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Capa 13 de março de 2020

O papel dos Operadores Logísticos na expansão do segmento. O que deve e o que não deve ser feito

Com previsão de expansão significativa nos próximos anos, o segmento de logística promete mudar a postura dos Operadores Logísticos, em termos de serviços prestados e atendimento ao seu cliente. Sem contar as novas exigências que certamente virão.

 

Segundo o BTG Pactual, o setor logístico no Brasil deverá mostrar expansão exponencial no decorrer dos próximos anos. “O mercado nacional de logística está pronto para crescer muito nos próximos anos”, apontam os analistas Elvis Credendio e Gustavo Cambauva.

Os motivos para o otimismo incluem baixa relação ABL (Área Bruta Locável) per capita, recuperação da economia como um todo e aceleração do crescimento do e-commerce.

 

Papel dos OLs

Mas, como ficam os Operadores Logísticos inseridos nesta expansão do setor logístico?

Marcelo Caravieri Vicente, do departamento Comercial da Taglog Serviços Logísticos, lembra que a economia do Brasil vem retomando seu ritmo de crescimento aos poucos e ano a ano. O ritmo industrial e o e-commerce devem ser fomentados, fazendo com que as empresas necessitem de espaços para suas operações.

“Neste sentido, os OLs buscam se adequar oferecendo instalações logísticas com nível alto de qualidade, melhor localização estratégica, máquinas e equipamentos e mão de obra cada vez mais especializada, proporcionando maior agilidade e redução de custo para as empresas”, diz Vicente.

Vale lembrar que, como diz Osmar Munhoz Junior, CEO da Trasmarine Contract Logistic, a própria crise dos Correios, que não é nova, impulsionou o crescimento do setor de logística. Há cerca de três anos, os Correios deixaram de oferecer o serviço de frete com entrega rápida e-Sedex, dirigido para o mercado de comércio eletrônico, por exemplo. E as pequenas e médias empresas que operam na plataforma virtual tiveram de buscar empresas de logística para atender essa demanda.

Algumas operadoras de logística – continua Munhoz Junior – surgiram justamente porque perceberam uma oportunidade de mercado. No entanto, a logística é um serviço bastante complexo, que exige, sobretudo, experiência para satisfazer as necessidades dos clientes. É um serviço que passa por várias etapas e todas elas precisam ser bem executadas para chegar ao melhor resultado final: entregar a mercadoria no prazo para o cliente.

Erica Couto, diretora sênior de Desenvolvimento de Negócios da DHL Supply Chain no Brasil, por outro lado, destaca que as cadeias de suprimento estão passando por um momento de grande transformação. Os principais impulsionadores são a transformação digital e seus novos modelos de venda, com especial destaque para o acelerado crescimento do e-commerce. Uma pesquisa da DHL aponta que este segmento deve crescer cerca de 17% ao ano até 2021 no Brasil. Na América Latina esse índice é ainda maior, 22%. O consumidor, por sua vez, tem demandas cada vez mais sofisticadas de experiência de compra.

“Com isso, as cadeias de suprimentos estão passando por um processo completo de revisão de desenho e estratégia, sendo que as indústrias estão em diferentes estágios de maturidade. Cresce, assim, nosso papel enquanto analista estratégico e consultor para este novo momento do mercado. Mais do que apenas movimentar carga, vamos atuar como especialistas em como montar e operar cadeias de suprimentos resilientes, flexíveis e eficientes”, ressalta Erica.

A análise de Nadir Moreno, presidente da UPS Brasil, também passa pelo B2C, colocando o consumidor final no centro. “O objetivo dos nossos clientes é vender, enviar e entregar os produtos que os consumidores desejam, onde e quando os desejam. Precisamos viabilizar isso. Em B2B, é preciso criar cadeias de fornecimento mais eficientes, gerando maior crescimento aos negócios dos clientes. Também é preciso melhorar os serviços e o valor para as pequenas e médias empresas e apoiar os esforços deste segmento econômico em reduzir as complexidades e os custos logísticos. “A melhor maneira de fornecer um serviço mais eficiente ao cliente é investir no desenvolvimento de novas soluções que atendam as suas necessidades e em tecnologia”, diz Moreno.

Barbara Calderani, diretora comercial da Rodomaxlog Armazenagem e Logística, também faz questão de destacar que os OLs são um elo muito importante da cadeia de abastecimento, oferecendo uma gama de serviços vasta que facilita a finalização e distribuição dos produtos do comércio e da indústria. “Os serviços como embalagem, armazenagem, separação, controle de estoque e distribuição são oferecidos pelos OLs de modo a facilitar e até baratear os custos do mercado, uma vez que esses serviços são prestados em grande escala, reduzindo perdas e gerando maiores lucros ao comércio em geral. O nosso papel é oferecer esses serviços a um preço justo, possibilitando um crescimento do mercado sem grandes investimentos em estoque, controles e depósitos do comércio varejista.”

