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Conteúdo 3 de maio de 2022

The dark side of the moon – Cap.3

O lado oculto da lua é a inspiração para eu contar fatos que existem, mas muitos desconhecem, e que tive a sorte de vivenciar como um protagonista da Logística.

 

O PAPEL DA GEOMETRIA NA LOGÍSTICA

I – CONCEITOS & AMPLITUDE DE APLICAÇÃO

É natural que ao passar do tempo as palavras de origem conceitual sofram alterações conforme a evolução de fatos e conveniências de linguagem na falta de palavras que representem novas aplicações. Vamos lá:

GEOMETRIA: É assunto para matemáticos, enquanto ciência, mas está em nosso cotidiano o tempo todo. Nomes como Euclides e Arquimedes certamente nos remetem para os princípios que relacionam “Forma”, “Dimensão”, “Posição”. Com o passar do tempo, a matemática “turbinou” a geometria, que se encontrou com a Física, e novos cientistas como Isaac Newton e Albert Einstein criaram inúmeras aplicações como: Cartografia, Biologia, Engenharia, Navegação, e claro, Exploração Espacial.

No entanto, na minha diretriz racional, encerro essa reflexão com um famoso desenho do também famoso Leonardo da Vinci “Homem Vitruviano” de 1.490, que procura relacionar as dimensões do corpo humano e as dimensões ideais sob a ótica da proporcionalidade.

LOGÍSTICA: No ambiente empresarial (não histórico e não militar) nasceu como sendo: “a parte integrante do Processo da Cadeia de Abastecimento que Planeja, Implementa e Controla de forma eficaz e eficiente o Fluxo e Armazenamento de Bens, Serviços e Informações, desde o ponto de origem ao ponto de consumo de modo a atender aos requerimentos dos Cliente”, definição do CLM – Council of Logistics Management (hoje CSCMP) e aceita globalmente. No Brasil adotei essa definição em 1989 quando presidi a fundação da ASLOG – Associação Brasileira de Logística.

No início, lá nos anos 70 trabalhando na General Motors em Detroit (USA), pela primeira vez tive contato com o termo “Logística”, na época relacionada à engenharia de Processo (Movimentação de Materiais e Layout). Então: Logística era parte da Engenharia Industrial, e assim foi até 1986.

Em paralelo a esse conceito, existia a NCPDM – National Council of Physical Distribution Management, originada do Marketing (lembra-se do “P” de Place?). E mais distante, outro vetor fundamentado na área de Suprimentos: Materials Management – Administração de Materiais que no Brasil dos anos 70 teve a 1ª associação profissional “pré logística”, que foi a ABAM – Associação Brasileira de Administração de Materiais.

Por isso a junção desses vetores pode ser representada como:

Com o tempo passando, a Logística foi sendo transformada e hoje tem múltiplas amplitudes, como:

INFRAESTRUTURA – Porto, Aeroporto, Ferrovia, Rodovia, Hidrovia, ou seja, já não se faz distinção entre Logística Empresarial e Infraestrutura Logística;

E-COMMERCE – Se apropriou do termo last mile de aplicação industrial no conceito Supply Chain Management;

GENÉRICOS – Festas, Obras, Viagens etc.

ATENÇÃO: Logística é um termo “substantivo” na língua portuguesa. Ao adicionar termo complementar, por exemplo: “internacional” como adjetivo, gerando “Logística Internacional”, está correto.

PRECAUÇÃO: Ao adjetivar a palavra Logística, é necessário não cometer erro conceitual como “Logística Urbana”, nesse caso errado, pois se tenta substituir o termo correto que é “Abastecimento Urbano” ou “Distribuição Urbana” enquanto Logística é uma ciência mais ampla.

PREVENÇÃO: Tem sido muito comum o uso inadequado da preposição “de” ligando o termo “LOGÍSTICA” com outro termo que representa um subsistema da própria, exemplo: Logística de Transporte, Logística de Armazenagem, Logística de Movimentação de Materiais etc. Está tecnicamente errado.

