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Conteúdo 4 de agosto de 2013

Juventude aposentada

Que a juventude representa o futuro de um país não há dúvidas. Mas, um país que não valoriza a velhice não tem como garantir um futuro para essa juventude. Ainda mais quando essa juventude sustenta o consumismo imposto pelos mercados que não prezam pela sustentabilidade.

Em visita ao Brasil, o Papa Francisco lembrou muito bem no seu discurso na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, que manter programas sociais que visam apenas os jovens e não desenvolver outros que assistam aos idosos é um desrespeito com essa juventude que um dia vai envelhecer.

O tema poderia abordar a parcela considerável dessa juventude que perde a vida devido à violência que assola o Brasil. Poderia abordar a aposentadoria por invalidez de jovens que se arriscam no trânsito e/ou são vítimas dele. Porém, estamos falando sobre o que afasta os jovens dos seus verdadeiros dons, da profissão que realmente gostariam de seguir. É sobre a forma com que a utilidade econômica da juventude é conduzida por culpa do poder público ou pela conivência de muitos jovens. Vale lembrar que em abril de 2013 o déficit da Previdência Social foi de 8,5%, o pior registrado no mesmo período de 2012. Isso indica que faltarão jovens para cobrir a aposentadoria de idosos. Também indica que o brasileiro vive mais e está tendo menos filhos. Contudo, o ponto que mais chama atenção é que estudos já comprovavam isso na década passada e pouca coisa mudou naquilo que poderia contornar esse problema: O mercado jovem e sua empregabilidade.

O que vem se intensificando é um consumismo por parte dos jovens almejado por muitos mercados que se especializam nessa atividade sem se importar com a origem de recursos necessários para manter tal atividade. Parece muito inofensivo, mas é a chama que alimenta muitas mazelas sociais, inclusive a violência. Ou já não ouvimos notícias de mortes por causa de um par de tênis? E o que falar do tráfico de drogas que alicia nossos jovens cada vez mais cedo? É o exercício do “posso ter” antes do “quero ser”.

Mais grave do que a diminuição da população jovem é a venda dos sonhos desses jovens por tão pouco […]. Eles aposentam seus ideais, seus sonhos; e passam a correr atrás da injustiça social que aflige nossos idosos. Começam a trabalhar cada vez mais cedo dificultando sua formação e preparação profissional para enfrentar o mercado. Procuram vencer a qualquer custo. Mas, às vezes, esse custo é pago pela ética. Procuram vencer na vida de forma fácil e nem percebem que já estão aposentados.

Não se pode esquecer que é pela juventude que se dá a continuidade e melhoria de todo o processo de desenvolvimento. Infelizmente, a classe jovem é atacada por todos os lados: Programas Sociais ineficientes, ensino público de baixa qualidade, ensino privado muito caro, atacados pela violência e pelos próprios jovens com sua falta de compromisso com as responsabilidades primárias. Felizmente, temos jovens aguerridos, inteligentes e entusiastas com forças para mudar o País. Esses podem dizer que venceram com seus próprios esforços.

A Europa já conta com ¼ da população jovem desempregada – só na Espanha, há mais de 6 milhões de desempregados, 26,2% da população. E entre os jovens basta dizer que hoje há mais deles desempregados do que trabalhando naquele país – o que eleva a dívida européia em meio a uma crise “esperada” já que a população jovem não encontra mercado para sua excelente formação quase sempre voltada à informática ou mercado financeiro. Acontece que a informática, apesar de ampla, não comporta tanta mão-de-obra e o segmento financeiro necessita de investidores. Então, o mercado se torna cruel, pois ninguém entra num barco que está fazendo água. E aí vem o dilema: “Comer a semente ou plantá-la”?

Não se pode contar com o fracasso ou inexistência de projetos sociais, pois demanda muito tempo para consertar. É óbvio que na década seguinte não será possível que a juventude “sustente” a Previdência. É necessária a harmonia das diferentes idades, pois estão todas no mesmo barco: jovens que têm forças para remar, mas alguns não querem, e idosos que ainda têm forças para remar, mas não podem.


Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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