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Conteúdo 24 de março de 2008

Acendeu a luz amarela

Infelizmente, conforme temos antecipado neste espaço, a crise externa não arrefeceu. Não só não arrefeceu como assumiu agora uma nova faceta: em decorrência dela e de seus possíveis efeitos negativos sobre o desempenho das principais economias, os preços das commodities declinaram acentuadamente nos mercados futuros na semana passada.

É claro que ainda é cedo para tirar qualquer conclusão do impacto dos preços tomando-se por base somente dois ou três dias de flutuações nesses mercados. Dito isso, convém notar que o primeiro impacto foi mais que significativo.

O preço do ouro, bom indicador do sentimento do mercado com relação ao futuro imediato, teve a maior queda semanal em 25 anos. O preço do petróleo caiu abaixo de 100 dólares o barril pela primeira vez desde 5 de março. As perdas desta semana no mercado de soja cancelaram todos os ganhos obtidos desde janeiro. Caíram também os preços da prata, cacau e açúcar.

É claro que essas quedas têm uma causa comum: o receio de que a recessão americana se espalhe pelos principais países desenvolvidos e contagie os países emergentes. Nessa hipótese, cairia a demanda pela maioria das matérias-primas.

O mercado estaria apenas antecipando e refletindo nos preços essa antecipação, os efeitos da recessão.

Tudo isso veio na esteira da operação de salvamento do banco Bear Stearns e de um novo corte de 75 pontos básicos na taxa de juros básica americana. Para completar, o dólar valorizou-se 3% frente ao Euro, depois de atingir o valor mais baixo desde a introdução da moeda européia, e quase 4% frente ao Yen, depois de atingir o valor mais baixo nos últimos 12 anos.

Os efeitos da queda dos preços das commodities, como seria de esperar, se fizeram sentir imediatamente nas bolsas brasileiras. As empresas exportadoras de matérias-primas, como a Vale do Rio Doce e a Petrobras , foram duramente afetadas e o impacto imediato das quedas generalizadas dos preços das matérias-primas foi uma queda de mais de 5% no índice Bovespa. Que conseqüências tudo isso pode trazer para a economia brasileira? Primeiro, não é certo que as violentas oscilações nos preços das nossas matérias-primas exportadas sejam permanentes. Em economia, tudo é possível. Segundo, se a queda vier para ficar, haverá um forte impacto sobre as exportações. O principal componente do crescimento das exportações tem sido nos últimos anos o aumento dos preços, com o aumento das quantidades apenas secundário. Este ano não é exceção. E terceiro, embora a demanda interna, impulsionada pelo crescimento da renda e do crédito, seja hoje o principal indutor do crescimento, as exportações continuam sendo um importante componente da demanda.

As exportações são o principal responsável pelo saldo em conta corrente e pela manutenção da capacidade de importar do País. Um declínio das exportações pode não causar maiores problemas para a balança de pagamentos, já que nessa eventualidade o câmbio se desvalorizaria, mantendo em equilíbrio as contas externas.

Uma desvalorização cambial teria dois efeitos importantes. Do ponto de vista interno, retiraria do câmbio a função de "semi-âncora" dos preços, já que a valorização do real experimentada até agora tem barateado de forma expressiva os preços dos importados e mantido em cheque os preços dos produtos nacionais. Já do ponto de vista externo, uma desvalorização do real encareceria os produtos importados, reduzindo seu influxo ao país. Ocorre que a maioria dos importados são bens de capital e matérias-primas, indispensáveis à manutenção do crescimento do PIB.

O resumo de tudo isso é o seguinte: estamos diante do primeiro sinal de que o Brasil poderá ser contagiado pela crise externa. Se isso vier a ocorrer, o real se desvalorizará e perderemos a "âncora cambial" que tem segurado os preços. Portanto, já é mais que hora de o governo começar a pensar onde deve cortar gastos, porque está montado o cenário para o aumento da inflação se esses cortes não ocorrerem.

 
Fonte: www.dcomercio.com.br

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