O papel dos Operadores Logísticos é fundamental não somente para o crescimento do próprio setor, mas também para o almejado aumento da eficiência da economia brasileira como um todo. A análise, agora, é de Eduardo Leonel, diretor Corporativo de Vendas, BI, Marketing, Projetos e Engenharia da TPC Logística Inteligente, segundo o qual, nos EUA, gastos com logística somam 8% do PIB, enquanto no Brasil representam 12%. Esta perda de eficiência tem motivos tão conhecidos quanto complexos, como nossa mega burocracia fiscal, alta concentração de transportes no modal rodoviário e gaps de infraestrutura do país.

Marcelo Saraiva, presidente da Brado Logística, também acredita que os Operadores Logísticos precisam entender cada vez melhor o que o cliente realmente quer, pois cada um deles tem uma necessidade diferente em relação ao serviço logístico.

Ainda para Saraiva, os OLs devem focar em dois pontos principais para se tornarem facilitadores de crescimento de mercado: primeiro, controlar e reduzir os custos internos, e nunca repassá-los ao mercado; e, em segundo lugar, os OLs devem estar sempre muito próximos dos clientes, serem flexíveis e estarem abertos a “mudanças de rotas”. Em resumo, os OLs não podem ser “engessados”, precisam sempre ser muito resilientes para se tornarem sempre a primeira opção para os seus clientes.

Alexandre Caldas, CEO da Pacer Logística, avalia que, com a esperada retomada do crescimento econômico em 2020, a indústria e o comércio necessitarão de operações logísticas mais eficazes para atender ao aumento de demanda. Ao mesmo tempo, essas operações não podem representar um incremento de custo acima da capacidade que o mercado pode absorver.

“Este é um desafio para os Operadores Logísticos, pois alguns custos operacionais têm crescido, especialmente no transporte, desde a imposição de uma tabela de fretes. Entendemos que esta é uma interferência indevida do governo nas relações entre entes privados, que pode ter repercussões negativas para o país. Os fretes mais caros certamente impactarão não apenas os Operadores Logísticos, mas também os embarcadores e, por fim, os próprios consumidores. Esperamos que a Justiça não autorize esta imposição”, diz Caldas. Na visão de Paulo Sarti, diretor-presidente da Penske Logistics, os clientes vêm ajustando o olhar para o processo de terceirização dos serviços logísticos entendendo que contratando especialistas neste setor conseguem dar foco ao seu core business. O papel do Operador Logístico, então, é apoiar as reações à demanda através de garantia de nível de serviço. Os OLs poderão ajudar ao desenharem soluções customizadas, adotando sinergias de recursos, a fim de ofertar soluções competitivas e ágeis ao negócio dos clientes”, acrescenta Sarti. “De fato, o OL deve tirar a atenção das empresas dos temas voltados à armazenagem e distribuição e, assim, elas poderão focar nas suas atividades principais, produtos e negócios”, completa Luiz Correia, gerente de Operações Logísticas da Ativa Logística.

Gerson V. Medeiros, diretor-presidente da GVM Solutions Brasil, destaca que a missão dos OLs, nessa fase da economia, é prover serviços integrados de transportes ‘inland’ e ‘overseas’, armazenagem & handling e gestão da cadeia de suprimentos, através de contratos estruturados e de média/longa duração, pois essa modalidade permite investimentos para aumento da produtividade e visibilidade para o contratante e contratado.

 

Reciclagem

Neste contexto, é interessante saber o que os OLs terão de fazer para acompanhar este crescimento.

Na visão de Correia, da Ativa, eles precisarão manter sempre as equipes comerciais, operacionais, financeiras e de projetos alinhadas com o crescimento do mercado e dispor das condições para o investimento necessário.

“Os Operadores terão de se modernizar, e não me refiro somente a investimentos em tecnologia, mas sim – e principalmente – na questão comportamental, em seus posicionamentos frente ao mercado. Os OLs devem estar antenados com as últimas tendências em responsabilidades social e ambiental. Estar em sintonia com os anseios de uma sociedade que busca ser mais sustentável é fundamental para as OLs serem mais relevantes e fecharem negócios”, acrescenta Saraiva, da Brado.

