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Entrevista 21 de junho de 2018

Novo secretário de Logística e Transportes, Mário Mondolfo fala sobre a logística no Estado de São Paulo

Mário Mondolfo, Secretário de Estado de Logística e Transportes de São Paulo, entrevista junho 2018

O engenheiro Mário Mondolfo assumiu oficialmente no dia 23 de abril último a Secretaria de Estado de Logística e Transportes de São Paulo, nomeado pelo governador Márcio França. Especialista em engenharia estrutural pela USP e em engenharia de segurança do trabalho pela Universidade Mackenzie, onde também se graduou em engenharia civil, Mondolfo tem 40 anos de experiência no segmento de engenharia de infraestrutura de transportes, tanto na iniciativa privada como no setor público. Foi superintendente de Exploração da Infraestrutura Rodoviária na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), diretor de engenharia no DER e gerente na DERSA – Desenvolvimento Rodoviário S/A, empresa estadual na qual trabalhou de 1988 a 2008. Também atuou como assessor na Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) e no Metrô. Nesta entrevista exclusiva a Logweb, o novo secretário fala dos maiores problemas logísticos enfrentados no Estado de São Paulo e como estão sendo resolvidos por parte do governo estadual, a relação da secretaria com os transportadores e o que pretende deixar de legado para a nova gestão na secretaria de Logística e Transporte, entre outros temas.

Logweb: Quais os maiores problemas logísticos enfrentados no Estado de São Paulo?
Mondolfo: O Estado de São Paulo possui o melhor sistema rodoviário do Brasil. Além dessa poderosa infraestrutura e dos serviços correspondentes, tem jurisdição sobre o Porto de São Sebastião, aeroportos regionais, Hidrovia Tietê-Paraná em território paulista e as travessias litorâneas. O vasto aparato rodoviário enfrenta o formidável desafio de veicular mais de 80% do fluxo de cargas e quase 100% de passageiros intermunicipais (não metropolitanos) no Estado mais desenvolvido do país. Essas cifras configuram uma divisão modal incomum mesmo no plano internacional, ou seja, perto da totalidade da demanda de transportes alocada a um único modal. Tal circunstância ressalta os grandes desafios do poder público em sua missão de garantir os deslocamentos e atenuar as dificuldades. O Governo do Estado tem aplicado recursos técnicos e administrativos e realizado fortes investimentos financeiros ano a ano para avançar cada vez mais no aprimoramento da nossa logística.
Vários outros fatores se somam para acentuar gravemente o desafio, dentre eles o fato de numerosos e importantes elementos do sistema de transportes e de sua regulação transcenderem a jurisdição estadual. Sob esse ponto de vista, a Secretaria de Transportes tem atuado em parceria com o Governo Federal e a própria Secretaria de Transportes Metropolitanos no modal ferroviário. Um desses aspectos, além de outros, que está em estudo na Secretaria é o projeto do Ferroanel Norte em desenvolvimento na DERSA e que depois de construído terá forte impacto positivo nas operações da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos e na logística das movimentações de carga na RMSP – Região Metropolitana de São Paulo. O Ferroanel Sul já foi estruturado e foi pensado em sinergia com o Rodoanel Sul. Nesse complexo e intrincado contexto, é compreensível que, não obstante as múltiplas realizações e resultados positivos alcançados pela administração de transportes, surjam gargalos e pontos críticos que implicam custos e prazos maiores das viagens, impondo restrições à competitividade do sistema produtivo. Tendo consciência dessa situação, o Estado deu um passo estratégico ao incluir a função “logística” no escopo da Secretaria, para habilitá-la a contribuir para a otimização dos fluxos, sendo, no caso de mercadorias, desde a origem primária dos insumos até a entrega do produto final ao consumidor. Além disso, determinou a atualização o Plano Diretor de Logística e Transportes (PDLT) e a identificação das estratégias que possam melhor habilitar a Secretaria ao enfrentamento dos desafios. No diagnóstico do Plano Estratégico, caracterizou-se uma situação onde, na ausência de indução estatal, de alcance intergovernamental, o complexo de transportes se adaptou aleatoriamente, quase unicamente ao sabor das forças de mercado. Disso resultou um sistema regional difuso e fragmentado, onde infraestruturas ou serviços logísticos detidos por operadores de base rodoviária conectam infinitos pares de origem e destino. Mais de 80% dos fluxos (em t.km úteis) está sobre caminhões, e, não obstante a excelente qualidade do sistema rodoviário paulista, essa concentração gera resultados desfavoráveis: custos elevados, poluição, mais acidentes do que nos modos não rodoviários, algo como 40% da quilometragem com caminhões vazios, congestionamentos diários nas conexões das autoestradas com a RMSP e outras cidades e junto ao Porto de Santos. Uma área da logística que tem crescido em importância em período recente, seja pela mudança do padrão de consumo ou pelos problemas de mobilidade nas grandes cidades, é a distribuição de produtos nas áreas urbanas, a chamada logística urbana. Tudo considerado, no plano mais amplo da logística, sabe-se que no país a operação das empresas se modernizou, mas o sistema regional de suporte à mesma permanece atrasado. Esse é outro fator que inibe a redução dos custos e a melhoria da competitividade do sistema produtivo paulista, atributos essenciais em uma era de transformações, marcadas por desverticalização e dispersão da indústria, globalização das trocas e do e-commerce.

