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Conteúdo 8 de agosto de 2022

Impactos longevos da pandemia na estratégia da Supply Chain

Menor disponibilidade de produtos, interrupções da cadeia de abastecimento, encarecimento de fretes e inflação de commodities são temas bastante debatidos como impacto da pandemia. Esperamos que essas dificuldades se normalizem num futuro próximo.

Por outro lado, o aumento da complexidade do Supply Chain por exigência de prazos mais curtos, excelência de atendimentos, confiabilidade nos serviços prestados aos clientes, pedidos fracionados, aumento da quantidade de SKUs são desafios que devem permanecer.

Os anos de pandemia trouxeram diversas mudanças no hábito da sociedade, não somente os encontros sociais que foram reconfigurados, mas também o comportamento do consumo apresentou uma forte mudança. Crescimento dos serviços como delivery de comidas e bebidas, entregas de farmácias e supermercados em casa são alguns dos muitos exemplos que podemos indicar como alteração do hábito e perfil de consumo.

Por trás disso tudo são os processos logísticos que permitem a entrega desses bens nas residências conforme o novo padrão. Entrega ultrarrápida, em horas, no mesmo dia (same day delivery) ou no dia seguinte (next day delivery) são algumas das modalidades que foram fortalecidas durante esse período. No entanto, antes da entrega, há o processamento do pedido dentro de um Centro de Distribuição, e também, nessa etapa, o processo precisou ser adaptado em relação aos métodos tradicionais, dado que a compra migrou do canal físico para o canal virtual.

Além do aumento do canal digital, as operações dos centros de distribuição já sofriam com o aumento de SKUs, atendimento a pequenos pontos de vendas (lojas menores, atendimento direto ao varejo) e a necessidade de fracionamento peça a peça destas operações.

Durante o período de pandemia, havia uma dúvida se a participação do canal virtual permaneceria tão importante após a volta da normalidade, ou seja, quando as nossas vidas retomassem o curso e hábitos naturais. Com o fim das restrições mais duras, essa dúvida foi prontamente respondida dentre os gestores de logística.

Tanto o canal virtual se manteve significativo, como o perfil do pedido se permaneceu fracionado (pequenas compras em vez de grandes compras). Sendo assim, com essa mudança, há de se repensar os modelos de arranjo físico e tecnologias existentes dentro do centro de distribuição. Basicamente, podemos indicar duas vertentes que têm ganhado força para suportar o melhor atendimento dos clientes nesse novo padrão de exigência.

 

Aumento do uso de sistemas automáticos

Primeiramente, nota-se o aumento dos Centros de Distribuição com aplicação de sistemas automáticos. Com facilidade é possível encontrar nas diversas mídias a implantação de sistemas como Autostore, Multi Shuttle, AMR (Automated Mobile Robots), Sorters, dentre outros diversos sistemas automáticos para fornecer maior produtividade em processos de separação de pedidos fracionados em Centros de Distribuição. Esse tipo de solução permite maior produtividade dos processos, maior agilidade para o processamento do pedido e maior acurácia na separação dos itens.

 

Revisão da malha logística com foco na descentralização dos estoques

Além da reorganização dos processos internos, houve também uma mobilização das empresas em revisar a capilaridade dos seus estoques. A tendência das operações, ao revisarem sua malha logística, tem sido avançar os estoques, aproximando-os dos clientes, de modo que o prazo de entrega seja viável em períodos mais curtos, em poucas horas ou no dia seguinte. Com isso, espera-se melhorar a competitividade e aumentar o market share na região onde o estoque está posicionado.

O uso imediato das lojas físicas existentes para distribuição local (em um raio determinado), o que permitiu o avanço das estratégias de multicanalidade (omnichannel), assim a loja física passou a realizar a operação de fulfillment para o consumidor – que antes era realizada apenas pelo Fulfillment Center.

Usar a rede de lojas existentes solucionou a necessidade urgente, principalmente no momento que o fluxo de clientes estava ainda retraído no início da pandemia. Ao longo tempo, usar somente as lojas mostrou-se uma solução limitada por alguns motivos:

– A dispersão geográfica das lojas pode não ser aderente com a demanda de vendas do canal digital. Podem ocorrer faltas de lojas em regiões com alta demanda de entregas

– Limitações do ponto físico: acesso a shopping centers para operação de distribuição podem ser caras e demoradas. A loja pode estar com a sua capacidade de atendimento esgotada pelo público que frequenta a loja. Incrementar com pedidos online pode piorar a experiência do cliente com espera ou falta de produtos.

– Custos da operação a partir da loja: baixo volume de envios, aluguel como % da receita e comissão sobre vendas podem fazer o custo de logística ser superior a um atendimento a partir de uma instalação especializada.

A criação de lojas fechadas ao público “micro fulfillment center ou dark stores” com a finalidade exclusiva de atender os pedidos de regiões próximas pode solucionar os desafios acima.

Sabemos, portanto, que a adaptação do padrão de consumo fez as operações repensarem seus sistemas tecnológicos e estratégias de atendimento. Todavia, há muitas questões que ainda precisam ser respondidas no que tange o campo da competitividade.

 

Operações sustentáveis: foco no cliente sem esquecer do resultado financeiro

Com a melhoria do atendimento, a logística passa a fazer parte da experiência do cliente e assim contribuir para a melhoria das vendas e dos resultados empresariais.

Entregas mais velozes podem trazer mais vendas, aumentar a conversão de pedidos, bem como fidelizar e aumentar a quantidade de clientes. A sustentabilidade financeira desta estratégia depende de um processo que racionalize as despesas, diante do cenário de rentabilidade comprimida e pressões por redução das despesas no cenário inflacionário atual.

Notamos que alguns varejistas implementam operações com a estratégia omnichanel e aceleraram o canal digital com um efeito negativo quanto à rentabilidade de suas operações. Já outros varejistas conseguem capturar resultados positivos ao implementar soluções otimizadas na estratégia de fulfillment, mas não capturam os benefícios esperados em sua totalidade.

O ponto pacífico nessa revisão operacional é que estudos técnicos são importantes, mas não suficientes. Aliar os números com a “re-visão” da proposta de posicionamento e estratégia do negócio é fundamental para que a empresa consiga entregar não somente produtos, mas também a sustentabilidade da competitividade e ganho de mercado.

Por fim, temos que lembrar do movimento sem volta para a melhoria da sustentabilidade do negócio nos mais diferentes aspectos: econômico, social e ambiental. Dessa forma, é importante reforçar que toda avaliação das estratégias de atendimento nesse mercado e cenário econômico deve englobar visões complementares de que a decisão de operação entrega o verdadeiro valor aos clientes e ao negócio.

Marcio Luiz Matsuda Marcio Luiz Matsuda

Engenheiro mecânico pela POLI-USP, especialista em Administração Industrial pela Fundação Vanzolini – USP, MBA em Varejo pela FIA-USP e Black Belt em Lean Six Sigma pela Fundação Vanzolini – USP. Executivo com mais de 20 anos de experiência em grandes varejistas nas áreas Comercial, Planejamento e Projetos, Produtos, Logística e Supply Chain. Atuou como clevel em empresas como Track&Field, Dafiti, Saraiva e Sequoia Logística, e em posições gerenciais nas empresas Etna, B2W, Telefonica, Magazine Luiza, Dia% e Submarino. Atualmente, é sócio na Connexxion Consulting (www.connexxion.com.br).

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