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Capa 10 de novembro de 2021

Pandemia acelerou otimização de processos na área farmacêutica que vieram para ficar

Apesar de ter sido muito difícil, este período trouxe ensinamentos para os Operadores Logísticos e as transportadoras, contribuindo para que o setor se torne mais automatizado, eficiente e transparente.

 

O setor farmacêutico foi e continua sendo um dos mais impactados pela pandemia. Quais mudanças este período trouxe para a logística é a principal questão que nossos entrevistados respondem nesta matéria.

O impacto foi grande devido às demandas de produtos específicos para todo o país, conta Marcelo Azevedo, diretor Nacional de Operações da Ativa Logística. O maior desafio foi contornar as diversidades de redução de malha aérea para entrega em nível nacional.

“Durante a pandemia, algumas divisões foram afetadas, como diagnósticos, pela redução dos exames e consultas eletivas, porém, houve aumento de outras, como medicamentos e alguns insumos. Com a abertura do mercado e as flexibilizações, os setores afetados retomaram seus padrões e podem ter alta demanda em razão das necessidades reprimidas, ou seja, as pessoas tendem a realizar os exames adiados”, explica.

Ainda segundo Azevedo, a pandemia antecipou diversas soluções tecnológicas para o setor, gerando maior eficiência, agilidade e transparência em toda a cadeia de distribuição. Mudanças estas que vieram para ficar. “E continuarão sendo acentuadas mesmo depois, devido à alteração na percepção de valor por parte das empresas e consumidores”, complementa.

Kleber dos Santos Fernandes, coordenador do Grupo da Abol – Associação Brasileira de Operadores Logísticos para assuntos da Anvisa, observa como alteração operacional a migração do modal aéreo para o rodoviário das operações de longa distância para medicamentos de alto valor agregado ou com escala de consolidação, uma vez que as companhias aéreas foram fortemente impactadas com a capacidade de disponibilização de espaços em suas aeronaves.

Após a estabilização, já no começo do segundo semestre de 2021, as cargas que migraram para o modal rodoviário retornaram ao aéreo. “Atualmente, cerca de 90% das operações já estão de volta aos respectivos modais de origem”, revela.

Também na questão dos modais toca Kelly Bueno, executiva de Negócios da Aviat Cargo. “O mais afetado foi o aéreo, que ainda não se restabeleceu. A quantidade de voos não é igual a antes e as malhas com as ofertas de voos não voltaram, dificultando a operação de material perecível/termolábel e o atendimento no prazo para os hospitais”, conta.

No modal rodoviário, a dificuldade atual, continua Kelly, é o aumento no valor de fretes devido aos altos custos do diesel, luz, peças, juros e à inflação alta, entre outros fatores. Mudanças logísticas foram necessárias na Aviat, como alteração do fluxo operacional e dos horários de embarques, investimento em tecnologias, redução da mão de obra, utilização da inteligência logística nas oportunidades de voos, muito alinhamento antecipado com o cliente, otimização das rotas, foco em clientes com os mesmos tipos de produto, readequação e redução de custos em outras frentes.

Já Lucy Maia, head de Pharma & Healthcare da DMS Logistics, comenta a migração do aéreo para o marítimo, por conta de tarifas e/ou espaço. Segundo ela, projetos de mudança que estavam em stand by foram colocados em prática em razão da crise no transporte aéreo.

“A mudança de modal veio para ficar no caso de empresas que tiveram programações mais robustas com seus fornecedores internacionais e produtos que suportam bem o transit time marítimo”, destaca.

Outra mudança foi a busca de rotas alternativas, ainda segundo Lucy, que diz que mesmo nos casos onde havia validação prévia de rota pela Anvisa, o órgão entendeu a necessidade e promoveu o deferimento de alterações.”

Cássio Marques Filho, diretor da Embragen – Empresa Brasileira de Armazéns Gerais e Entrepostos, aponta como mudanças neste período de pandemia a adequação dos horários para atendimento à indústria farmacêutica, inclusive aos finais de semana, e a exigência de transferência de mercadorias da zona primária para a secundária.

O item mais significativo observado, segundo Luis Alberto Costa, diretor executivo do Grupo Troca Logística, foi a rapidez logística para atender à demanda represada de outras medicações não relacionadas à Covid-19, das mais básicas às mais complexas. “Além disso, a movimentação em portos e aeroportos se multiplicou para atender demandas reprimidas com mais rapidez, buscando insumos importados, o que nos trouxe muitas demandas de atendimento de cargas alfandegárias”, conta.

