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Conteúdo 16 de outubro de 2023

Também no setor logístico é imprescindível que todos estejam a favor da sustentabilidade e do meio ambiente

Vale repetir o assunto, pois como em todo o mundo empresarial, Operadores Logísticos precisam atuar a favor da sustentabilidade e do meio ambiente. Artigo específico sobre esse tema foi por mim publicado no site do Guia do TRC dia 08/04/21.

Desde sempre aqui no Brasil, e assim confirmam as pesquisas, do total de gastos logísticos realizados, a maior parte é com transporte, que chega a ter uma participação acima dos 85% (exatamente 87,4% em 2021, segundo levantamento feito pelo Instituto de Logística-ILOS). Vale ressaltar que os custos logísticos como um todo, em 2020, representaram cerca de 12,6% do PIB nacional, enquanto a média mundial ficou em 10,8%. Dentre os diversos modais, o rodoviário é preponderante, chegando a alcançar, em termos de TKU (tonelada transportada por quilometro útil), 61,9% do total no ano de 2021.

Portanto, a matriz de transportes brasileira tem, como seu principal modal, a via rodoviária, e motivos para a explicação desse fato são “históricos” e os mais diversos possíveis. Duas principais consequências: 1ª) Alto custo operacional, posto que por TKU (tonelagem por quilômetro útil), depois do transporte aéreo, é o modal rodoviário de maior custo; e 2ª) Níveis maiores de emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa), posto que é o rodoviário aquele que mais polui. As estatísticas indicam que depois da Agropecuária e das Mudanças do Uso da Terra, e a Energia, o Transporte é o terceiro maior “poluidor” e já representa cerca de 10% do total. Vale ressaltar que o modal rodoviário é responsável por mais de 84% das emissões de CO2 relativas às operações de transporte.

Apesar disso, e para que haja justiça, é fundamental que se façam duas importantes observações: 1ª) mesmo com seus problemas, o modal rodoviário consegue operar com certa eficiência e cumprir o papel logístico a ele reservado; 2ª) ao contrário do que é entendido por muitos, a infraestrutura rodoviária brasileira existente, quando comparada com a de outros países, está muito aquém, tanto na qualidade como na sua dimensão, dificultando, de forma significativa, as operações de transporte.

Apenas como ilustração, e de acordo com dados publicados pelo ILOS, o Brasil conta com apenas 214 mil quilômetros de estradas asfaltadas, enquanto a Rússia tem 1,1 milhão, a Índia, 3,5 milhões, os EUA, 4,6 milhões e a China, 4,9 milhões quilômetros de estradas asfaltadas.

Nesse cenário, o País se vê obrigado a conviver com custos logísticos e índices de poluição razoavelmente ‘desconfortáveis’, principalmente quando comparados com países que disputam, diretamente com o Brasil, o mercado mundial.

A busca de uma matriz de transporte mais equilibrada, na qual os demais modais também tenham participações importantes e a “multimodalidade” possa de fato ser realizada, deveria transformar-se em objetivo prioritário. Providência que, sem dúvida, exigiria volumes de investimentos muito maiores do que aqueles que se tem notado nos últimos trinta ou quarenta anos (1). Além, é claro, de muito planejamento, esforço e disciplina. Aliás, é o que se espera do PAC 2023 (2).

Imperioso, consequentemente, que as políticas públicas voltadas à expansão, à melhoria e ao desenvolvimento da infraestrutura de transporte tenham prioridade e sejam elaboradas de forma integrada e sistêmica, sendo certo que elas, além de contribuírem para a redução de grande parte do “custo” Brasil, ainda possibilitarão que se trilhe um caminho mais curto para a diminuição das emissões de CO2.

Entretanto, por reconhecer que essa realidade não poderá ser mudada no curto prazo, uma vez que os níveis de investimentos, principalmente públicos, têm ficado muito abaixo das reais necessidades brasileiras, notadamente quando se busca expandir as redes dos demais modais, a participação do setor privado, que já era fundamental, passa também a ser essencial (3).

O que se depreende é que enquanto ‘essa retomada de investimentos’ direcionadas à infraestrutura de transportes não vem, outras providências poderão e precisarão ser tomadas. Eu tenho abordado esse assunto em artigos específicos já há algum tempo (4).

