõe Voloch.

Certificação inédita
A Panalpina Brasil tornou-se o único Operador Logístico do país a receber a certificação GDP (Good Distribution Practices), que garante a excelência do transporte e da distribuição de medicamentos e de produtos farmacêuticos, a mais importante do setor neste quesito.
“A certificação, que é reconhecida pela OMS e pela Anvisa, estabelece uma série de normas que exigem uma equipe altamente capacitada, sistemas modernos e integrados, mapeamentos de riscos bem executados para evitar que os produtos sejam danificados durante seu transporte, entre outras determinações”, afirma o diretor de qualidade e sustentabilidade da empresa, Adriano Bronzatto.
Ele explica ainda que esta certificação é uma extensão das regras que fundamentam a indústria farmacêutica. “As regras GDP complementam o manual internacional de boas práticas de fabricação do setor, chamado GMP (Good Manufacturing Practices), recomendado às empresas desta indústria pela OMS no que se refere à produção dos medicamentos, regras também adotadas pela ANVISA para o mercado nacional”, acrescenta.

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