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Agronegócio 29 de janeiro de 2021

Brasil diversifica a matriz de transporte de milho e soja, mas aumenta a dependência das rodovias para exportação

ESALQ-LOG

A produção agrícola de milho e soja no Brasil aumentou mais de 70% entre os anos de 2010 e 2019, atingindo a marca histórica de mais de 200 milhões de toneladas de grãos em 2017. A alta na produção deve se manter nos próximos anos, segundo projeções do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: em um cenário conservador, o órgão estima crescimento para 280 milhões de toneladas de grãos até 2030; em um cenário otimista, o número cresce para 336 milhões de toneladas.

O aumento de produção advém de tecnologias inovadoras, adaptação da segunda safra para o milho e expansão de novas áreas de produção, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. A projeção traz um desafio constante no setor logístico, uma vez que a eficiência do transporte afeta a competitividade do país no fornecimento de grãos, tanto no mercado interno como no mercado externo.

Nesse sentido, um estudo realizado por um acordo de cooperação entre o ESALQ-LOG – Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial/USP e o USDA – United States Department of Agriculture analisou as mudanças na movimentação de grãos no país e o papel dos diferentes tipos de transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário, abrangendo o período de 2010 a 2019, tanto para o mercado internacional quanto o mercado doméstico. Conduzido pelos coordenadores do ESALQ-LOG, professor José Vicente Caixeta-Filho e Thiago Guilherme Péra, e pela economista sênior do Agricultural Marking Service do USDA, Delmy L. Salin, o estudo identificou uma mudança efetiva na matriz de transporte, em maior escala para o milho e em menor escala para a soja.

No caso agregado da produção do milho, no período de 2010 a 2019 foi observada que a maior movimentação do grão foi realizada por caminhões, atingindo a marca de 69% de movimentações em 2019, seguida por ferrovias (21%) e hidrovias (10%). Até 2010 o cenário era diferente: a movimentação rodoviária atingia a marca de 83,3%, enquanto a movimentação hidroviária não passava de 1,2%. No mesmo período analisado, a produção de milho cresceu 78,6%.

Situação diferente foi observada no cenário de exportação do grão, onde a dependência de transporte rodoviário saltou de 20% para 31% no período analisado, seguido pela redução da movimentação por ferrovias, de 77,5% para 49,5%. Já as hidrovias, que representavam 2,5% da movimentação em 2010, apresentaram 19,5% em 2019. Tal configuração foi resultado da explosão das exportações de milho da última década, que cresceram praticamente 300% no período analisado.

Para o escoamento da produção agregada de soja, a dependência do transporte rodoviário reduziu de 74,7% em 2010 para 67,4% em 2019. Em contrapartida, a movimentação por ferrovias cresceu de 20,2% para 24% e a movimentação hidroviária quase duplicou no período, passando de 5,1% para 8,6%. No mesmo período, a produção de soja aumentou em 74,3%. Em comparação, o mercado de exportações não apresentou mudanças tão significativas, ainda que o setor rodoviário tenha assumido 44,7% em 2010 e 49,1% em 2019, frente a uma redução relativa do uso de ferrovia de 47% para 38,3% e um aumento do uso de hidrovias de 8,3% para 12,6%, como as exportações de soja crescendo aproximadamente 155%.

De acordo com o pesquisador Thiago Guilherme Péra, o Brasil precisa criar mais infraestruturas para buscar uma efetiva diversificação da matriz de transporte e para que as capacidades cresçam acima da produção. “O estudo indica que, em termos agregados, a nossa matriz de transporte no período analisado apresentou uma diversificação em ampliar mais o uso de ferrovias e hidrovias e reduzir o transporte rodoviário para longas distâncias, mesmo tendo um volume de produção e exportação muito elevado no período”, ressalta Péra.

O pesquisador explica ainda que a análise da matriz de transporte consistiu em contabilizar os movimentos ferroviários e de barcaças, produção e exportação de informações do banco de dados consolidado para gerar três tipos de indicadores relacionados aos movimentos de transporte de milho e soja no Brasil: caminhão, ferrovia e barcaça. “Construímos e analisamos um banco de dados para ilustrar o que chamamos de fluxos logísticos de milho e soja no Brasil, apresentando as características do transporte ferroviário e fluvial no país, envolvendo bases de dados oficiais e informações do Grupo ESALQ-LOG. Analisamos as participações modais tanto para a tonelagem total quanto para os destinos de exportação e mercado interno”, completa Péra.

Ainda que o país faça uso dos principais meios de transporte, como caminhões, barcaças e ferrovias, as longas distâncias entre as principais regiões de produção e os terminais hidroviários e ferroviários apresentam um desafio constante à movimentação, bem como a capacidade limitada de infraestrutura ferroviária e hidroviária, de forma que o Brasil continua dependendo fortemente do transporte por caminhão para enviar os grãos aos principais destinos.

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