Portanto: ATENÇÃO, PRECAUÇÃO e PREVENÇÃO no uso do termo LOGÍSTICA sob ponto de vista gramatical e técnico é um cuidado permanente.

 

II – LOGÍSTICA + GEOMETRIA NA PALETIZAÇÃO

Registros históricos (são poucos) indicam que na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), para acelerar as operações das frotas marítimas nos portos, foi criado o conceito de “unitização” com estrados de madeira para içamento das cargas nos navios. Em pesquisa que fiz na França, no início do ano de 1980, verifiquei pela primeira vez a palavra “Palette” (grafia em francês) como a origem da palavra “Palete” (grafia em português) ou Pallet (grafia em inglês).

Nessa pesquisa, vi e li que o primeiro modelo padrão do palete europeu nasceu pela iniciativa das ferrovias SNCF (França) e DBAG (Alemanha) com base nas dimensões dos vagões de carga. Aí nasceu a dimensão 800 x 1,00mm, também conhecida como “Europalete” (também ISO1).

Ainda na Europa surgiu o ISO2 na dimensão 1.000 x 1.200mm, enquanto os EUA adotaram as medidas em polegadas, 41” x 48”, não só para paletes, mas para todo tipo de equipamento de movimentação da indústria automobilística onde nasceram essas medidas. Em meu tempo na GM, vivenciei projetos em Detroit, mas não adotei essas medidas para nossas operações no Brasil. Minha opção foi a modulação métrica.

Avançando no tempo, em 1986 aceitei o convite e criei o “Comitê de Logística” na ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados, e já em 1997 criei o GPD – Grupo de Palete de Distribuição. Naquela oportunidade, eu já era consultor de Logística da entidade que tinha como coordenador do Comitê de Logística Paulo Lima, à época Diretor do Grupo Pão de Açúcar. Dentro da visão sistêmica, convidamos entidades diretamente ligadas à cadeia de abastecimento no varejo, além da ABRAS: ABIA (Associação Brasileira de Indústria de Alimentos), representada por Amélio Fabrão Fabro e Mário Soares (ambos da Nestlè); ABIPLA (Associação Brasileira das Indústrias da Higiene e Limpeza), representada por Rubens Brambilla e Heleno Verucci (ambos da Gessy Lever hoje Unilever) e Nilson Daros (da BOMBRIL); NTC&L (Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística) representada por Rejane Arinos, da transportadora Dom Vital); ABRAPEM (Associação Brasileira dos Produtos e Embalagens de Madeira), representada por Vasco Flandoli e Giovana Rosa; IBF (Instituto Brasileiro do Frio) representado por Dário José da Silva e, como órgão certificador, o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas – Divisão de Madeiras), representado por Luis Tadashi.

Após longos meses e inúmeras reuniões, realizamos 17 projetos estruturais com características geométricas fundamentais:

Dimensão: 1.00 x 1.200mm; Fase dupla não reversível; Estrutura de Blocos e tábuas 100% de madeira; 4 entradas, Resistencia para 1.200kg

Os estudos e projetos (todos conduzidos gratuitamente pela Vantine Consulting), seguiram a seguinte metodologia:

IMPORTANTE: O projeto final aprovado pelo GPD foi submetido a ensaios do laboratório do IPT e a testes operacionais com caminhões carregados, em duas rotas: São Paulo/Porto Alegre e São Paulo/Salvador.