Logweb: Como eles estão sendo resolvidos por parte do governo?
Mondolfo: Através da Secretaria de Logística e Transportes, o Governo do Estado está centrando seus trabalhos em duas vertentes: ao mesmo tempo em que mantém o foco na correta identificação dos estrangulamentos e pontos críticos da infraestrutura e dos serviços, elementos para a ação imediata, a Pasta continua desenvolvendo o PDLT – Plano Diretor de Logística e Transportes para a formulação de estratégias transformadoras para longos prazos.

Logweb: Como é a relação da Secretaria de Estado de Logística e Transportes com os transportadores? São feitas reuniões, ouvidas reivindicações, etc.
Mondolfo: A Secretaria de Transportes passou a ser designada por Secretaria de Logística e Transportes (SLT). Essa mudança sinaliza um importante avanço da política estadual, refletida no escopo da Pasta. É um segundo passo de reestruturação para responder, no seu campo de ação, às novas demandas de qualidade de vida e competitividade que a sociedade moderna coloca com ênfase crescente. O primeiro movimento foi marcado pela criação das unidades de atendimento nas estradas, pelo programa de concessões rodoviárias e pela criação da uma agência reguladora. Da tradicional ênfase na simples provisão de infraestrutura física, a SLT evoluiu para o conceito de prestação de serviço, implícito no estatuto da concessão. Não menos importante foi a redistribuição das responsabilidades últimas pelo investimento nas rodovias concedidas – do contribuinte em geral para o usuário – em respeito à equidade e aos princípios básicos da economia de transportes, cabendo ao concessionário financiar a fase inicial de cada projeto e remunerar-se posteriormente via tarifa. O segundo e atual passo é ainda mais significativo e impactante. No contexto mais amplo do transporte sustentável, a SLT passa a focalizar, na sua plenitude, além da infraestrutura física, as condições do deslocamento de passageiros e de cargas: seus tempos e custos, sua previsibilidade, a concatenação dos fluxos nos pontos de transferência, a disponibilidade de informações, a regulação adequada, a suficiência do suporte à logística das empresas privadas. A Pasta, portanto, se preocupa com o desempenho de todos os modos em território paulista, independente das jurisdições às quais estão vinculados. Entretanto, do ponto de vista organizacional, a herança histórica da Secretaria de Transportes ainda lhe confere um “DNA” primordialmente rodoviarista, impondo novos desafios quanto ao foco na logística e nas demandas multimodais. Assim, não obstante a atenção dedicada também à hidrovia, aos aeroportos regionais, ao Porto de São Sebastião e às travessias litorâneas, o cerne do esforço e dos investimentos da SLT são as rodovias estaduais e vicinais, com poucos recursos humanos e materiais alocados aos outros modos e ao intermodalismo, estratégia chave do PDLT. Para atender a esses propósitos a formulação do PDLT e a gestão da SLT devem ser praticados de forma ainda mais aberta e participativa, fortalecendo seus conteúdos mediante a incorporação das contribuições e comentários dos interessados nos vários campos pertinentes.
O escopo do PDLT propõe a implantação de mecanismos permanentes de consulta aberta aos vários segmentos de interesse. Está proposta a criação de eventos sistematizados para diálogo e captação de críticas e sugestões dos administradores da SLT e dos interessados no bom funcionamento do sistema estadual de transportes e logística em todos os seus aspectos. Por possibilitarem debates e troca de ideias ao vivo, eles ensejariam fertilização cruzada de ideias e seriam eficientes instrumentos para que a SLT possa preencher plenamente o seu escopo. No âmbito do Plano Estratégico propõe-se a instalação de Comitês de Aconselhamento do PDLT, constituídos por grupos de empresários e representantes externos e membros da SLT, para trabalhar em reuniões de acompanhamento e de geração de ideias, com agenda proposta pela Secretaria. A estrutura organizacional da SLT deverá estar habilitada para conviver, em regime de comunicação dinâmica, com o setor privado que opera e explora os serviços de transportes e logística. Há que conhecer as demandas de deslocamento no contexto da economia, planejar estratégias, harmonizar interfaces, propor medidas institucionais e intergovernamentais, dar suporte a sistemas de informação – bases de dados e os fluxos informacionais delas derivados – e reagir prontamente a fatores supervenientes. É proposta também a instalação de Comitês de Coordenação Intermodal integrados por representantes dos setores público e privado. O objetivo é uma estrutura organizacional cada vez mais configurada no sentido de permitir uma interação sistematizada com o setor privado, em fóruns capazes de combinar os balizamentos inerentes à função pública com a flexibilidade da entidade particular.