Já na visão de Ronaldo Fernandes da Silva, presidente da FM Logistic do Brasil, para melhorar a produtividade e aumentar a competitividade no mercado, é fundamental acompanhar as tendências na área de tecnologia. Isso é primordial para as operações e reflete diretamente no sucesso do negócio. Ao investir em tecnologia, se projeta e antecipa o futuro da logística dos clientes. “A automação e a transformação digital são fatores primordiais para as empresas que atuam no segmento de logística. Os operadores têm buscado de forma incessante mais tecnologia e modernização para aumentar a produtividade. O grande desafio global do setor é o omnichannel e nossa atenção está voltada a esse nicho de negócio”, diz Silva. Ele é complementado por Medeiros, da GVM Solutions, para quem também serão necessários investimentos em capacitação profissional, Tecnologia da Informação, implementos rodoviários e infraestrutura de movimentação e armazenagem para armazenagem & handling. À necessidade de atuação tecnológica, Sarti, da Penske, soma a de manter os investimentos em inovação de processos.

A lista de Fernando Villar, gerente Comercial e de Marketing da Quality Logística, também envolve investimento em pessoas, em tecnologia e serviços on-line para aprimoramento de gestão operacional. “As margens de lucro de uma operação logística estão cada vez mais apertadas, dessa forma investir em tecnologia gera automação e, com isso, redução de custos e retrabalho”, acrescenta Barbara, da Rodomaxlog.

Assim como acontece em economias mais avançadas, os grandes investimentos em infraestrutura devem ser lastreados de alguma forma pelos governos, pois requerem longo prazo de maturação e marcos regulatórios claros e estáveis.

“A meu ver – continua Leonel, da TPC Logística Inteligência –, os investimentos mais viáveis e importantes a serem realizados no âmbito dos OLs devem focar em gestão e visibilidade de informações em tempo real ao longo das cadeias de suprimentos, visando mitigar as deficiências mencionadas anteriormente.”

Já para Munhoz Junior, da Trasmarine, em primeiro lugar, é necessário investir em mão de obra qualificada em todas as etapas do processo. A promoção de soluções integradas nas operações nacionais e internacionais, desde sua origem até o seu destino, na gestão de todos os elos da cadeia logística, também se tornou fundamental. Além disso, é necessário investir em infraestrutura.

 

Exigências

Em contrapartida, o que será exigido dos OLs nesta expansão?

“Quando falamos em expansão, sempre pensamos em ampliação da área de locação e investimento, porém precisamos, antes disso, melhorar a relação de estoque e área, ou seja, guardar mais produtos na mesma área. Um bom estudo nesse sentido sempre traz bons resultados”, diz Correia, da Ativa.

Saraiva, da Brado Logística, destaca que, quem manda no mercado é o cliente. Por isso, é preciso exercer de fato as responsabilidades social e ambiental, além, claro, de oferecer os melhores serviços. É preciso ofertar além dos serviços puramente logísticos.

“O que o mercado mais exige é know how, serviços de qualidade e customizados, bem como empresas que investem constantemente em tecnologia e inovação de recursos humanos, sempre atentas ao meio ambiente”, aponta Silva, da FM Logistic, dizendo-se otimista com relação a uma retomada da economia brasileira e à estabilidade da taxa cambial, o que refletirá positivamente nos mercados atendidos pela empresa.

Para Erica, da DHL Supply Chain, além da capacidade técnica em relação ao desenho de cadeias de suprimentos, os OLs deverão ter cada vez mais conhecimento das especificidades do e-commerce e outros modelos associados ao omnichannel. Eles deverão também ter expertise em tecnologia, para escolher e operar as melhores ferramentas do mercado e, principalmente, mergulhar na análise de dados e utilização de inteligência artificial para fazer soluções preditivas e altamente eficazes.

A lista de exigências de Medeiros, da GVM Solutions, inclui foco, superação e reciprocidade, para que os SLA´s sejam progressivos, assertivos e ajustados à indústria 4.0 e à IOT. “O desafio será manter operações eficazes e competitivas em um ambiente de custos crescentes. É uma oportunidade para Operadores Logísticos que sabem ir além do modelo tradicional de serviços e desenvolvem soluções criativas, com novas tecnologias e processos mais eficientes”, enfatiza, agora, Caldas, da Pacer.

Realmente, em um ambiente de retomada e de grande concorrência, compreender o mercado e ser criativo serão diferenciais de destaque, segundo Vicente, da Taglog. Ainda de acordo com ele, a procura por serviços mais customizados e soluções avançadas pode atrair o setor privado, garantindo maior envolvimento em toda a cadeia, como, por exemplo, serviços “door to door”, “port to door” e terceirização da operação logística.

Para Sarti, da Penske, será exigido atendimento a níveis de serviço elevados, garantia de gestão de dados em ambientes de alta disponibilidade e adoção de ferramentas de ampliação de produtividade homem/hora. Ou, como diz Villar, da Quality: serão necessárias criatividade, velocidade, flexibilidade e muita, muita inovação.

