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Conteúdo 6 de abril de 2015

Como o modal rodoviário resiste no Brasil?

Não é de se admirar que alguém mergulhado nos problemas que envolvem a Logística não entenda como o modal rodoviário resiste no Brasil. Afinal, temos uma infraestrutura precária, atrasada e longe de investimentos significativos que venham realmente trazer um alento ao setor. Entender os porquês dessa cadeia que envolve um custo alto e uma extrema necessidade que vai além das questões da oferta e da procura, nos conduz a um mergulho numa política de descaso, numa corrupção desenfreada, numa falta de esperança dos cidadãos e até mesmo na perda de tantas vidas que, sem escolha, se arriscam para ganhar a vida.

O transporte rodoviário de cargas é o principal meio de escoamento da produção nacional e configura um importante complemento para outros modais de transporte, pois no início e/ou ao final de cada operação, seja no transporte aéreo ou aquático, o sistema de distribuição por rodovias é imprescindível na coleta e/ou na entrega dos produtos, o que representa uma parcela substancial dos problemas, apontados por especialistas, que limitam o desenvolvimento da economia brasileira, já que dois terços dos custos de um produto são de ordem logística, e trazem enormes dificuldades às operações usuais das empresas limitando também as ações de melhoria contínua de seus processos logísticos.

Pesquisas coordenadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) revelaram que apenas 11,1% da malha rodoviária do país era asfaltada e, desse percentual, dois terços precisavam de manutenção. Esse modal que custa três vezes e meia mais do que o ferroviário e nove vezes mais do que o fluvial, consome mais de 90% do diesel utilizado em transportes no país e parece não despertar a atenção do poder público que, ano após ano, lança programas de investimentos que, quando saem do papel, não são concluídos ou não atendem àquilo a que se propuseram.

Estudo divulgado em outubro de 2014 pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) aponta que 62,1% das principais rodovias do país apresentam problemas. A pesquisa avaliou 98.475 quilômetros de estradas federais e estaduais, sob administração pública ou concessão, o que equivale a 48,4% do total de vias asfaltadas no Brasil (203.599 quilômetros). A alarmante diferença entre as rodovias sobre os cuidados do governo federal e o setor privado é enorme. Nos 15,374 Km de vias sob concessão, 48% são ótimas, 38,9% são boas, 12% regulares e apenas 1,1% são ruins. Nenhuma foi considerada péssima. Já nos 77,373 Km das rodovias sob a gestão publica, federal ou estadual, apenas 5,6% foram consideradas ótimas, 28,2% boas, 34,25% regulares, 21,5% ruins e as péssimas chegam a 10,5%.

A pesquisa ainda trata dos investimentos do governo federal em infraestrutura rodoviária que apesar de terem crescido na última década, vêm apresentando desaceleração desde 2011. Segundo o documento, foram efetivamente aplicados R$ 11,2 bilhões naquele ano, R$ 9,3 bilhões em 2012, R$ 8,3 bilhões em 2013 e em 2014 foram pouco mais de R$ 7,5 bilhões. Na verdade, o investimento necessário para melhorar as condições das rodovias seria da ordem de R$ 290 bilhões.

Além disso, o estudo aponta que, apenas em 2013, o custo com os 186.581 acidentes registrados nessas rodovias foi de R$ 17,7 bilhões. Se todas as rodovias fossem boas, a economia com combustível chegaria a 737 milhões de litros de diesel, o equivalente a R$ 1,79 bilhão.

Sobreviver nesse meio não é tarefa fácil: exige conhecimento, aplicação e paixão. Mas, ultimamente estamos substituindo isso tudo por uma venda nos olhos para não desanimarmos. Com isso, estamos colocando um tempero perigoso nessa receita já um tanto quanto indigesta.

Se me perguntassem como o modal rodoviário ainda resiste no Brasil eu responderia, de uma forma poética, que é devido à “magia” da necessidade que produz a esperança da transformação, mas, acima de tudo, aos “milagres” alcançados no dia a dia através de um trabalho feito com dedicação e muito, muito jogo de cintura. Porém, respondendo de uma forma prática, eu diria que não sei como. Apenas sei, empiricamente, que estamos diante de uma bomba-relógio, onde as deficiências dos demais modais aumentam junto com a demanda logística e conduzem o modal rodoviário a uma situação que proporciona aumentos significativos dos custos e dos perigos.

Concessões: será esse o caminho? Planos responsáveis: ainda temos tempo para esperá-los? Entre tantas perguntas, só uma palavra surge como resposta: mudanças.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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