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Ferroviário 15 de outubro de 2021

Indústria ferroviária volta a ter expectativas positivas com o futuro do segmento no país

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“O setor ferroviário nacional tem muito potencial para voltar aos seus melhores momentos e para contribuir, inclusive, com a economia do país”. Esta foi a mensagem principal deixada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER), Vicente Abate, na NT Expo Xperience 2021, ponto de encontro digital do setor metroferroviário brasileiro.

Segundo ele, antes da indústria ferroviária voltar a dar sinais de recuperação, como estamos vendo agora, foram anos dramáticos no setor, agravados mais recentemente com a pandemia de Covid-19. “Ainda vivemos tempos difíceis, em termos de Brasil e de mundo, e esperamos que essa pandemia acabe o mais rápido possível. Mas, esse período de limitações que o setor enfrenta, na verdade, ocorre desde antes da crise sanitária. De 2015 para cá, tivemos uma grande redução no volume de fabricação de equipamentos do setor. Na época, contávamos com uma produção de 4.500 vagões no país, por exemplo, e em 2019 esse número mal passava de mil. Com isso, naturalmente, perdemos muita mão de obra especializada. Nos últimos três anos, deixamos de contar com cerca de quatro mil profissionais diretos do setor, que totalizam uma mão de obra em torno de 20 mil no país. Foi muita coisa”, lamentou.

Entretanto, desde 2020 o setor passou a ter novas expectativas e a acreditar novamente em uma retomada, de acordo com Abate. Isso porque algumas frentes, que antes estavam estagnadas, voltaram a ter continuidade, como as renovações antecipadas de concessões. “Já no ano passado, foram concedidas algumas dessas tão aguardadas renovações antecipadas. E já tem mais algumas a caminho, que podem vir a dar um novo gás ao setor. Com esse ciclo fechado, que esperamos que termine até o final de 2022, teremos todas as concessionárias de transporte de cargas com seus contratos renovados e com condições de colocar em prática os investimentos previstos. Com isso, a demanda da indústria local poderá voltar a aumentar”, disse.

Outra ação que deve ser enaltecida, para ele, é a iniciativa do Governo Federal em lançar o Programa Pró-Trilhos, no início de setembro deste ano, que tem como intuito fomentar o desenvolvimento do setor no país. Mês de setembro, aliás, que ficou marcado como o “Setembro Ferroviário”, disse. “Temos que enaltecer essa iniciativa, que foi muito benéfica ao setor, pois assim que o Programa Pró-Trilhos foi lançado, dando início ao que foi chamado de ‘Setembro Ferroviário’, já tivemos como resultados imediatos as assinaturas de três novos contratos para o setor: para as construções do segundo trecho da FIOL e do primeiro trecho da FICO, e para a instalação do aeromóvel no Aeroporto de Guarulhos (SP), que vai garantir mais qualidade ao transporte dentro do complexo, de forma mais confiável, econômica e segura”.

O mesmo retorno positivo se teve com as autorizações ferroviárias, também anunciadas como parte do “Setembro Ferroviário”. Com elas, basicamente, será possível que empresas e investidores interessados construam novas ferrovias ou invistam na melhoria de trechos já existentes – sem a necessidade de passar por leilões ou concessões, de uma maneira mais simples e menos burocrática. “Isso foi muito importante, pois despertou o interesse de novos players para o setor. A atratividade foi tanta que, um dia depois do anúncio dessa possibilidade, no dia 2 de setembro, já haviam onze pedidos de empresas interessadas. Pouco depois, no dia 17 de setembro, chegaram mais três propostas”, exaltou.

Com tudo isso, a confiança em um reaquecimento do setor volta a ser mais forte. “A expectativa é que tenhamos uma participação muito maior do setor ferroviário na matriz de transportes brasileira nos próximos anos: podendo até dobrá-la, saindo da atual casa de 20% e chegando aos 40%. Isso, sem dúvida, tornaria a matriz de transportes nacional muito mais equilibrada e integrada entre todos os modais”, completou.

