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Conteúdo 21 de julho de 2021

Obsolescência programada e seus impactos na Cadeia Logística

Deixar de comprar por necessidade para consumir por hábito foi a estratégia articulada pela indústria automobilística para estimular o consumo incutindo na cabeça das pessoas um estilo ao invés de uma função para o automóvel na década de 1920.

A estratégia, inicialmente batizada por “obsolescência dinâmica” por Alfred Sloan, presidente da General Motors (GM) entre 1923 e 1946, rapidamente ganhara força, tornando o automóvel uma forma de expressão da personalidade e do status de cada pessoa, convencendo consumidores de que o automóvel não era somente um meio de transporte.

Eles criaram o então conceito de que carros eram estilos que poderiam se deteriorar e serem alterados. Logo era plenamente possível estar fora de moda caso você não tivesse um modelo na última versão que passara a receber atualizações anuais, principalmente no visual. E isso estimulava as pessoas a comprarem.

A estratégia colocou a GM na liderança frente à Ford na época e é perpetuada até hoje.

O primeiro caso de obsolescência programada registrado é de 1920, quando fabricantes de lâmpadas da Europa e dos EUA decidiram, em comum acordo, diminuir a durabilidade de seus produtos de 2,5 mil horas de uso para apenas mil. Assim, as pessoas seriam forçadas a comprar o triplo de quantidade de lâmpadas para suprir a mesma necessidade de luz.

Por vezes nem percebemos, caímos na onda da obsolescência!

Isso está presente nos calçados, nos eletrônicos, nos eletrodomésticos, computadores e telefonia, está em tudo que num dado momento sentimos não nos atender mais por alguma razão que não sabemos explicar. Perduram até hoje os efeitos de uma estratégia de consumo estimulada por apelos ao novo, ao mais recente e ao mais moderno. Ou simplesmente uma interferência desleal na vida útil dos produtos, de maneira que compremos mais.

São produtos programados para que durem menos que o permitido tecnologicamente, incutindo rapidamente na cabeça das pessoas que são ultrapassados.

Há um efeito cascata sobre as ações de o cliente comprar “um mesmo veículo, várias vezes”, mudando apenas um componente ou ajustes no modelo, um ou outro item no acabamento, mantendo-se a estrutura da carroceria, por exemplo.

À medida que o cliente opta por um ou outro produto na “gôndola”, são desencadeadas informações de uma nova demanda, uma nova posição na gôndola, uma nova posição no (palete), no caminhão, no navio, no armazém, no trem, ou no duto, se utilizado este modal.

Isso é perceptível não só nos automóveis, mas também em outros produtos, principalmente nas linhas de eletrodomésticos, celulares, máquinas e eletrônicos.

Diante de uma crise em 1929 e a explosão do consumo em massa nos anos 50, mudaram a mentalidade e consagraram essa tática na sociedade de consumo.

A vida breve determinada sob o pano de fundo de justificativas ligadas ao avanço tecnológico faz com que um grande número de aparelhos eletrônicos saiam de circulação e parem em algum lugar na cadeia de consumo. Estamos falando daquele celular que você tem e não usa, mas que se assaltado ou o atual for a conserto, você certamente utilizaria para se comunicar, por exemplo.

Acho que a maioria dos que estão lendo esse artigo possui um tablet guardadinho em casa e que não sabe muito bem no que irá aplicar, mas comprou somente por conta da onda promocional fortemente estruturada na época em que surgiram.

Percebe-se uma responsabilidade atribuída aos meios de comunicação no processo de gerar necessidade nos indivíduos. Você liga o celular e lá está uma mensagem: “compre, compre, compre”; você liga a televisão e de repente em meio à notícia vem uma informação: “você não pode perder”; e por onde quer que se vá temos algo nos lembrando em que devemos empregar nosso rico dinheirinho.

Há uma ideia que diz o seguinte, na verdade, não temos escolha. Se realmente tivéssemos a opção de escolher, todos os itens e possibilidades estariam expostos e disponíveis ao consumo, porém a verdade é que quando nos dirigimos ao ponto de consumo, alguém já decidiu pela gente, você ir lá fez parte de um plano estratégico e suas (escolhas) pouco influenciarão os fornecedores, que já te mapearam e determinaram as possibilidades de você escolher uma das alternativas que sutilmente estão expostas para você “escolher”.

