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Conteúdo 30 de outubro de 2017

A agitada logística ociosa no Brasil

Antíteses de lado, e outras figuras de linguagem como sinestesias, paradoxos, ironias e apóstrofes – esta última, a mais habitual para contextualizar nossas percepções é, sem dúvidas, a que mais se encaixa em nossa rotina: “Meu Deus! Como pode isso?” – estão presentes no dia a dia de nossa logística na tentativa de nos fazer compreender certas coisas que se incorporaram no setor, nocivamente, nos levando de forma equivocada ao comodismo que nos faz acreditar que tudo é assim mesmo, apesar de sabermos das necessidades urgentes de mudanças.

As condições adversas para o escoamento da produção brasileira ficam bastante evidentes quando olhamos para cada região. Pior ainda, são certas disparidades observadas em regiões cujo custo logístico deveria ser consideravelmente menor e, devido às precárias condições da infraestrutura de transporte, se obrigam a escoar sua produção por outras regiões provocando gargalos logísticos que, de forma clara, promove um ciclo de encarecimento absolutamente contrário aos tão buscados propósitos de competitividade com sustentabilidade.

É fácil perceber esse fenômeno quando observamos as produções das Regiões Norte e Centro-Oeste sendo escoadas nos portos do sudeste do país, mesmo com algumas distâncias possíveis de comparação serem quase 30% a mais do que se escoassem por canais lógicos obedecendo suas características. Isso já seria um contrassenso se não considerássemos a expressiva produção da Região Sudeste cuja infraestrutura de transporte já não atende sua evolução interna.

O resultado disso leva a região no norte do Brasil, riquíssima em oferta geográfica, com seus canais de navegação e localização competitiva, a ver muito de sua infraestrutura portuária ociosa. Segundo levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), essa ociosidade chega aos incríveis 45%, e a causa não está concentrada naquilo que muitos apontam: fatores climáticos. Sabe-se, é claro, que a sazonalidade das cheias dos rios influencia na quantidade transportada, a depender da época do ano, limitando o calado (distância entre a superfície da água e a face inferior da quilha da embarcação) e contribuindo para os riscos da atividade de transporte, mas, especificamente, são as condições do transporte rodoviário que mais influenciam neste caso. Para ser ainda mais preciso, são as BR’s 163 e 230 (a conhecida Transamazônica) com seus inimagináveis perigos e promessas do poder público voltadas ao se sabe o quê, que assolam segmentos importantíssimos para a economia nacional.

Estas e outras quatro BR’s (153, 155, 158 e 364) estão em projetos de pavimentação/restauração assim como a Ferrogrão (com 1.142km ligando Lucas do Rio Verde-MT à Miritituba-PA) e a Ferrovia Paraense (1.312 km ligando as cidades de Marabá e Santana do Araguaia), além do melhoramento das hidrovias e renovações de contratos da parceria público-privada que, historicamente, se encaixam mais na condição de promessas do que efetivamente ações.

Enxergando o país como um grande corpo vivo, podemos ver o sangue irrigando todos os órgãos, mas já imaginou se o coração, além de bombear, fizesse a função dos pulmões de oxigenar e dos rins de filtrar o sangue? Seria um colapso, não é mesmo? Pois esse coração está fazendo isso e ainda a função da medula óssea: produzir.

Já que as figuras de linguagem dominaram este texto, embora eu quisesse falar mais de propostas inovadoras e que nos trouxessem mais esperanças de ver o Brasil eficazmente forte com uma logística realmente adequada aos propósitos de crescimento, no coração e na Logística, a relação sobrecarga X ociosidade resulta em infarto. Poderia ser só mais uma metáfora – bem que queríamos, bem que queríamos…

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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