Há que se compreender, entretanto, que o tema “proteção ao meio ambiente” ainda não está devidamente enraizado na cultura nacional, principalmente no setor de logística e de transportes. Não é um assunto de “trânsito fácil”, assim como não é simples a inclusão, nas atividades dos prestadores de serviços de transporte e logística, de técnicas mais modernas de combate, controle e diminuição dos níveis de poluição. E quando se fala em compensação via crédito de carbono, há um certo “empurra-empurra” entre embarcadores e operadores de logística e transporte com respeito a responsabilidades.

Felizmente, em setores empresariais específicos, há pesquisas que indicam concretos esforços para a implementação de práticas que tornem suas respectivas cadeias de suprimentos mais sustentáveis. Não à toa, as “vendas de produtos com rótulos relacionados à sustentabilidade cresceram sete vezes mais rápido do que os níveis registrados anteriormente e a quantidade de engajamento nas mídias sociais em torno das questões de mudanças climáticas triplicou”.

Como se constata, muitas empresas perceberam isso e já, nos rótulos de seus produtos, estampam compromissos com a sustentabilidade. Suas mídias sociais trabalham em torno das questões de mudanças climáticas e suas estratégicas mercadológicas, além de apelarem a favor da sustentabilidade, também buscam monitorar os impactos de suas ações em toda sua cadeia de abastecimento.

Nesse processo contínuo de conscientização a respeito dos impactos gerados pela “crise climática”, o correto tratamento das questões ligadas ao meio ambiente e à sustentabilidade tem sido considerado, infelizmente não por muitos, como fundamentais para a geração de valores. São empresas que compreendem claramente que suas responsabilidades com relação a esses temas estão diretamente ligadas à evolução e ao desempenho dos investimentos de longo prazo, bem como à satisfação das suas redes de stakeholders.

Práticas voltadas à proteção do meio ambiente transformaram-se em itens essenciais quando se faz análises de investimentos. Uma das consequências, sem dúvida, tem sido a incorporação, à própria estratégia empresarial, do conceito ESG (“Enviromment, Security and Governance”).

A BlackRock, por exemplo, uma das maiores empresas de investimentos em todo o mundo, em pesquisa global realizada, deu dicas: 54% dos pesquisados consideraram o investimento sustentável como essencial para os resultados dos investimentos; 88% definiram o meio ambiente como a principal prioridade entre todas as demais; e a integração ESG é a abordagem mais popular ao investimento sustentável, com 75% dos participantes integrando ou considerando integrar o ESG nas suas decisões de investimento.

Em contrapartida, e considerando as circunstâncias atuais, sabe-se, inclusive, que empresas que buscam lucros a “qualquer preço”, causando problemas à sociedade e ao meio ambiente, destroem valores e afastam investidores.

É evidente que a pandemia e a guerra na Ucrânia, e agora o conflito entre Israel e o Hamas, colaboraram de forma acelerada para que houvesse uma desestruturação da economia e do comércio mundiais, além de uma desorganização do processo produtivo e de suas cadeias logísticas. Tragédias cujos muitos dos efeitos ainda são desconhecidos e irão gerar impactos por muitos anos à frente, aumentando incertezas e riscos. A ressaltar, inclusive, que tanto a guerra Ucrânia Rússia como o conflito no Oriente Médio não têm datas para terminarem.

O mundo todo sofrerá consequências e muito precisará ser feito para minimizar seus efeitos maléficos, pois duas consequências se notam de forma imediata: significativa diminuição da produção de um conjunto enorme de produtos e de outros que tiveram parte de seus insumos “desviados” para a produção bélica e manutenção de exércitos, e uma significativa desorganização, quando não ruptura, de grande parte da cadeia mundial de suprimentos e distribuição. É evidente que essas transformações nas cadeias de valor, que também geram impactos no próprio processo de globalização, não raras vezes, colocam em confronto os interesses regionais e os interesses globais.
As novas cadeias de suprimentos, que precisam ser mais resistentes que as anteriores por exemplo, exigirão um gerenciamento rápido e flexível, e as novas políticas com relação à energia precisarão ser voltadas ao combate da poluição e à segurança dos sistemas de abastecimento. A Europa, por exemplo, compreendeu de forma definitiva, mas também “custosa”, que não pode depender, como até então vinha dependendo, dos diversos tipos de energia fornecidos pela Rússia. Até porque, e além de tudo, são altamente poluentes e danosas ao meio ambiente. Os ministros de energia do G-7, em reunião na Alemanha, ao afirmarem ser urgente realizar a transição para as energias renováveis, estabeleceram metas concretas para a instalação de “setores de eletricidade predominantemente descarbonizados até 2035”. É isso!