Para Costa, a situação da demanda reprimida tende a se normalizar com o arrefecimento da pandemia e a regulação do fornecimento de medicamentos. No entanto, algumas medidas, como a maior saneabilidade de processos e o treinamento de pessoas serão muito mais observados do que já eram, com novas determinações de laboratórios que necessitam de readaptação dos Operadores Logísticos e transportadoras.

“Além disso, há exigências de mais atenção para evitar também problemas com contaminação cruzada, que já eram muito rigorosas, mas que agora são prioritárias em vários sentidos”, acrescenta o diretor executivo do Grupo Troca.

Cassio Torres Souza, diretor comercial da Pluscargo Internacional, diz que a principal mudança foi a priorização sem precedentes dos insumos dessa indústria. Um exemplo prático foi a alta porcentagem das alocações disponíveis em voos comerciais/cargueiros para transporte desse tipo de produto, criando, inclusive, o backlog para escoamento dos demais bens de consumo. “Além disso, houve a isenção dos impostos de importação de vários produtos desse setor entre 2020 e 2021 (total de 564 produtos) e a priorização também para a liberação desses produtos junto à Receita Federal e à Anvisa, o que trouxe mais celeridade para todo o setor”, acrescenta.

Souza lembra que a redução dos impostos é temporária, mas os ganhos em termos de análise de processos pelos órgãos competentes, bem como o know how adquirido no transporte desses materiais (formas de manuseio, armazenamento e transporte) são legados que ficam.

A Profarma Specialty precisou fazer alguns ajustes na sua forma de trabalhar, como elenca Lauro Lunardelli Zuchelli , gerente sênior de Operações. São eles: utilização de tecnologia para monitorar on time o last mile, criação de modais alternativos de distribuição, pois foi necessário transferir as operações da malha aérea para a rodoviária em tempo recorde; e integrações sistêmicas entre os elos da caixa, possibilitando a troca de informações e reduzindo rupturas de estoque, além da otimização dos processos de Supply Chain.

“Essas mudanças foram aceleradas pela pandemia, mas, certamente, vieram para ficar, pois otimizaram processos logísticos e facilitaram a rotina de todos os profissionais envolvidos na distribuição de medicamentos, desde o setor comercial até os motoristas das transportadoras”, complementa .

Ricardo Agostinho Canteras, diretor comercial da Temp Log, cita o impacto logístico gerado pelo surgimento de novos produtos durante a pandemia, como as vacinas Pfizer, que demandam temperatura muito baixa de armazenamento.

“Tem também o giro cada vez maior de medicamentos, correlatos e equipamentos, principalmente nos hospitais. Basta lembrar do momento em que as instituições de saúde chegaram ao ápice da necessidade de leitos e medicamentos de intubação. O volume de produtos necessários foi muito grande e isso afetou de tal maneira a indústria que foi preciso acelerar a produção e a importação de medicamentos, insumos e correlatos”, expõe.

Canteras acredita que as mudanças de volume geraram uma série de ações para que as empresas pudessem girar o estoque numa velocidade e num volume muito maior do que era feito antes da pandemia. “E todas as melhorias de automação nos processos de eficiência vão ficar de forma definitiva. Por exemplo, uma empresa que girava 100 mil unidades no mês, precisou, de repente, girar 500 mil unidades. Isso significa cinco vezes o giro normal, tornando os processos internos mais eficientes.”

 

Mais exigências

A nova realidade exigiu dos Operadores Logísticos redução de processos manuais, maior agilidade, eficiência e flexibilidade, considera Regina Lima de Souza Silva, gerente da Qualidade da Terra Nova Logística.

Gustavo Krás Borges Ferreira, gestor de Qualidade da Transportadora Minuano, entende que ainda estamos vivendo o momento de pandemia, e acredita que as exigências e o melhoramento contínuo serão pontos que diferenciarão as grandes empresas dentro do setor farmacêutico. “Com o prazo de implementação da RDC 430, da Anvisa, para março de 2022, muitas exigências farão parte do dia a dia do transportador, assuntos que até hoje não são cobrados e que passaram a pesar no orçamento de cada empresa.”

Jerry Sun, supervisora comercial da Trans War Transportes, reforça que muitas empresas terão de se adequar às exigências da norma. “Quem já vinha se atualizando não sentirá tanto o impacto, mas para quem pretende se adequar começando do zero será um grande desafio. Por isso, é preciso estar em constante adaptação para que isso não ocorra”, opina.

