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Conteúdo 17 de janeiro de 2014

Logística nas nuvens

Há três anos, publicamos um artigo sobre a revolução silenciosa da computação nas nuvens aplicada à logística, onde prevaleciam tons otimistas. No entanto, deixamos de antecipar que enfrentaríamos restrições tão sérias e tão cedo…Eis que as restrições se revelaram.

O que é Computação nas nuvens?

Para quem ainda desconhece, de acordo com o Gartner Group – reputada consultoria especializada em tecnologia da informação – são cinco os atributos essenciais para praticarmos o conceito de computação nas nuvens:

1.    Oferta de recursos (software e infraestrutura) na forma de serviços;
2.    Elasticidade e flexibilidade de escala adequada à dinâmica da demanda dos clientes, possibilitando atender picos de demanda ou ampliar/reduzir capacidade computacional conforme a necessidade;
3.    Compartilhamento de recursos entre um grande número de usuários;
4.    Medição e pagamento de acordo com a utilização do serviço;
5.    Uso de protocolos e tecnologias da internet para acesso remoto aos recursos da nuvem em qualquer lugar do planeta.

Revolução mobile: Em termos práticos, significa que em um sistema baseado na computação em nuvens é possível aos inúmeros usuários acessarem suas informações a partir de um smartphone (rodando iOS ou Android, por exemplo), notebook ou desktop, em qualquer lugar que tenha acesso à internet, independente da capacidade do equipamento local, porque o processamento pesado ocorre remotamente, em um datacenter de servidores cuja localização é transparente. Trata-se de uma revolução sem precedentes para as operações logísticas em termos de produtividade com mobilidade, pois aumentamos a capacidade do sistema reduzindo seus custos operacionais. Tudo que precisamos em nossas operações logísticas!

Tendência emergente: Entre as empresas líderes e os principais visionários incentivadores desta tecnologia estão gigantes como Amazon, Google, Microsoft, IBM e Sales force. Aliás, em 8 de Fevereiro de 2011, o governo americano reconheceu que a computação em nuvem é o futuro e o tipo de tecnologia que encaixa nas necessidades do governo, oficializando que todos os órgãos governamentais devem migrar seus serviços digitais para a nuvem. Também recomendou que as agências governamentais ponderem as compensações entre a economia e a agilidade decorrentes desta tecnologia, com as preocupações e cuidados sobre a manutenção da continuidade dos negócios, cumprindo com as normas de segurança cibernética, e gestão das questões legais, como a propriedade dos dados e privacidade. Para saber mais, consulte o Federal Cloud Computing Strategy (http://1.usa.gov/1ct9Qgn ehttp://cloud.cio.gov/).

Perspectiva estratégica
Já é consenso que, a cada dia que passa, a logística de distribução depende mais e mais das modernas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para se diferenciarem. Sistemas rodando em nuvens têm capacidade para processamento de volumes imensos de dados em tempo real com centenas e até milhares de usuários realizando transações e enviando dados a cada segundo.

Esta arquitetura incorpora e disponibiliza o que há de mais moderno na TIC, para gestão de recursos logísticos, sequência de execução, roteirização, cerca digital e tracing, consistência de procedimentos operacionais em campo, registro de comunicação e notificação de anomalias e fraudes. Trata-se de a tendência mundial para redesenho de processos logísticos. Daí avaliamos que sistemas rodando em servidores físicos se tornaram obsoletos, pesados que podem restringir e comprometer o bom andamento das operações logísticas pois jogam para dentro dos seus servidores, geralmente já sobrecarregados, uma infinidade de novos acessos, ações e envio de dados, aumentando de maneira considerável a possibilidade de tornar estes servidores mais lentos e até de derrubá-los durante os momentos de pico de qualquer operação logística com alto nível de criticidade.

Há três anos, em nossa empresa e na arquitetura de nosso sistema, também apostamos nossas fichas desenvolvendo soluções nesta tecnologia inovadora, e os resultados são espetaculares… No entanto, estamos enfrentamos obstáculos, os clássicos paradigmas restritivos.