Não há qualquer dúvida: economias de “baixo carbono” somente serão alcançadas com o envolvimento concreto e direto do mundo empresarial, sejam embarcadores, transportadores ou Operadores Logísticos.

Mas a tarefa é difícil, pois é dado ao assunto uma complexidade muito maior do que a real e muitos interesses contrários estão envolvidos. Ainda em recente reportagem do jornalista Sergio Teixeira Jr. (UOL de 14.09.23 – “Califórnia vai exigir divulgação de carbono da cadeia completa”), na qual ele comenta lei aprovada pelo legislativo da Califórnia (Lei da Responsabilidade sobre os Dados Climáticos Corporativos), que exigirá das empresas do setor financeiro algumas divulgações climáticas, cujo envolvimento alcançará mais de 5,3 mil empresas – as queixas são inúmeras e o combate à lei preciso. Enquanto os bancos argumentavam ser “extremamente difícil para as instituições financeiras calcular e relatar emissões de escopo 3 com alto nível de confiança” (Sonja Gibbs, diretora do Institute of International Finance), as empresas de petróleo e gás, hospitais e do setor agrícola formaram um grupo para combater a proposta e, se for o caso, realizar contestações judiciais. Já o setor de tecnologia, talvez o mais importante da região, além de fazer campanha pela lei, agora apoia de forma concreta o seu cumprimento.

E aqui no Brasil, estarão nossas lideranças, políticas e empresariais, incluindo-se, mais especificamente, aquelas do setor logístico, preparadas para isso? A conferir.

 

(1) “Investimentos em infraestrutura: fundamentais e imprescindíveis para o Brasil”, foi artigo publicado por mim no site da Logweb em 27/09/2021.

(2) “O PAC e a infraestrutura logística e de transportes no Brasil”, artigo publicado no site da Logweb dia 15/09/2023.

(3) “Investimentos públicos e privados para melhoria da infraestrutura brasileira: fundamentais e imprescindíveis” – Guia do TRC de 28/08/18.

(4) “A descarbonização do planeta é urgente e imprescindível” foi o título de artigo que publiquei, dia 11/07/23 aqui mesmo no site da Logweb.

Paulo Roberto Guedes Paulo Roberto Guedes

Formado em ciências econômicas (Universidade Brás Cubas de Mogi das Cruzes) e mestre em administração de empresas (Escola de Administração de Empresas de São Paulo/FGV). Professor de logística em cursos de pós-graduação na FIA (Fundação Instituto de Administração), ENS (Escola Nacional de Seguros) e FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras). Membro do Conselho Consultivo da ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos, da qual também foi fundador. Membro do Conselho de Administração da ANHUMAS Corretora de Seguros. Diretor de Logística do CIST – Clube Internacional de Seguro de Transporte. Consultor Associado do escritório de Nelson Faria Advogados. Consultor empresarial e palestrante nas áreas de planejamento estratégico, economia e logística. Articulista de diversas revistas e sites, tem mais de 180 artigos publicados. Exerceu cargos de direção em diversas empresas (Veloce Logística, Armazéns Gerais Columbia, Tegma Logística Automotiva, Ryder do Brasil e Cia. Transportadora e Comercial Translor) e em associações dos setores de logística e de transporte (ABOL – Assoc. Brasileira de Operadores Logísticos, NTC&L – Assoc. Nacional do Transporte de Cargas e Logística, ANTV – Assoc. Nacional dos Transportadores de Veículos, ABTI – Assoc. Brasileira de Transp. Internacional e COMTRIM – Comissão de Transporte Internacional da NTC&L). Exerceu cargos de consultoria e aconselhamento em instituição de ensino e pesquisa (Celog-Centro de Excelência em Logística da FGV), de empresas do setor logístico (Veloce, Columbia Logística, Columbia Trading, Eadi Salvador, Consórcio ZFM Resende, Ryder e Translor) e de instituição portuária (CAP-Conselho de Autoridade Portuária dos Portos de Vitória e Barra do Riacho do Espírito Santo). Lecionou em cursos de pós-graduação na área de Logística Empresarial na EAESP/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas) e em cursos de graduação de economia e administração de empresas em diversas faculdades (FAAP-Fundação Armando Álvares Penteado, Universidade Santana, Faculdades Ibero Americana e Universidade Brás Cubas). Por serviços prestados à classe dos Economistas, agraciado com a Medalha Ministro Celso Furtado, outorgada pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo.

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