Barbara, da Rodomaxlog, também destaca qualidade e eficiência. Segundo ela, com o crescimento do mercado, novos players tendem a se arriscar na área de operação logística e o diferencial será a qualidade do serviço prestado com maior controle e acompanhamento tecnológico possível. “O cliente quer acompanhar 24 horas por dia o processo – informação vale ouro.”

Personalização dos serviços também se faz necessária nesta nova realidade. Munhoz Junior, da Trasmarine, lembra que é preciso oferecer um serviço diferenciado, focado e desenvolvido a partir das necessidades individuais de cada cliente. Ou, como diz Moreno, da UPS Brasil, uma estreita colaboração com os clientes, para garantir que tirem proveito de todos os produtos e serviços disponíveis para ajudá-los a ter sucesso à medida que novas oportunidades surgirem.

Opinião diferenciada das demais tem Leonel, da TPC Logística Inteligente. Segundo ele, para termos a melhor contribuição dos OLs nesta expansão, inclusive para atuar como 4PL, precisaremos destravar uma questão regulatória importante: a figura jurídica do Operador Logístico não existe formal e legalmente no Brasil, o que resulta em grande complexidade administrativa e em bitributação. Para se ter uma ideia, a lei de Armazéns Gerais, que regula os serviços de armazenagem prestados pelos OLs, é de 1903, lembra ele.

 

O que não fazer

Ainda neste processo de expansão, fica a dúvida: O que não poderá ser feito, de maneira nenhuma, pelos OLs.

Para o presidente da Brado, ficar desconectado dessas novas exigências do mercado, que pede por empresas mais sustentáveis. “Quem não sair da zona de conforto, não provar que busca se destacar e impactar cada vez menos o meio ambiente, devolvendo parte do seu crescimento para que toda a sociedade também cresça e evolua, inevitavelmente caminhará para o fim de suas atividades”, proferiza Saraiva.

Ou, como aponta Erica, da DHL Supply Chain, ficar preso a velhos modelos e conceitos. “O que funcionou muito um dia, pode não ser mais adequado agora. Ou seja, não podemos ter resistência ao novo, mas sim abraçar de forma estruturada e profissional as novas possibilidades, aplicando-as nas situações e contextos devidos.”

Para Silva, da FM Logistic, os OLs não podem deixar de oferecer soluções customizadas e entender as necessidades dos setores da economia para, assim, desenvolver projetos eficazes e eficientes que auxiliem empresas a desenvolverem suas operações logísticas com custo competitivo e agilidade operacional. “Não se pode burocratizar o processo, e integração deve ser a palavra de ordem: quem não se conectar e estiver aberto a integrações e parcerias tende ao fracasso”, alerta Barbara, da Rodomaxlog.

Caldas, da Pacer, lembra que a missão dos Operadores Logísticos é promover ganhos operacionais a seus clientes. Portanto, serviços que elevem os custos, em um momento de recuperação de mercado, não devem encontrar espaço. Este é o desafio. E por isso, imposições externas no mercado, como o tabelamento do frete, podem prejudicar o crescimento do Brasil. A elaboração de um projeto técnico, somado à tecnologia e inovação, é um fator decisivo, destaca Villar, da Quality Logística. Os OLs precisam destacar engenharia logística, a fim de buscar as melhores soluções para cada dia tipo de cliente e desenvolver soluções personalizadas. Ter um armazém por si só não resolve, é necessário entregar muito mais que processos convencionais. Mais contundente, Medeiros, da GVM Solutions, diz que não é possível aceitar os parâmetros primários de compradores inexperientes, que visam exclusivamente o valor unitário dos serviços, sem se dar conta do desenvestimento geral que está ocorrendo no setor de Supply Chain e serviços correlatos, após seis anos ininterruptos de crise econômica. É necessário ‘um passo atrás’ e revisão da estratégia de compras, para que a evolução da infraestrutura dos Operadores Logísticos se ajuste ao porte de países do 1º escalão mundial. “É necessário esse ajuste em produtividade de ativos e de processos, e isso somente se realiza com investimentos progressivos. O setor logístico, no Brasil, está debilitado”, lamenta Medeiros.

Outro alerta vem de Munhoz Junior, da Trasmarine: As empresas não poderão, de forma alguma, trabalhar como meras tiradoras de pedido. Os clientes não buscam mais uma transportadora, mas sim uma empresa capaz de trazer soluções para resolver todos os seus problemas com relação à logística.

Vicente, da Taglog, finaliza lembrando que não se preparar para as mudanças atuais e para a necessidade cada vez maior de o setor privado focar mais no seu “core business” serão fatores decisivos para o crescimento do setor. Não se atentar para estes aspectos fará com que os OLs que estejam neste cenário não consigam alcançar os demais e o processo de retomada será mais doloroso e demorado.

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