Para Luiz Carlos Lopes, diretor de Operações da Braspress Transportes Urgentes, o maior desafio relacionado ao transporte de medicamentos relaciona-se exatamente às exigências previstas na RDC 430. “Ela marca pontos importantes na cadeia de armazenamento, transportes e distribuição dos produtos farmacêuticos, em especial em relação ao controle da temperatura ao longo da cadeia de distribuição, até a chegada no consumidor final.”

Além do cumprimento da legislação, a nova realidade do setor passou a exigir dos Operadores Logísticos e das transportadoras, ainda mais, uma gestão eficiente, acelerando inovações tecnológicas. “Aqui na empresa, iniciamos o uso de tecnologia e integrações de plataformas – TMS, planos de contingência alternativo, melhorias nos investimentos em infraestrutura em pontos de cross docking e adequações às novas exigências relacionadas à RDC 340”, revela Zuchelli, da Profarma Specialty.

Realmente, com essa nova realidade, a informação tem sido cada vez mais primordial, acrescenta Canteras, da Temp Log. “Sempre foi importante cumprir data, hora, previsão de entrega, porém, agora é exigido que os Operadores Logísticos e as transportadoras ofereçam cada vez mais informações em tempo real em todas as etapas, além de manter as informações históricas para que seja possível fazer uma previsibilidade com mais assertividade.”

Resumindo, Canteras diz que não adianta ter um serviço de entrega bom se não tiver informação de que foi entregue, para quem foi entregue e imagem do comprovante. “A informação é a nova realidade, e o cliente precisa ser alimentado com ela a cada etapa do processo logístico.”

Além de resiliência, que serve para todas as empresas, o setor logístico teve que se antever às demandas, para construir modos de trabalho mais ágeis e facilmente adaptáveis às mudanças, como descreve Lucy, da DMS Logistics.  “Posso citar aqui disponibilidade de sistemas que suportassem bem o modelo de trabalho remoto; implementação de um fluxo de atualizações cada vez mais frequente com os clientes; e negociações de longo prazo, com volumes pré-definidos, a fim de manter os custos em patamares aceitáveis”, declara.

Costa, do Grupo Troca, diz que a nova realidade do setor passou a exigir maior cuidado, atenção e certificações legais, ou seja, maior conhecimento do Operador Logístico em relação ao meio. “No pós-pandemia, acreditamos que eventuais sanções em relação a eventuais desobediências à legislação poderão ser mais pesadas, com o endurecimento das fiscalizações”, opina.

Neste período, o primordial, de acordo com Souza, da Pluscargo, foi a remodelação da forma de gestão de alocações disponíveis junto às companhias aéreas e armadores, além dos armazéns e transportadores internos. “Uma vez que as cargas desse setor se tornaram mais urgentes do que o usual, qualquer falha no escoamento pode causar desabastecimento e/ou perda de mercadorias, por validade ou condições de temperatura e armazenamento. A mensagem fundamental é o correto planejamento entre demanda futura x negociação de alocações para o escoamento desses materiais, trabalhando sempre com o plano B e C.”

 

Volta ao normal

Como deve se comportar a logística do setor farmacêutico após a “volta ao normal”? Kelly, da Aviat Cargo, responde: “Foi provado que conseguimos realmente fazer mais com menos, o que tanto nos foi ensinado nas aulas e cursos da área.  O normal não será normal, continuará com essa tendência de sempre buscar reinventar, fazer mais com menos. E buscar novas formas de conexão com cliente para atender à demanda, alinhar processos e encontrar novas formas de envio.”

Com o avanço da medicina, cada vez mais veremos novos medicamentos e terapias, muitas delas de alto valor e que requerem uma logística especial, com transporte e armazenamento sensíveis ao tempo e à temperatura, salienta Dorys Garibello, gerente de Logística e Distribuição de Healthcare para a América Latina da UPS.

Segundo ela, o gerenciamento de produtos essenciais para a saúde, desde o recebimento de um pedido até o faturamento ao cliente, requer atenção extraordinária aos detalhes. De acordo com o BCC Research, o mercado global de drogas terapêuticas biológicas deve aumentar de US$ 285,5 bilhões em 2020 para US$ 421,8 bilhões em 2025.

