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Conteúdo 16 de janeiro de 2018

Logística para todos

Em minhas andanças pelo mundo coorporativo, sendo para consultoria ou avaliações, ainda é notório a falta de entendimento sobre logística e sua aplicação. Se isso ocorre inclusive nas grandes corporações, imagine para as menores, que muitas vezes não apresenta uma profissionalização em sua gestão (falta de estrutura e pessoas).

No ambiente empresarial, a logística se fez presente nas atividades produtivas ao longo da história, mas sua importância ganha destaque tendo evolução continuada com a globalização, sendo desenvolvida, primeiramente, na década de 1980, nos países desenvolvidos e, na década de 1990, nos países em desenvolvimento, com a desregulamentação das economias nacionais. Atualmente, é considerada (pelo menos deveria) um dos elementos fundamentais na estratégia competitiva das empresas. Fleury descreve que a logística “é paradoxal, ao ser uma das atividades econômicas mais antigas e ser um dos conceitos gerenciais mais modernos”.

A logística tem como objetivo ajudar a criar valor para o cliente pelo menor custo total possível. As atividades e decisões logísticas deixaram de ser operacionais e se tornaram uma sistemática holística e atuante dentro das cadeias de suprimentos. Por isso cabe aqui relembrarmos o termo cadeia de valor, ou value chain, que teve sua primeira abordagem através de Porter (1985), atribuindo elementos chaves para uma vantagem competitiva dentro das organizações. O modelo subdivide os elementos em atividades primárias, que são as essenciais para o atendimento das necessidades dos clientes, e atividades de apoio, que como o próprio nome descreve serve para auxiliar a execução das atividades primárias.

As atividades primárias contemplam: a) Logística de Entrada (inbound): que envolve o processo de abastecimento da empresa, através do fluxo de materiais e informações, desde a fonte de matérias-primas até a entrada na fábrica. b) Operações (Produção): a transformação das entradas através de recursos produtivos, gerando saídas (produtos e serviços). c) Logística de Saída (outbound): envolve a distribuição dos produtos acabados (PA) para a rede distribuição e/ou clientes. d) Marketing e Vendas: envolve a comercialização dos produtos e/ou serviços que a empresa desenvolveu e produziu. e) Serviço de Pós Vendas: serve de suporte ao usuário durante o ciclo de vida do produto.

Podemos verificar uma certa similaridade com a definição da cadeia de suprimentos, tendo que envolve um processo desde a matéria-prima, passando pela transformação, distribuição e suporte ao cliente. E somente terá valor aquilo que o cliente estiver disposto a pagar por aquilo que a empresa oferece. Alguns autores descrevem cadeia de suprimentos sendo a somatória ou integração de diversas cadeias de valor. E a logística permeando entre as principais atividades primárias e agregando valor.

Outro ponto de extrema importância no atual cenário econômico e das relações humanas é o caso da Sustentabilidade dentro (e consequentemente fora) das cadeias de valores. Esta temática vai além da Logística Reversa e visa redes de suprimentos balanceadas construídas a partir de complementaridade entre processos produtivos onde resíduos de alguns processos são insumos de outros, obtendo um balanço energético favorável, ciclos um pouco mais fechados e equilibrados com agregação de valor nos dois sentidos. A ideia é considerar o ciclo de vida da indústria e não só de seus produtos enfatizando suas externalidades tanto econômicas como sociais e ecológicas.

A falta da logística, ou do entendimento de sua aplicação e abrangência, reflete em resultados aos quais infelizmente nós consumidores brasileiros estamos acostumados, tais como falta de produto, atraso na entrega, impactos ambientais e sociais, além dos custos elevados.

Recentemente comprei um produto em uma grade rede varejista, mas o produto apresentou problema e tive de troca-lo. Me dirigi a uma loja da rede, e após muitos minutos de espera e funcionários indo e vindo, a resposta final foi de não ter o produto para trocar, sob alegação: “no sistema (informatizado) temos o produto mas não estamos conseguindo encontra-lo fisicamente, acreditamos que houve algum problema em dar baixa no sistema”. De forma bem semelhante, em uma empresa de pequeno porte e que vende materiais de marcenaria, após me vender um componente de um armário, o estoque não conseguiu encontrar e a venda teve de ser cancelada.

Outro exemplo que provavelmente tenha acontecido com você como consumidor, é a de fazer um pedido na lanchonete ou restaurante que esta acostumado a frequentar e não ter o produto ou parte dele. Se é frustrante para nós adultos, imagine se você estiver com seus filhos onde toda uma expectativa foi gerada, e isso também já aconteceu comigo. Inclusive já via venda de um lanche X (Chese) – Salada sem salada pela falta da mesma. Será que este componente é importante em um lanche que leva em seu nome palavra salada?

E já evidenciei situações tais como: o carpinteiro que esqueceu a serra e a furadeira, a madeira que não chegou a tempo para a montagem do pergolado. Ou ainda, o orçamente não contemplava os pregos e parafusos que seriam utilizados na obra, e desta forma os mesmos não foram adquiridos e a força de trabalhado fica parada aguardando a compra emergencial.

Na indústria não é diferente, já presencie linha de produção parada por falta de componente, ou até mesmo, mudança da programação da produção pois o palete que trazia os componentes dos Estados Unidos foi barrado na alfandega pois tinha cupins.

Estes são apenas alguns exemplos que demonstram que a falta de logística, ou a má gestão da mesma, podem gerar a perda da venda e mais ainda, a perda do cliente para o concorrente. Do comercio, as redes varejistas e atacadistas, na indústria e até mesmo no serviço, a logística é fundamental para o atendimento do cliente e suas expectativas. Por isso, a logística pode e deve ser aplicada junto aos micros e pequenos empreendimentos, pois possuem menos recursos e uma necessidade ainda maior de se evitar desperdícios.

Os exemplos citados são decorrentes da falta de uma sistematização logística, que envolve gestão (planejamento, organização e controle). Dizer que logística é coisa de empresa grande já não é mais factível com o mundo atual, onde o dinamismo, flexibilidade e agilidade fazem diferença perante a competitividade.

Não importa o tamanho e segmento de atuação, as empresas e seus gestores precisam entender o que é logística, não se limitando apenas a estoque e transporte, somente assim poderão agregar valor aos seus clientes, gerando melhor nível de serviço e preço mais justo.

Leonardo Ferreira Leonardo Ferreira
  • Administrador de Empresas, Consultor Organizacional, Professor, Escritor e Palestrante na área de gestão e educação.
  • Proprietário da Confraria Corporativa – Produtividade, Qualidade e Logística, empresa de Consultoria Organizacional e Treinamento.
  • Experiência de 20 anos em gestão empresarial trabalhando e prestando serviços junto a empresas nacionais e multinacionais.
  • Membro do Grupo de Excelência em Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística (GELOG) no CRA-SP;
  • Membro e Representante Técnico do Instituto Paulista de Excelência em Gestão (IPEG).
  • Avaliador nos Prêmios Nacionais, Estaduais e Setoriais de Excelência em Gestão.
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