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Conteúdo 1 de fevereiro de 2015

Logística no apagar das luzes

O setor elétrico no Brasil vem atravessando, segundo especialistas, a maior crise de sua história. Ora, estamos mesmo ainda tão distantes de percebermos que, com o aumento da população, o consumo de bens básicos também aumenta? A população brasileira saltou de quase 170 milhões no ano 2000 para quase 203 milhões em 2014; ou seja, quase 20% a mais de pessoas, só nesse período, para usufruir de uma infraestrutura que quase não atendia uma demanda de duas décadas atrás.

De quase em quase, vamos nos deparando com uma insuficiência logística que beira a precariedade. No leque da precariedade do transporte público, da falta de cobertura logística para a distribuição de produtos, dos custos elevados de serviços, agora temos também que incluir a escassez de água e a consequente falta de energia elétrica, já que em 2010 as usinas hidrelétricas eram responsáveis por 93% da geração de energia e, não só no passado como hoje, não temos um projeto consistente que assegure a oferta para o futuro.

Hoje esse percentual é de 75%. Mas, do contrário que se possa pensar, essa redução não foi ocasionada pelo avanço dos projetos de energias sustentáveis, como a energia solar ou eólica, tão promissoras já que temos fontes abundantes no nosso país, e sim pelo aumento da geração de energia em termelétricas que poluem mais e ofertam um produto muito mais caro, além de causar desequilíbrio no setor de combustíveis. Em 2010 as termelétricas geravam 6% da nossa energia. Hoje elas representam quase 22% e impactam diretamente no aumento da nossa conta e, nem de longe, significam solução para a oferta de energia, pelo contrário, representam um retrocesso da construção da sustentabilidade.

Parece mesmo não termos aprendido que as vastas florestas de pau-brasil e os garimpos onde ouro e diamantes brotavam do chão não seriam para sempre diante da extração indiscriminada. O mau uso da água nos remete a uma situação plural. “Culpar São Pedro” parece mesmo uma demonstração de desespero do poder público diante da difícil aceitação de que faltou, nas últimas décadas, planejamento. Embora defenda ferrenhamente que não haverá desabastecimento mesmo com o aumento do consumo e redução da oferta. Parece mais um “tiro no escuro” e, usando de trocadilhos, estamos entendendo bem sobre tiros e aprendendo mais sobre escuridão.

Os impactos dessa crise no setor logístico são enormes. E não só pela necessidade de energia do próprio setor ou por já sermos o 6º país com a energia mais cara entre 27 países geradores potenciais. A matriz logística do país, já responsável por 2/3 dos custos dos produtos, tem sua infraestrutura prejudicada já que os investimentos contemplam, em boa parte, o setor de geração de energia, deixando ainda mais desassistida a nossa logística já tão surrada nos segmentos de melhorias e conservações. A prova é de que em várias unidades geradoras, em especial em Belo Monte (PA) e em Jirau (RO), os atrasos no cronograma chegam a 1 ano e os projetos para a distribuição dessa energia nova também estão bem atrasados. Em alguns casos, assim como usinas geradoras, essas linhas de distribuição estão apenas no papel.

Para o consumidor final, nem precisa dizer que seu bolso terá bem mais espaço. Pagar mais devido à atual infraestrutura logística, ao repasse do aumento dos custos de produção e logística e ainda amargar o aumento da conta de luz residencial é, no mínimo, um choque – sem trocadilhos.

Para a Logística, essa crise vem como um “pé no freio”, ou melhor, uma “pisada mais forte no freio” para que nossa logística, tão carente de desenvolvimento, de projetos ambiciosos que contemplem nosso crescimento, não fique às escuras – nos dois sentidos – pois, mesmo nessas e tantas outras dificuldades em tantos setores, no apagar das luzes, o que nos resta é logística.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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