Logweb: A que fator logístico o novo secretário vai dar mais atenção, já que o seu mandado não é de quatro anos?
Mondolfo: Daremos continuidade, conforme orientado pelo Governador Marcio França, às ações em andamento na SLT, que constam em seu planejamento anual, com respaldo orçamentário e mobilização de fontes diversas de financiamento. Essas ações garantem a continuidade das operações correntes da Secretaria e seus serviços e, sob a ótica de projetos, integram-se, em síntese, nas seguintes grandes vertentes: Modernização e ampliação da Hidrovia Tietê-Paraná; Expansão do Porto de São Sebastião; Implantação do Trecho Norte do Rodoanel para o fechamento completo do anel viário; Continuidade da execução das obras da Nova Tamoios Contornos, em Caraguatatuba e São Sebastião; Ampliação e recuperação das estradas estaduais; e iniciativas nas demais áreas.
Paralelamente, continuaremos a desenvolver projetos estratégicos no âmbito do PDLT de forma a permitir a configuração de um sistema de transporte e logística com ampla mobilidade para passageiros e cargas no Estado de São Paulo.

Logweb: O que se pretende deixar de legado para a nova gestão na secretaria de Logística e Transporte?
Mondolfo: Pretendemos deixar como legado para a nova gestão uma série de projetos já em estágio avançado de desenvolvimento dos estudos. Entre outros, esta carteira envolve projetos nas áreas de ampliação da malha ferroviária regional para passageiros e carga geral na Macrometrópole Paulista (MMP), como o já citado Ferroanel, o Anel Viário Macrometropolitano e o Orbital da Macrometrópole; na área de segurança, para reduzir o número de vítimas graves e fatais na malha rodoviária paulista; planos diretores regionais para contribuir com a alavancagem do desenvolvimento das vocações econômicas das várias regiões do Estado; no âmbito da intermodalidade, especialmente na integração hidroviária e ferroviária para além da MMP; e um novo plano de investimentos aeroportuários. Estamos trabalhando também para remover todos os pontos críticos dos projetos em andamento de forma que a gestão já conte, a partir de 2019, com uma carteira de projetos de grande porte que, se implantados, irão certamente gerar no longo prazo um novo patamar para a infraestrutura logística paulista nas suas diversas áreas.

Mondolfo: O Estado deu um passo estratégico ao incluir a função “logística” no escopo da Secretaria, para habilitá-la a contribuir para a otimização dos fluxos, sendo, no caso de mercadorias, desde a origem primária dos insumos até a entrega do produto final ao consumidor.

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