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Conteúdo 28 de fevereiro de 2008

Sinal de alerta na conta corrente do País

Alguns leitores se mostraram surpresos com a divulgação dos dados do balanço de pagamentos de janeiro do País, ocorrida dois dias depois da divulgação de que nos tornamos credores líquidos do resto do mundo. Não há, contudo, motivos para surpresas, nem há qualquer contradição no momento entre os dois fatos.

Nos tornamos credores graças à política acertada do Banco Central em acumular reservas, comprando dólares na bacia das almas das baixas cotações da moeda. Com a progressiva valorização do câmbio a partir de meados de 2003, foi possível simultaneamente acumular reservas e evitar grandes variações na taxa de câmbio, aplainando o caminho ladeira abaixo do valor do dólar.

Claro que essa política de acumulação de reservas teve seu preço, como tudo na vida. A compra de divisas pelo BC junto a exportadores e investidores aumenta a quantidade de reais em circulação na economia. As opções são deixar a liquidez aumentar, o que eventualmente provocaria um aumento de gastos e inflação, ou comprar os reais de volta, vendendo títulos no mercado.

É claro que a colocação de títulos traz um novo inconveniente, a elevação da taxa de juros. Como os capitais voláteis internacionais respondem aos diferenciais de juros, aumentar a dívida interna – pela colocação de títulos no mercado – atrai mais capitais do exterior, pressionando para baixo a taxa de câmbio.

Portanto, estamos ainda atravessando um ciclo de taxas de juros altas em relação à média das taxas mundiais e continuamos atraindo capitais do exterior; o real continua a se valorizar, tornando cada vez mais barato comprar reservas. E chegamos ao ponto de termos mais reservas que dívida externa. Por esse processo, passamos de devedor líquido para credor líquido internacional.

Observe-se que tanto a dívida quanto as reservas são estoques, em ponto do tempo. O déficit no balanço de pagamentos em conta corrente é um fluxo: resulta da diferença, dia a dia, ou mês a mês, entre o total de receitas e despesas correntes (exportações, importações, pagamento de serviços de fatores). Quando o total dos pagamentos correntes é maior que o total das receitas correntes diz-se que há um déficit em conta corrente.

Há duas formas principais de cobrir a diferença: pela entrada líquida de capitais do exterior (a situação atual) ou pela perda de reservas, que ocorre quando a entrada líquida de capitais no exterior é menor que o déficit em conta corrente.

O problema com os déficits em conta corrente é que eles requerem uma entrada líquida de capitais do exterior, caso contrário perde-se reservas. Eventualmente, à medida que cresce o volume acumulado de capitais vindos do exterior, cresce também o estoque da dívida externa e dos capitais investidos no País. Isso se traduz em maiores pagamentos de juros e maiores remessas de lucros e dividendos no futuro.

Énatural que tenhamos saldos menores em conta corrente no mês de janeiro e está correto quem diz que não há motivo para preocupação no momento.

Tivemos déficits nos janeiros de 1999 a 2002 e em 2006 e 2008. Os saldos positivos em 2003 e 2007 foram pequenos. Alguém poderá, contudo, dizer que o saldo negativo de janeiro deste ano (- 4,2 bilhões de dólares) é da mesma ordem de grandeza do saldo negativo de 1999 (- 4,9 bilhões), no mês do auge da crise que levou à flutuação do câmbio.

Se há motivos para preocupação com o andar da carruagem, o futuro dirá. O fato de havermos registrado, pela primeira vez desde 2003, déficit em conta corrente nos últimos doze meses pode configurar uma tendência, diferentemente do resultado isolado do mês de janeiro.

Portanto, tudo indica que estamos em rota de déficit em conta corrente em 2008, algo maior do que o antecipado pelo mercado e pelas autoridades. Mas não há muito o que fazer, já que seria temerário baixar agora a taxa de juro, caminho indispensável para desvalorizar o câmbio e reduzir o déficit em conta corrente. Só se surpreendeu quem quis, depois de vários anos de apreciação do câmbio decorrente das altas taxas de juros internas.

Fonte: www.dcomercio.com.br

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