Costa, do Grupo Troca, lembra que a logística para atendimento da área de medicamentos exige muito conhecimento de legislações específicas, pessoas treinadas e especializadas e frota específica para transporte de cargas sensíveis, além de todas as certificações exigidas por órgãos reguladores. “Poucas empresas atendem a estes quesitos”, observa.

Esse período mostrou que o setor logístico deixou de ser uma área complementar e atualmente ocupa um lugar-chave na cadeia farmacêutica, afirma Regina, da Terra Nova Logística. “Portanto, o segmento tende a não estacionar e permanecer avançando na otimização de processos através da automação. No entanto, é uma tendência também o aumento na elaboração de normas voltadas a estes processos e fiscalizações dos órgãos reguladores.”

Com a passagem da pandemia, Lopes, da Braspress, entende que haverá um aumento ainda maior no consumo dos medicamentos, provocada pela preocupação e prevenção de outras doenças que ocuparam o cenário durante os últimos 18 meses.

Lucy, da DMS Logistics, diz que a pandemia exigiu muito dos setores de logística e, com o fim desse período sabático, a expectativa é voltar a modelos de contrato de longo prazo, com maior estabilidade para os prestadores de serviços, seus fornecedores e clientes. “O aprimoramento das tecnologias e a inovação nos serviços devem se manter em evidência, pois agregam valor ao cliente final”, adiciona.

Para Marques Filho, da Embragen, no novo normal deve-se regularizar a cadeia como um todo, aumentando o fluxo de voos e fazendo com que gere equilíbrio na oferta e demanda dos serviços com preço condizente.

Primeiramente, segundo Zuchelli, da Profarma, será necessário se adequar ao projeto da Anvisa sobre a rastreabilidade de medicamentos. “Quando falamos de tendências, podemos indicar pelo menos duas: uso de tecnologias para visibilidade de entregas e integrações sistêmicas com visibilidade e reposições automáticas de estoques.”

Canteras, da Temp Log, acredita que agora, com a diminuição da demanda por medicamentos, principalmente os controlados, venha um momento de analisar tudo o que aconteceu. “De refletir, pegar os números e rever planejamentos. Apesar de muito dolorosa, como um todo, essa pandemia trouxe ensinamentos para os Operadores Logísticos e transportadoras que serão aplicados de agora em diante e vão contribuir para que o setor se torne mais automatizado, eficiente e transparente”, complementa.

Para Souza, da Pluscargo, é muito difícil prever o comportamento do mundo no pós-pandemia. “No entanto, uma das maiores lições deixadas foi a necessidade do planejamento baseado em vários cenários potenciais, inclusive reduzindo os tempos de revisão dessas rotas e estando prontos para guinadas e reconfigurações de rumo de acordo com as tendências apresentadas no momento. Outro direcionamento é o de filtrar os parceiros logísticos e manter no rol de fornecedores empresas com estrutura e clareza em seus processos e serviços ofertados”, expõe.

 

Desafios

Sobre os maiores problemas enfrentados neste segmento, Kelly, da Aviat Cargo, aponta a falta de capital humano com conhecimento, experiência e treinamentos adequados para operacionalizar esse tipo de logística.

Costa, do Grupo Troca, também toca nesse ponto. A falta de pessoas treinadas é um grande entrave na contratação de mão de obra qualificada. “O investimento constante em equipes com turn over alto muitas vezes dificulta os processos e a manutenção dos níveis de exigência para trabalhar com uma logística tão diferenciada como esta.”

Dentro deste tópico, Lucy, da DMS Logistics, diz que existem Operadores Logísticos e transportadoras mal preparados para atender o segmento farmacêutico, não aplicando todos os protocolos de qualidade e segurança que a carga exige. “As indústrias devem manter uma regulação bem próxima destes OLs e transportadoras para que apenas empresas realmente comprometidas tenham espaço no mercado. Os investimentos em tecnologia para manutenção térmica, por exemplo, são fundamentais a fim de otimizar custos com as cargas sensíveis à temperatura.”

Lopes, da Braspress, entende como maior desafio possibilitar que as empresas de modo geral consigam se equipar e estejam plenamente preparadas para atendimento à RDC 430. “Além dos vultuosos investimentos financeiros, elas terão dificuldade na compra dos insumos e equipamentos, sistemas e controles logísticos, já que o segmento, de forma geral, incluindo os transportadores, não estão preparados para essa transformação, no tempo exigido pela lei”, diz.

