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Conteúdo 1 de dezembro de 2014

A relação da logística com o Custo Brasil

Talvez nem prestemos tanta atenção aos fatores que encarecem um produto ou serviço na hora da aquisição, mas eles estão presentes e são determinantes para a formação do preço. Mesmo de forma genérica, pois é difícil medir o quanto a corrupção, a burocracia excessiva, os desperdícios e os problemas com infraestrutura impactam diretamente sobre os preços, é absolutamente improvável que os fatores do chamado Custo Brasil não comprometam a competitividade da economia e não representem dinheiro a menos no bolso do consumidor.

Definido como um conjunto de dificuldades econômicas e estruturais, o Custo Brasil impacta diretamente no desenvolvimento e na manutenção da economia do país trazendo perdas significativas através da falta de investimentos, públicos e/ou privados, e pondo em xeque muitos segmentos que não conseguem exportar nem competir com produtos importados – é o que muitos especialistas chamam de “perversidade econômica”.

Trazendo o assunto para o setor de produção, nos Estados Unidos, por exemplo, a produção pode ser 25% mais barata em relação ao Brasil. O Custo China é 1/3 mais barato do que o Custo Brasil. E não é só o baixo custo com a mão-de-obra que empurra a economia chinesa como muitos pensam. Claro, é um fator importante. Contudo, vale lembrar que, enquanto o modal rodoviário, mais caro e que exige maior atenção acerca de investimentos e qualidade de serviços, independentemente do país, transporta mais de 70% das cargas brasileiras, nos Estados Unidos não chega a 30% e na China está em torno de 10%. Ou seja, percentuais inversos a extensão territorial desses países.

Quando o assunto é competitividade, o Custo Brasil traz dois fatores críticos: a carga de impostos e a Logística. Ambos são responsáveis por 70% desses números que compõem o maior desafio econômico para a estabilidade das relações comerciais, internas e externas, tão vitais para o desenvolvimento do país. Há dúvidas sobre a urgência de uma revisão tributária e de um planejamento sério na Logística?

Já sabemos, e sentimos no bolso, o quanto os impostos nos tiram a qualidade de vida. A carga tributária é muito alta e injusta, pois quem paga a maior parte é quem tem menos poder aquisitivo. Quase 80% dos brasileiros que recebem até três salários mínimos por mês contribuem com 53% da arrecadação total no Brasil. Ainda segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), isso se dá porque o sistema tributário brasileiro é focado no consumo e não na renda, no lucro e no patrimônio. E quanto à Logística? Não admira que seja o segundo fator desses números nocivos e, com a letargia com que é tratada é, no mínimo, uma grande irresponsabilidade.

O que parece é que da mesma forma que muitos consumidores não atentam para a relação do Custo Brasil com o preço que pagam diariamente, os governantes municipais, estaduais e federais não associam as deficiências logísticas, sejam no transporte de cargas ou de pessoas, com a baixa oferta de melhores serviços que representam ganho de competitividade e possibilidades de melhoria contínua através do retorno de impostos. Ou não enxergam isso ou os impostos não retornam como deveriam. Talvez as duas coisas.

As parcerias público-privadas (PPP) vêm como uma boa proposta para resolver parte das deficiências estruturais de rodovias. Ainda tímidas e buscadas após situações extremamente críticas, como na Bahia e Goiás, cujas produções agrícolas sofrem com falhas na logística e acumulam perdas que rondam 1/3 da produção, essas parcerias parecem ser a única saída para essas regiões manterem-se competitivas. Pena que a lição só venha após muitos prejuízos.

São muitos os pontos que relacionam a situação da Logística com o aumento do Custo Brasil, mas nada explica melhor do que o mapa de investimentos em estradas nos últimos quatro anos. Segundo pesquisa realizada em 2014 pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), em 2011 foram efetivamente aplicados R$ 11,2 bilhões; R$ 9,3 bilhões em 2012; R$ 8,3 bilhões em 2013 e, neste ano, até setembro, foram R$ 7,5 bilhões. Na avaliação da CNT, seriam necessários investimentos de R$ 293,8 bilhões para melhorar a condição de rodovias importantes do país, sendo R$ 137,1 bilhões apenas em duplicações. O estado do pavimento é responsável pelo aumento médio de 26% no custo do transporte no país, sendo 20,8% no Sudeste e 37,6% no Norte. Pior infraestrutura logística, maior custo. Simples e doloroso assim.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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