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Conteúdo 20 de maio de 2020

Operações logísticas exigirão que se instale uma “cultura de prevenção de riscos”

Por Paulo Roberto Guedes*

Sabe-se que operadores logísticos vem, ao longo do tempo, deixando de ter atuações meramente operacionais e passaram a exercer funções eminentemente estratégicas, seja no desenho das soluções logísticas, na subcontratação ou no controle de outros operadores, obrigando-os a ter responsabilidade direta, e até legalmente, dos riscos inerentes.

Ao exercerem mais esse papel, os operadores logísticos precisaram se aproveitar do avanço da tecnologia para que pudessem se manter conectados ininterruptamente aos seus clientes e às suas redes de abastecimento e distribuição. Buscando eficiência e rapidez, passou a ser essencial a obtenção de informações fidedignas e imprescindíveis à realização dos serviços logísticos contratados.

Evidentemente que isso permitiu ao operador logístico ter acesso a um conjunto maior, mais abrangente e detalhado de conhecimentos, não só operacional, mas também sobre a própria empresa, e em alguns casos, até de informações confidenciais de toda a rede de fornecedores, distribuidores e clientes.

Esse acesso às informações, agora ainda mais essencial, exigiu do operador, além de mais conhecimento e maior capacitação, um nível de relacionamento muito mais “íntimo” com o cliente, no qual o comprometimento, a confiança e a lealdade passaram a ser “virtudes” inegociáveis. Inclusive de seu corpo de funcionários. Óbvio, portanto, que esses operadores passaram a lidar, em seu trabalho diário, com um conjunto significativo, novo e mais abrangente de riscos. Os “ciberataques”, por exemplo, são realidade em todo o mundo e a busca por medidas de proteção digital uma nova realidade.

Portanto, se o uso intensivo de dados, a transparência, a precisão, a rapidez e a disponibilidade em tempo real das informações, sempre foram valores imprescindíveis para a realização e o monitoramento de uma eficiente operação logística, mantê-los devida e concretamente protegidos também passou a fazer parte da lista de atribuições do operador logístico. E, consequentemente, das tecnologias voltadas à isso. Embora ainda não muito claro, são evidentes os impactos que as novas tecnologias – para o bem e para o mal, pois disponível a todos, “mocinhos e bandidos” – trarão para a sociedade e para as empresas, assim como para toda e qualquer atividade humana, sendo preciso, consequentemente, acompanhar o desenvolvimento e buscar formas de aplicá-las de forma eficiente.

Consequentemente, mais do que estarem alinhadas à essa nova realidade, na qual a compreensão a respeito da cultura e ao comportamento do cliente é importante, os programas de gerenciamento de riscos e suas respectivas apólices de seguros, e esta é uma grande novidade, também precisam estar adaptadas à administração, ao controle, à preservação e à proteção dos sistemas de dados e informações, cada vez maiores e complexos, agora totalmente à disposição dos operadores logísticos.

Em face do exposto, e considerando a legislação que trata da responsabilidade empresarial e da proteção de dados e informações, os operadores logísticos precisarão oferecer programas de gerenciamento de riscos e de contratação de seguros que sejam compatíveis aos desejos e às necessidades de seus clientes, às exigências operacionais, às circunstâncias de momento e aos valores da própria empresa.

Todo prestador de serviços logísticos sabe que na eventualidade de uma ocorrência, seja ela qual for, e que resulte em indenização, poderá estar em discussão o seu próprio patrimônio, pois na maioria dos casos os valores de indenização requeridos são muito maiores do que o próprio capital da empresa, principalmente quando, lamentavelmente, inclui vidas humanas. Importantíssimo ressaltar que diante deste mundo novo e cheio de incertezas, “a quantidade de riscos” é muito maior, com origens diversas e ainda desconhecidas.

É fundamental, portanto, que antes de se discutir a respeito de apólices ou coberturas de seguro, inicie-se uma discussão séria sobre um programa de gerenciamento de riscos. É preciso inverter o entendimento geral e comum e substituir a frase “não se preocupe, temos seguro”, pela frase “não se preocupe, temos gerenciamento de riscos”. Infelizmente essa forma antiga (“temos seguro”) ainda faz parte da cultura de uma grande maioria de empresas prestadoras de serviços logísticos e, em muitos casos, também de seus próprios clientes. Suportados por processos eminentemente burocráticos de conferência e aceitação das coberturas previstas nas apólices de seguro, deixam de adotar medidas concretas para diminuição de riscos que, como se sabe, são inerentes a toda e qualquer atividade.

O investimento no desenvolvimento e na qualificação de profissionais, para que todos na empresa “internalizem” valores que prestigiem as práticas de gerenciamento de riscos, isto é, “cultura de prevenção de riscos”, é necessário. É preciso estar preparado e evitar que riscos se transformem em perdas irrecuperáveis.

*Paulo Roberto Guedes é Conselheiro Consultivo da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e diretor do Clube Internacional de Seguros de Transportes (CIST)

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