Para a Braspress, a RDC, apesar de publicada, deverá passar por mais discussões, possíveis adaptações em seu conteúdo, permitindo em seu pleno atendimento e prática uma melhor experiência no transporte de medicamentos.

Marques Filho, da Embragen, cita como maior problema a falta de comunicação, seja na identificação na embalagem da condição de transporte e armazenamento, seja na documentação com todas as informações claras e dispostas, para que a cadeia toda entenda o tratamento ao acondicionamento da carga.

“Que a Anvisa faça cumprir que, nos pontos de passagem, a mercadoria seja acondicionada na temperatura recomendada pelo fabricante, objetivando que toda cadeia seja devidamente treinada e preparada para que a comunicação flua desde o ponto fabril até a chegada no destino final para que o produto se mantenha íntegro e com qualidade”, reforça.

Os principais problemas, em termos de mercado brasileiro, citados por Souza, da Pluscargo, são: as distâncias entre os grandes polos e os principais portos, por exemplo do polo farmacêutico de Anápolis aos portos de Santos e Rio de Janeiro; a deficitária infraestrutura interna para o escoamento desses produtos, como ausência de ferrovias, estradas ruins, alto custo de frete rodoviário; a burocracia dos órgãos governamentais; e a baixa oferta de espaço nos modais de transporte internacional. Por exemplo, o Brasil representa apenas 1% do volume de transporte de CNTRS no mundo, o que dificulta a sinergia entre o lead time planejado e o realizado.

“Como soluções para essas questões, aponto investimento na concessão de mais áreas de EADI, um programa de melhoria de estradas (podendo passar por mais privatizações) e investimento em tecnologia (nesse ponto a Receita Federal já andou algumas casas) para celeridade nos processos de análise e liberação de mercadorias.”

Por sua vez, Zuchelli, da Profarma Specialty, destaca três principais desafios do segmento. O primeiro são os prazos curtos de entrega, que poderiam ser mitigados com melhor mapeamento da demanda e visibilidade dos inventários de estoques da cadeia como um todo. O segundo é a necessidade de novas tecnologias de embalagens e formas de monitoramento de temperatura com custos acessíveis voltados à cadeia fria. Por último, cita a falta de Operadores Logísticos nas regiões Norte e Nordeste.

Um dos maiores problemas acontece porque o segmento de logística farmacêutica tem pressa, segundo Canteras, da Temp Log. “Claro que existem as entregas realizadas em grandes redes de farmácias, agendadas e programadas, mas geralmente nos hospitais, laboratórios e clínicas o estoque não é muito elevado. Então ela é uma logística realizada sempre com prazo menor”, conta.

Para ele, essa agilidade acaba esbarrando em algumas limitações de infraestrutura do Brasil. Há ainda uma dependência muito grande do modal rodoviário no Brasil e quando a entrega precisa ser rápida, acaba-se precisando utilizar o modal aéreo, que tem suas limitações.

“Seria necessário melhorar as estradas, melhorar o rodoviário, reduzir o tempo de viagem para certas regiões, para que o setor não dependa tanto do envio aéreo. Mas a gente sabe que esses são desafios grandes, que acredito que só seriam solucionados com investimento em infraestrutura em ambos os modais. Quem sabe no futuro tenhamos mais opções interestaduais no rodoviário e uma maior oferta de voos entre os estados”, expõe.

Outro obstáculo destacado por Canteras é o número cada vez maior de envios de cargas por empresas de aplicativos. “A pressa das entregas, aliada a uma baixa oferta de empresas qualificadas, acaba gerando entregas em veículos não qualificados. E aí é preciso, da nossa parte, uma análise maior para que possamos atuar de ponta a ponta do Brasil com companhias que estão dentro das normas regulatórias e tributárias, além de qualificar os agentes regionais.”

Regina, da Terra Nova Logística, também aponta a urgência no atendimento de pedidos, bem como possíveis contratempos no percurso, complicações de rota e falta de estrutura adequada nos locais de recebimento. “As soluções para esses desafios incluem planejamento logístico em conjunto com o cliente e elaboração de plano de contingência bem estruturado e embasado na avaliação de riscos”, acrescenta.

Na lista de Jerry, da Trans War, estão: custo para manter a estrutura devido às altas de mercado, prazos de pagamentos estendidos, reajustes não condizentes com a inflação, exigências das PGRs e não cumprimentos do lead time preestabelecidos para coleta e descarga, com excesso de demora. “Essas questões poderiam ser resolvidas com maior flexibilização nas negociações entre empresa e contratado.