Certamente essa minha ideia deve estar deixando você nesse instante reflexivo, talvez com a sensação de que fora manipulado. É o que acontece nos bastidores ainda na confecção de um produto inédito, em que talvez os opcionais não vão contemplar o lançamento e serão estimulados ao longo de um período nas próximas edições.

A troca regular de produtos aumenta a produção de lixo eletrônico, que contém metais pesados que podem contaminar o meio ambiente. Além disso, a obsolescência programada estimula produzir, gerando mais gastos energéticos, de matérias-primas e consequentemente de recursos naturais, além de aumentar a emissão de poluentes.

De obsolescência dinâmica à obsolescência programada, e agora obsolescência percebida, aquela em que o consumidor considera o produto que tem em casa “velho” por conta de novos modelos lançados a toda hora.

Vamos aos impactos da obsolescência na cadeia de consumo. Quanto maior o número de produtos, maior o número de SKU´s e maior será a necessidade de espaço por toda a cadeia logística, impactando nos processos e dinâmicas para envio de produtos, volume e frequência com que as operações acontecem, inclusive uma incapacidade de absorver na logística reversa o descarte adequado de resíduos.

Não é difícil lembrar a cena de acúmulos de lixo eletrônico em locais inadequados. Segundo a ONU Brasil, os volumes de lixo eletrônico continuam aumentando mundialmente. De acordo com a Global E-waste Statistics Partnership (GESP), eles cresceram 21% nos cinco anos até 2019, quando 53,6 milhões de toneladas métricas de lixo eletrônico foram geradas.

Comparativamente, o lixo eletrônico do ano passado (2020) pesava o equivalente a 350 navios de cruzeiro colocados de ponta a ponta em uma linha imaginária de 125 Km de comprimento.

Projeta-se que esse crescimento continue na medida em que o uso de computadores, telefones e celulares e outros eletrônicos continue a se expandir, junto com a sua rápida capacidade de ficarem obsoletos.

Apenas 17,5% do lixo eletrônico produzido em 2019 chegou a instalações formais de gerenciamento ou reciclagem. De acordo com as estimativas mais recentes da GESP, o restante foi despejado ilegalmente.

Por outro lado, falta boa vontade e a chamada da responsabilidade de algumas marcas tidas como excelência, isso quando não são as maiores poluidoras diretas e depositam seus lixos de obsolescência induzida em países de terceiro mundo sem nenhum pensamento ecológico, nem tampouco sustentável.

Aqueles mesmos que fazem parte de suas missões, visões e valores descritos em pomposos sistemas de qualidade, deixando o consumidor exposto a um impacto financeiro também de esforços para estarem sempre adequados à última versão, à mais recente, aquela que foi superada no instante que você termina de ler esse texto.

Palmério Gusmão Palmério Gusmão

Graduado e Especialista em Logística Empresarial pela Faculdade Anchieta de São Bernardo do Campo, possui habilitação pedagógica de docentes em matemática. Adquiriu o título de Auditor Lead Assessor da Qualidade pela NBS Consulting Group. Iniciou trajetória liderando operações na Tegma, maior player estratégico (automotivo) da América Latina. Atuou por vários anos no setor logístico. Seu último cargo foi gerente comercial em uma empresa na área de operações portuárias no Porto de Santos. Foi integrante e líder de comissão de transição e fusão em dois grandes grupos. Experiência no Magistério em cursos de graduação em Logística (disciplinas de administração, marketing e logística) e de pós-graduação (MBA executivo da Universidade Cruzeiro do Sul) e na Escola Internacional de Negócios junto ao SEBRAE. Colunista da Logweb desde 2007. Apresentador do Programa de TV Cenários Logísticos. Aulas consultorias e palestras: professorpalmerio@gmail.com / no Linkedin https://www.linkedin.com/in/palmeriogusmao/

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