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Conteúdo 20 de agosto de 2018

A logística mudando – com – o planeta

Um dia tive o prazer de ouvir as histórias de um senhorzinho – já falecido – que me falava, do jeito dele, sobre logística. Seu pai foi caixeiro-viajante e viu a fase em que o ofício deu lugar aos grandes comerciantes. Hoje, nessa impossível tarefa dada à imaginação, pensar em cidades cujo abastecimento era feito em lombos de animais, foge completamente dos padrões logísticos atuais.
Nesse tempo, a palavra “logística” ainda ensaiava ser pronunciada em empresas atacadistas e era um instrumento apenas de grandes corporações, além das grandes montadoras de automóveis, onde tudo começou a tomar força.

Assim como não se imaginava cidades dependentes de lombos de animais, também não se imaginava, até bem pouco tempo, que um vírus de computador pudesse paralisar uma empresa, roubar seus dados pessoais e até zerar sua conta bancária; que as mídias sociais seriam o maior alvo da área de marketing, ou mesmo que estaríamos tão dependentes das carrocerias de caminhões numa proporção muito superior ao que antes seríamos do lombo de animais.

Passado o êxtase da informatização – não que ainda não haja um vasto campo a ser conquistado –, os maiores sinais de mudança dos tempos estão representados pelas novas fontes de energia, agora com única tendência à sustentabilidade. E aqui surgem pontos de apreensão que, principalmente em países com desenvolvimento econômico ainda com muito por aprender, e não só o Brasil, como China, Estados Unidos e outros que não dão a merecida importância aos efeitos climáticos, num tempo em que o combustível fóssil findará com atividades vitais ao atual “planeta de consumo”, as estratégias para substituição da energia fóssil parecem bem mais desaceleradas do que os investimentos em algo já considerado ultrapassado por alguns países que estão na vanguarda da energia renovável.

Os desinvestimentos na área de exploração de petróleo vêm tomando força e hoje são mais de seiscentas entidades mundiais voltadas à transição, até 2050, de fontes de energia renováveis. Enquanto voltamos nossa atenção só para a Petrobrás, não que não mereça pelo que representa comercialmente para o país, estamos negligenciando projetos para o futuro. Nossa dependência dos cerca de 2,7 milhões de barris diários produzidos no Brasil, onde 53% são oriundos do pré-sal, parece não nos dar a dimensão do quanto temos que olhar para frente. A Petrobras, cuja maior riqueza está no conhecimento tecnológico, teve sua produção “salva” pelo pré-sal, já que suas reservas demandavam cerca de duas décadas para consumo. Hoje especialistas estimam reservas para 130 anos, mas e depois? Se não forem descobertas outras reservas? Se não houver freio no consumo que só cresce ano após ano?

Evidentemente, esse não é um problema só do Brasil. Acredita-se – e aqui há certa imprecisão – que as reservas mundiais de petróleo se esgotarão em cinco décadas. Sabemos que muitos países concentram suas riquezas na exploração desse recurso, e como será quando acabar? Aliás, a única certeza que se tem é que vai acabar. Então, ou estaremos preparados ou necessitaremos de muitos lombos de animais para nossa logística.

Nossa infraestrutura e frotas estão voltadas para a fonte de energia de hoje. Claro que tudo pode ser redirecionado, mas temos que adaptar e construir mais do que estamos acostumados a ver nessas “ultrapassadas” formas de transportar cargas e passageiros e na forma de cuidar do Planeta. Países como França, Índia, Noruega e Reino Unido já determinaram prazo, entre 2040 e 2050, para que as montadoras deixem de vender carros com motores de combustão. No Brasil, recentemente foram instalados na Via Dutra, entre São Paulo e Rio de Janeiro, postos de recarga para carros elétricos. As tomadas começam a ganhar o espaço das bombas de combustíveis.

Falaremos mais sobre o assunto em colunas próximas, pois não há dúvidas de que novos tempos surgem para revolucionar a Logística. E não adianta olhar para trás para repensar erros ou se lamentar pelo que não foi feito. O futuro é inevitável. A certeza é de que a transição do lombo de animais para caminhões não parece muita coisa diante da transição que se desenha das bombas para as tomadas.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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