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Conteúdo 8 de setembro de 2015

MALHA RODOVIÁRIA: CARÊNCIAS E CORRUPÇÕES

Os números absurdos em pesquisas divulgadas na mídia falam por si só da nossa real situação logística. Concentrada nas rodovias, nossa demanda logística agoniza com seus quase 70% tentando fluir por estradas sem qualidade, inacabadas e perigosas suficientemente ao ponto de expor as vidas daqueles que delas dependem, inclusive o desenvolvimento econômico do nosso país.

Posso falar com propriedade sobre esse assunto, pois uma de minhas incumbências é sobre a demanda de produtos asfálticos para o uso em obras públicas. Percorri rodovias federais, estaduais e municipais no Nordeste do Brasil e o tom é o mesmo em todas as regiões brasileiras, umas mais graves que outras.

Esses números já são espantosos, mas na verdade, são bem piores se as questões técnicas fossem consideradas. A maioria dos brasileiros acha que um asfalto espesso ou “tapetinho” representa uma boa qualidade. Aí estão vários pontos envolvidos. Em muitas rodovias até se aplica uma massa asfáltica de boa qualidade, mas não é feita uma boa drenagem para preservar a base que é a parte mais importante de uma boa rodovia. Como já dito em artigo anterior, a finalidade do asfalto é impermeabilizar a base e proporcionar mais conforto e segurança aos usuários. Para isso, dentre outros pontos, ele deve ter uma boa recuperação elástica ou o calor do dia e o frio da noite lhe causará trincas e consequentes infiltrações. Precisa de uma usinagem com agregados (brita, areia, pó) adequados e de boa qualidade para não comprometer sua durabilidade.

As concessionárias que detêm direitos sobre rodovias usam, em sua maioria, o asfalto com polímero (também extraído do petróleo) e com aditivos adequados, explicando assim, faixas de rodagem com maior qualidade e durabilidade. Essas obras duram até três vezes mais do que um asfalto comum de boa qualidade e sua manutenção não exige grandes reparos. A questão é que se trata de um produto mais caro (em torno de 50%), contudo, seu retorno é significativo com uma economia de manutenção de mais de 70% ao ano considerando o tempo mínimo de oito anos.

Infelizmente, o poder público opta por trabalhar com projetos de qualidade inferior para que a população sempre perceba obras que enalteçam determinados “politiqueiros” que, até deixarem o poder ou que sejam reeleitos, já desmanchou tudo. É a percepção errada de que máquinas trabalhando sempre significam um bom governo. Na verdade, na maioria das vezes, significa despreparo e corrupção. A cada quilômetro de rodovia construída, poderíamos construir mais mil e duzentos metros com boa qualidade e com o mesmo orçamento.

Em muitas obras, a fiscalização exige de algumas empreiteiras aquilo que não está no projeto licitado e faz vistas grossas para outras quanto ao uso de materiais e serviços de qualidade. Você acha que há um nivelamento pelo menor ou pelo maior preço?

Vale lembrar também que esse levantamento não contempla as implantações necessárias, pois no Brasil, menos de 12% da malha necessária é asfaltada. Isso leva nosso País às carências de infraestrutura imensuráveis e prejuízos incalculáveis. Como se desenvolver sem fazer o básico?

A corrupção nessa área aumenta de forma vergonhosa. Antes havia corrupção (sempre existiu), mas as obras saiam do papel. Com o passar dos tempos, a proporção do “um prá eu, um prá tu, um prá eu” – que me desculpem pelo uso da poesia de Luiz Gonzaga – vem crescendo ao ponto de pagarmos por uma obra superfaturada inexistente.

O Brasil precisa mudar esse quadro. Muito do desenvolvimento não ocorreu devido essas “farras” com o dinheiro público. O que se gasta na malha rodoviária é o suficiente para nos dá estradas de boa qualidade e desenvolver alternativas como as ferrovias e portos melhores. Basta o uso honesto e inteligente do dinheiro público. Talvez eu queira demais ou já saiba o que não quero. Não quero me privar de uma melhor qualidade de vida, nem ver vidas ceifadas diante de tanta irresponsabilidade.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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