Quatro cases de sucesso

1.    Sales Force: Inúmeras empresas usuárias estão investindo em soluções CRM (Costumer Relationship Management) para prover informações comerciais on-line para sua força de vendas (tanto pessoal interno como representantes em campo), possibilitando-os capturar e processar com agilidade e confiabilidade dados cadastrais e reportes dos contatos com os clientes, efetivamente auxiliando o processo comercial. Até aqui, nada de novo. No entanto, a inovação e o sucesso impressionante do Sales Force decorre de seu modelo de negócio, conhecido como SaaS (Software as a Service). Neste modelo, ao invés de adquirir um software imobilizando capital como ativo, contratamos a solução como um serviço e dimensionamos a infraestrutura requerida conforme a necessidade daquele momento, oferecendo maior flexibilidade com menores gastos fixos. Existe, também, uma vantagem contábil, pois o serviço neste caso é contabilizado como despesa no mês, reduzindo o lucro tributável. Neste modelo todos ganham, e os riscos são reduzidos, porque a empresa pode desativar este serviço caso esteja enfrentando restrições pontuais em seu fluxo de caixa.

2.    Google Mail: Quem disse que precisamos manter nossos contatos, correspondências (e-mails) e compromissos em um computador local? Aliás, quantos de nós já perderam todos os seus dados porque o arquivo do Outlook foi corrompido? Localmente, o risco de perder seus dados é muito maior, e é ainda mais perigoso para aqueles que não mantêm uma disciplina de backups e senhas robustas.

3.    Google Docs: Processadores de texto convencionais (como o consagrado Word da Microsoft) ainda são caros, enquanto a solução em nuvens oferecida pela Google possibilita edição colaborativa sem custo aparente. Aliás, ainda não entendi porque devo adquirir a versão integral do Word e não apenas um upgrade da minha versão anterior, mas também não chega a ser problema, porque na minha opinião as melhorias deste produto não justificam a troca, e os aplicativos da Google parecem nos atender melhor, sem custo de aquisição ou upgrade. Se você ainda não experimentou o Google Docs, não perca tempo!

4.    Gantter: Chega de pagar licenças para que os membros das equipes de seus projetos possam colaborar na edição das atividades e no controle do seu progresso das tarefas. O Gantter é uma solução onde você pode produzir cronogramas sem adquirir softwares (open source), que aproveita o Google Chrome para edição amigável no formato MS-Project (como uma extensão deste navegador) e o Google Docs para compartilhar cronogramas aos membros do time.

Por que as nuvens não são tão populares?

Provavelmente você esta se perguntando por que então embarcadores e operadores logísticos de porte ainda estão mantendo seus caros e ultrapassados modelos cliente-servidor? Vejamos possíveis justificativas para esta “resistência”:

1)    Insegurança: Marcos de regulamentação, tais como a Lei Sarbanes-Oxley, Basiléia II e a resolução 3380 do Banco Central do Brasil não permitem que sejamos negligentes ou irresponsáveis com a governança da informação, portanto preocupações com acessos indevidos, hackers e confidencialidade de informações sensíveis pesam neste dilema. Em resposta, instrumentos para gestão da informação, tais como a norma ISO 27002:2013 (Information technology — Security techniques — Code of practice for information security controls), CoBit (Control Objetives for Information and Related Technology), CMMI, InfoSec e certificação OWASP, foram criados para assegurar, prover e certificar um tratamento profissional para estas vulnerabilidades. Ponderando os riscos e benefícios, hoje concluímos que o velho paradigma do servidor local já está completamente superado. Naturalmente, para algumas informações efetivamente sensíveis em ambientes empresariais e governamentais provavelmente este processo de transição será mais lento, pois a viabilidade da mudança dependerá de maior governança, no entanto casos de sucessos como o Sales Force já demonstraram que é possível compartilhar informação com segurança.

2)    Legado: As questões de segurança não representam um obstáculo técnico para os desenvolvedores qualificados, porque a “cloud” pode ser implementada em nuvens privadas com tecnologias de acesso restrito extremamente robustas. O maior entrave para as aplicações empresariais críticas será mesmo a inércia, pois existe um enorme legado de sistemas operando com arquiteturas de 10 anos atrás, que ainda não estão na web e talvez nunca estarão. A mudança ocorrerá na medida em que os embarcadores exigirem a otimização do atendimento e dos serviços associados.