Transporte Metroferroviário de Passageiros – Já a situação do transporte metroferroviário de passageiros no Brasil é mais drástica, do ponto de vista da indústria do setor, segundo o presidente da ABIFER. “A indústria de transporte de passageiros sobre trilhos espera por um socorro, já que as fábricas que produzem trens para este mercado estão, basicamente, fechadas e enfrentando quase 100% de ociosidade. Enquanto a linha de produção do setor de transporte ferroviário de cargas permaneceu vigorosa, até com um certo volume movimentado mesmo durante a pandemia, a de passageiros sofreu bastante, com uma redução de até 80% de seu volume no auge da crise sanitária”, pontuou.

Mas, de acordo com ele, agora podemos voltar a ter perspectivas mais positivas com este mercado também, já que algumas novas demandas começaram a surgir. “Temos a implantação da linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, que contratou a fabricação de trens nacionais. As linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM também foram repassadas à iniciativa privada neste ano e seguiram o mesmo caminho – elas também contrataram a produção de vagões nacionais. Temos ainda algumas encomendas do exterior, então voltamos a ter expectativas de melhoras para a indústria voltada a este setor também”, complementou.

Quem também defendeu um maior investimento para o setor de transporte de passageiros foi o conselheiro da ABIFER e diretor delegado do SIMEFRE, Renato Meirelles, que aproveitou a participação no evento para lançar a Frente Brasil Trem Jeito, que tem como objetivo atuar exatamente em prol deste segmento. “A intenção dessa frente é fomentar o debate sobre o desenvolvimento deste mercado e ajudar a introduzir novas leis e procedimentos que permitam atrair mais atenção ao transporte público de passageiros sobre trilhos no país, inclusive por parte dos órgãos públicos”, disse.

Para ele, esta discussão, que deve alcançar todos os órgãos competentes do setor, estaduais e federais, será baseada em três pilares. “O primeiro deles é no âmbito dos organismos, com a ideia de criar um órgão regulador exclusivo para o transporte de passageiros, algo que não existe mais no país. Da mesma forma, sugerimos também a criação de uma agência nacional de investimentos, que concentre todos os aportes do setor, de forma organizada”, realçou.

Consequentemente, disse, o segundo pilar é o econômico. “A ideia é estimular uma estruturação financeira do setor e a criação de fundos garantidores, compostos pelos mais diferentes recursos, como de investimentos cruzados e de ‘externalidades’ (valorização imobiliária do entorno das estações, venda de espaços publicitários e etc). O terceiro é o que valoriza a indústria nacional: nós temos uma engenharia ferroviária muito grande no país que pode, e deve, ser utilizada. Temos todo o potencial para atender toda e qualquer demanda do mercado. Faz oito anos que a indústria nacional não recebe nenhum pedido de encomenda. Então, precisamos voltar a pensar mais no Brasil e no nosso mercado. Isso não é protecionismo, é querer dar mais competitividade à nossa indústria e deixá-la mais igualitária com o mercado internacional”, concluiu.

ESG – Outro assunto de destaque deste terceiro dia de NT Expo Xperience foi o ESG (Environmental, Social and Governance), ou seja, as práticas de governança ambiental, social e corporativa por parte das companhias, tema bastante difundido atualmente com a pauta sobre sustentabilidade ganhando cada vez mais força no setor.

Quem falou mais sobre o assunto foi o editor-chefe da revista Transporte Mundial, Marcos Villela, na palestra “Desconstruindo mitos do passado e construindo o futuro com a principal agenda global: o ESG”. “O conceito de ESG no setor ferroviário, e de transportes como um todo, é a ‘nova ordem mundial’ para o pós-pandemia. Os princípios deste conceito são, e serão ainda mais, fatores e critérios para a tomada de decisões estratégicas e de investimentos visando um mundo mais sustentável nos pilares ambiental, econômico, ético e social”, salientou.

Mas, para ele, não basta apenas o setor enveredar neste sentido e somente comunicar ou se deixar perceber pelos players do próprio segmento. Pelo contrário, Villela acredita que o ideal é mostrar os respectivos valores dos negócios e do setor ferroviário para a sociedade como um todo. “O setor ferroviário precisa se comunicar mais com a sociedade em si, para que todos saibam da importância e do enorme potencial do setor para o país”, finalizou.

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