 

III – ESG EM 1990

A sigla ESG – Environmental, Social, Governance tem sido explorada na mídia desde 2021. No entanto já em 1990, (O lançamento oficial do Palete Padrão Intercambiável foi em 04/09/1990), apliquei as seguintes diretrizes:

E – Environmental – Meio Ambiente: 100% madeira reflorestada. Produtividade: 20 paletes /m³;

S – Social – Fiscalização em empregados na situação de escravo e utilização de menores;

G – Governance – Governança – Esse o lado complexo para implementar o palete intercambiável. Apliquei experiência da Europa (participei das decisões sobre palete na formação da UE em Genebra. Ações:

a) Criei e registrei a marca PBR, doada a “custo zero” à ABRAS;
b) Criei o CPP – Comitê Permanente de Paletização com a participação de 14 Associações Setoriais envolvida com Logística e Abastecimento. Inclui o IPT como Órgão de especificação e certificação;
c) Documentos de suporte para o sistema:

– Regimento Interno do CPP;
– Especificação Técnica do PBR/IPT;
– Desenhos Técnicos;
– Roteiro para Auditoria de Certificação de Fabricantes;
– Contrato de Concessão de uso de marca;
– Relatório Anual de Atividades.

RESSALVA – Após toda estruturação do PBR, presidi o CPP por quase 20 anos, sempre apoiado por valorosos representantes das associações. Atualmente podemos verificar nas lojas de atacarejo a má condição dos paletes nas prateleiras e com marcação incorretas que evidenciam serem fornecidos por fabricantes não credenciados. O que me admira muito é o uso desse equipamento por grandes fornecedores e CD´s de supermercados gigantes, muito deles multinacionais. Uma hipocrisia e irresponsabilidade.

 

IV – GEOMETRIA + LOGÍSTICA: PBG E A GERAÇÃO DE VALOR

Quando iniciamos com o GPD, em 1987, o amigo Paulo Lima, Diretor do Pão de Açúcar, comentou o absurdo: “Recebo uma carreta de 25 ton. de produtos em caixa de papelão e uso 8 funcionários para descarregar e paletizar no nosso palete, e lá no fornecedor usam outros tantos para tirar do palete de armazenagem para carregar o caminhão. Tudo isso em 3 horas de cada lado. O palete do fornecedor era diferente do nosso”.

Pronto!! Esse foi o fato maior para criar um palete intercambiável. E quais foram as contribuições que esse equipamento trouxe para as operações de Movimentação, Armazenagem e Transporte?

– Ser padronizado com especificações rígidas. Moeda única nos processos de abastecimento;

– Redução de peso e custo do palete;

– Redefinição das embalagens de consumo/embalagens de transporte modulares ao PBR, gerando o conceito de UPC – Unidade Padrão de Carga;

– Melhor ocupação útil dos armazéns e carrocerias de caminhões;

– Redimensionamento das carrocerias dos caminhões para transporte de carga paletizado com redução no frete;

– Revisão de projeto das estruturas porta paletes padronizadas com custo de produção menores;

– Padronização dos projetos de construção de prédios para Centrais de Distribuição com redução de custo de construção e definição de dimensões standard que facilita a múltipla utilização;

– Através da intercambialidade, a redução drástica do uso de mão de obra nas operações de carga e descarga, bem como, a redução de tempo de operação com a agilização das docas de recebimento e expedição;

– Utilização dos produtos paletizados como display nos postos de vendas das lojas de supermercados.

 

V – CONCLUSÃO

Há 35 anos retornando de viagem de trabalho da Europa, entusiasmado por enxergar o quanto o Brasil deveria ser desenvolvido para atingir o nível da Logística da França, Alemanha, Inglaterra, resolvi começar pela base e pensei “Palete Padrão – uma ideia que pode não dar certo” – virou artigo de revista.

Deu certo! Embora necessitando de severa correção de rumo!

Observação: Usei a primeira pessoa porque é uma narrativa vivenciada por mim.

José Geraldo Vantine José Geraldo Vantine

Fundador e presidente da Vantine Logistics & Supply Chain Consulting, tem histórico comprovado no setor de logística e cadeia de suprimentos. Possui habilidades em negociação, planejamento de negócios, gestão de operações, otimização da cadeia de suprimentos e planejamento de demanda. É considerado um dos pioneiros da logística no Brasil.

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