3)    Oferta limitada: Outra justificativa é que no mercado ainda são poucas as aplicações com arquitetura de virtualização e microsserviços, empregando modelos SaaS que não requerem instalação. Neste aspecto, creio que o argumento matador será mesmo o bolso, quantificado através do Custo Total de Propriedade (TCO) e do Retorno sobre o Investimento (RSI), e que gradativamente provocará uma migração natural das aplicações para as nuvens.

4)    Geração Y: Outra dificuldade relevante reside no conflito das gerações: Desenvolvedores capacitados para programação de sistemas nas nuvens custam caro, e são seletivos sobre onde desejam trabalhar. O ambiente pesado das grandes softhouses e fábricas de software engessadas não lhes agradam, pois seu espírito jovem e empreendedor anseia por participar ativamente desta revolução e lhes prover seu lugar ao sol, removendo os programadores jurássicos que ainda pretendem conservar este status quo.

5)    Seguidores tardios: A última justificativa que identifico é o simples desconhecimento que a maioria dos empresários ainda tem desta oportunidade tecnológica que é a computação em nuvens, de forma que popularizando o assunto esperamos reverter este cenário muito em breve.

Resistência
É natural que novos paradigmas assustem pessoas mais conservadoras, que não compreendem a “big picture”, permanecendo acomodadas no status quo atual e se esquivando das mudanças.

Infelizmente, como recentemente detectamos em uma grande empresa no ramo de logística, nem todos os profissionais, inclusive aqueles deTIC, apresentam capacidade para contribuir estrategicamente com seus empregadores. Apesar do discurso, poucos apresentam – de fato -espírito inovador e aqueles despreparados temem as consequências na mudança dos paradigmas, do servidor local para as nuvens.

Assim, encontramos duas classes de especialistas: Aqueles que preferem resistir para sua conveniência pessoal, e outros que preferem inovar, pois compreendem as oportunidades e os benefícios, sendo capazes de administrar os riscos e investimentos requeridos. Pensando em sua carreira, qual categoria você prefere escolher? E esta escolha é sustentável no longo prazo?

Resistir é inútil, você será assimilado.

Nossa tese é que a computação em nuvens, assim como SaaS (Software as a Service) são poderosas tendências emergentes na logística, isto é, estão se consolidando e estarão permeando nossas operações, mais cedo ou mais tarde. É apenas uma questão de tempo!

Outrora – quando os computadores estavam desconectados dos demais – não havia alternativa e os usuários estavam submetidos ao poder dos especialistas da TIC, no entanto a internet continua evoluindo, em termos de ampla disponibilidade, aumento da largura de banda e conexão via bluetooth, Wi-Fi e 3G. Nesta nova realidade, empresas como a Amazon e a Google, com absoluta certeza dispõem de uma equipe técnica muito mais competente do que os poucos “especialistas” locais menos capacitados e atualizados em termos de recursos tecnológicos de segurança aplicada, e assim são capazes de oferecer soluções robustas e que evoluem continuamente.

Competitividade
A modernização dos processos de distribuição física é uma expectativa dos embarcadores e representará uma importante vantagem competitiva para os Early Adopters. Por outro lado, preservar o modelo legado representará uma estagnação e risco para o seu negócio.

Minha mensagem final é que “experimentar é o caminho para a inovação” e a sobrevivência nos negócios exige anteciparmos tendências, livres de paradigmas restritivos. Enquanto profissional de logística, muito em breve você também terá que fazer esta escolha, então esteja preparado para avaliar este dilema com isenção e profissionalismo.

Enfim, neste artigo estou apenas compartilhando uma opinião enquanto entusiasta em operações logísticas. Aprendemos muito nestes três anos trabalhando com este tema, e ainda vamos continuar aprendendo com os legítimos especialistas em segurança da informação, no entanto já percebemos a relevância da computação nas nuvens na logística… E você?

Daniel Gasnier Daniel Gasnier

Diretor da G4 software. Para saber mais, conheça os serviços de Consultoria e Treinamentos InCompany em

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