Elio Antonio Gobor Filho, diretor operacional da Gobor Transporte e Logística, acrescenta o fato de o Brasil ser um país continental, com alterações climáticas severas, o que demanda alto conhecimento para conseguir entregar o serviço prestado 100%, sem nenhuma anormalidade. “Muitas cidades são de difícil acesso, principalmente na região Norte do Brasil, onde precisamos de diversos modais para entregar, como aéreo, rodoviário e fluvial.”

 

O que as empresas oferecem

Ativa – Atua com produtos de saúde em geral, medicamentos controlados, correlatos, oncológicos, genéricos, perecíveis, insumos hospitalares, diagnósticos, medical devices. Oferece distribuição, coleta, conferência, nacionalização, armazenagem, separação, embalagem, expedição e entrega em todo o território nacional através dos modais aéreo e rodoviário.

Aviat – Trabalha com medicamentos, insumos farmacêuticos, produtos controlados Portaria 344, cosméticos, correlatos e produtos para saúde, equipamentos médicos e suplementos alimentares, incluindo perecíveis e termolábeis. Realiza transporte aéreo convencional e de próximos voos, transporte dedicado, cross docking, manutenção de gelo, coleta com veículos carga seca e com temperatura controlada.

Braspress – Atua no transporte e distribuição em nível nacional de medicamentos, incluindo produtos que necessitam de controle de temperatura ou que tenham regras específicas no controle, como a Portaria 344. Realiza também a distribuição das divisões conhecidas como AG.

DMS – Realiza transporte aéreo e marítimo internacional e armazenamento de cargas (cross docking) de medicamentos acabados e suas matérias-primas, reagentes, vacinas, produtos de laboratório e produtos odontológicos.

Embragen – Armazena produtos farmacêuticos, medicamentos ontrolados e saneantes, sendo responsável pelo controle de temperatura e umidade.

Gobor – Atua com medicamentos, correlatos, saneantes e cosméticos, desde coleta, transferência, armazenagem até entrega das cargas.

Grupo Troca – Trabalha com manuseio e transporte de medicamentos acabados e insumos para produção de laboratórios farmacêuticos.

Pluscargo – Oferece transporte internacional por via aérea e marítima desde carga geral até cargas com controle de temperatura (CNTRS reefer ou embarques aéreos com uso de datalogger), transporte porto/aeroporto x fábrica e armazenamento em zona alfandegada. Trabalha com insumos para medicação fitoterápica, medicamentos (medicina veterinária), antígenos e implementos, como manitol e magnesium chloride.

Profarma Specialty – Atua com armazenagem, separação e distribuição de produtos, em sua maioria, medicamentos de alta complexidade, que exigem condições específicas de armazenamento, como temperatura de 2ºC a 8ºC.

Temp Log – Operadora Logística nacional que atua com toxinas botulínicas, preenchedores faciais, bioestimuladores, medicamentos, incluindo controlados, correlatos e todos os biológicos que demandam cadeia fria. Presta serviços de armazenamento, fracionamento e transporte.

Terra Nova – Realiza armazenagem e transporte de medicamentos, correlatos, cosméticos, produtos de higiene, saneantes e alimentos.

Trans War – Oferece transporte e armazenagem de insumos farmoquímicos, com ou sem controle de temperatura, materiais diretos e indiretos.

Transportadora Minuano – Realiza coletas, separação, agendamentos, logística reversa, paletização e entregas especiais de medicamentos para diálise, correlatos e geral, equipamentos hospitalares, saneantes hospitalares e medicamentos controlados Portaria 344.

UPS – Oferece transporte, armazenamento e distribuição de vacinas, medicamentos, produtos de saúde animal, dispositivos médicos, kits cirúrgicos e outros equipamentos e terapias. Trabalha com planejamento de estoque, armazenamento especializado e atendimento ao transporte multimodal e conformidade alfandegária.

 

Características da logística farmacêutica

  • Prazos curtos de entrega (em alguns casos SLA de quatro horas);
  • Produtos de alto valor agregado e perecíveis;
  • Armazenagem específica com grande volume em câmaras frias de 2 a 8 graus;
  • Frotas para distribuição com isolamento térmico nos baús dos caminhões;
  • Embalagens específicas com tecnologia de controle de temperatura dos medicamentos.
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