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Segurança 22 de maio de 2019

Ausência de dados sobre incêndios prejudica ações preventivas

Nos últimos meses, incêndios têm acontecido nos mais diversos tipos de estabelecimentos, como no galpão na usina de Belo Monte, PR, no alojamento do CT do Flamengo, RJ, no Instituto do Coração, SP, no galpão da Mitsubishi Chemical Polímeros de Desempenho, SP, no Centro de Distribuição da Drogaria Pacheco, RJ, no Museu Nacional, RJ, na fábrica da Femsa que atende o Mercosul e na planta da farmacêutica SEM, ambos em São Paulo.

Segundo dados noticiados pela imprensa e coletados pelo ISB – Instituto Sprinkler Brasil (Fone: 11 2124.3724), em 2018 foram contabilizadas 531 ocorrências de incêndio estruturais. Dentre as diferentes categorias, a que registrou o maior número foi a de estabelecimentos comerciais (lojas, shopping centers e supermercados), com 190 registros, seguida por depósitos, com 114 reportes.

“Começamos a contabilizar os incêndios noticiados pela imprensa por falta de dados estatísticos oficiais no país. Como ter consciência de que se trata de algo alarmante e que pode ser evitado se nem o poder público tem ideia de quantos incêndios acontecem nem quantos morrem ou ficam feridos no Brasil por causa deles?”, questiona Marcelo Lima, especialista em prevenção e combate a incêndios e diretor do ISB.

Por acompanhar o assunto há décadas, ele sabe que o dado coletado pela imprensa é provavelmente cem vezes menor do que acontece oficialmente. Não ter as informações corretas sobre incêndios é um grande problema para quem estuda e trabalha na prevenção. “Fica difícil propor soluções sem uma análise histórica. A informação é gerada de acordo com a disponibilidade e o interesse dos corpos de bombeiro regionais. E a maioria não publica.”

A ideia é incentivar a criação de uma forma única de transmissão desses dados, através de um órgão de Brasília chamado Sistema Nacional de Segurança Pública. “Fazemos esforços para que exista uma periodicidade de divulgação”, conta Lima.

 

Legislação

O diretor do ISB explica que a legislação de prevenção e combate a incêndios é estadual e está atualizada. A de São Paulo é uma das mais avançadas do país e serve de modelo para grande parte dos estados brasileiros. A questão está em aplicá-la corretamente.

O Estado exige a instalação de sistemas de incêndio, mas não faz qualquer exigência quanto ao nível de qualidade dos produtos. Não há certificação para equipamentos de incêndios, exceto para extintores. “Com isso temos sistemas instalados por todo o Brasil que atendem plenamente a legislação, mas que provavelmente não funcionarão porque são de péssima qualidade, o que só será descoberto no pior momento: durante uma ocorrência”, observa.

Para o Instituto Sprinkler Brasil, a certificação é fundamental, pois garante uma exigência mínima de qualidade a partir dos testes dos produtos antes da venda. Tomando os sprinklers como exemplo, os modelos importados não têm qualquer ensaio de certificação. Esse produto deveria ser testado aqui no país e, caso não passasse, sua venda não deveria ser autorizada.

De acordo com Cassio Roberto Armani, tenente-coronel, atualmente na reserva do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, há uma quantidade altíssima de incêndios por vários motivos, mas que começa com a falta de consciência de todos: população, autoridades, empresas e governos. “Costumo explicar que incêndios não são acidentais, mas fruto de falhas, desconhecimento ou mau uso das edificações, e principalmente por falta de instalação e manutenção de sistemas de prevenção”, explica.

 

Soluções

Das causas de incêndios em Centros de Distribuição e galpões logísticos, 30% têm origem elétrica, 14% são incêndios criminosos e cerca de 10% são causados por falta de preparo adequado no trabalho quente, ou seja, que envolve soldas ou outro tipo de atividade que eleva a temperatura e produz faíscas. Lima lembra que como os dados não são computados no Brasil, essas informações são coletadas pela instituição americana FM Global.

“Está comprovado que o sistema mais eficiente para esse tipo de tragédia é o de sprinklers, que oferece uma série de vantagens. Pela cobertura, é possível proteger o local inteiro com uma única ocupação. Outra opção é compartimentar o prédio, assim, no caso de um incêndio, ele ficaria restrito apenas ao local que foi acometido”, expõe.

Ele garante que o sprinkler é extremamente eficiente no mundo inteiro. O equipamento, com um sistema bem projetado e bem instalado, tem 92% de taxa de sucesso, a mais alta em comparação a outros.

“As pessoas têm medo de usar sprinkler porque acham que quando um bico abre, todos abrem, mas não é assim. No incêndio, você abre um ou dois, a área molhada é bem pequena com relação ao espaço”, conta Lima. Fora isso, todos os outros sistemas são importantes: extintores portáteis, hidrantes, sinalizações de emergência e brigada de incêndio.

Falando das soluções para evitar o problema, ele lembra das instruções básicas, como não permitir fumo quando houver trabalho de manutenção quente, como solda, corte de chapas metálicas e fonte de calor no depósito. Deve-se controlar o ambiente e a temperatura e prezar pelo manuseio correto. “É preciso supervisionar o trabalho de gestão e manutenção. Para soldar uma estante é preciso tomar cuidado para não começar um incêndio. E isso vem a partir da gestão, introduzindo a cultura de prevenção”, expõe.

Para o diretor do ISB, proteção em depósito e galpão não é só instalar equipamento de incêndio. É preciso investir na gestão. A primeira coisa a fazer é ter um programa de segurança no depósito que realize inspeções para garantir que o local esteja livre de materiais combustíveis, ou que eles estejam armazenados de forma correta. Se não houver uma boa gestão ao lidar com aerossóis, por exemplo, que são altamente inflamáveis, pode-se perder todo o negócio.

“Também é muito importante contar com segurança patrimonial, para não permitir estranhos no local, porque, como já foi dito, o incêndio criminoso e proposital é uma causa muito comum em galpões e CDs”, lembra.

Questionado sobre em quais ocasiões o seguro não cobre os danos de incêndios em CDs e galpões logísticos, Lima conta que cada seguradora tem seu procedimento próprio, entretanto, o mercado comenta que existe muita dificuldade dos proprietários em conseguir adquirir cobertura de seguro, por ser um risco muito alto.

 

Ações do ISB

O Instituto Sprinkler Brasil foi criado há oito anos com o objetivo de conversar com a população geral, com legisladores, reguladores e autoridades sobre o benefício do sistema de sprinkler na prevenção de incêndio de modo geral.

“Na área de educação, contamos com o prêmio ISB, um programa de bolsa de estudo para mestrado em universidade de engenharia e estruturas. Também temos uma bibliografia grande, que é distribuída gratuitamente, sobre o uso de sprinkler nos mais variados casos. Acreditamos que esclarecendo a população e pessoas da área, podemos melhorar muito a situação geral”, expõe Lima.

Além disso, a entidade também atua na área de regulamentação, fornecendo subsídios, sempre que possível, para que os reguladores tenham informações técnicas que possam ser usadas para prevenção e estudo.

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