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Conteúdo 2 de novembro de 2014

Não se constrói economia sem pessoas e sem logística

É cada vez mais preocupante a exclusão dos valores humanos nos ciclos econômicos e, como não dizer, nas nossas relações pessoais. Esse valor humano está deixando de ser o elo principal para se tornar secundário, ou até inexistente em muitos sistemas econômicos.

Gradativamente, as pessoas estão deixando de ser “a razão” para ser “um meio”. Exploradas politicamente, religiosamente e economicamente as pessoas estão sendo desprezadas nos projetos que deveriam contemplar segurança, bem-estar e qualidade de vida. Exemplos como sinais de trânsito que priorizam os carros e não os pedestres, ou políticas que promovem a desigualdade e desamparam os menos favorecidos estão, cada vez mais, se tornando usuais em prol de um crescimento econômico contraditório, pois sem as pessoas não há sustentabilidade na economia.

Esse é um ingrediente perigoso na receita de uma economia sólida. A ideia de fazer o melhor pelas pessoas é o curso forte e seguro para a evolução econômica que desejamos alcançar. Se nós estamos aprendendo como as empresas devem tratar seus clientes, por que a economia não funciona de forma a garantir que sua maior representatividade seja, de fato, respeitada? Se algumas empresas com marcas antes inatingíveis estão caindo, nossa economia não corre riscos idênticos com as mesmas falhas que trazem as mesmas consequências?

Vivemos numa década de mudanças absolutas. A tecnologia vem avançando de forma mais que acelerada, mas continuamos sustentando e agravando os mesmos problemas de abastecimento, de usos inadequados, de incapacidade e de omissão da esfera pública responsável pela macrologística. Razão pela qual já vem sendo difundida a ação de investimentos nessa área pela iniciativa privada. Ou seja, no mundo todo há dinheiro sobrando para investir em infraestrutura, e essas deficiências passarão a ser sanadas por quem se sente mais prejudicado, financeiramente, com a ineficiência do poder público. Embora haja uma legislação complexa, essas dificuldades parecem não ser superadas por outro caminho senão com a concessão dos meios de solução para os problemas de transportes que, por exemplo, com seus congestionamentos e fragilidade do transporte público, representam perdas incalculáveis para a economia.

O Brasil perde até 15% de sua produção de grãos durante o transporte e no processo de armazenagem. Isso representa milhões em toneladas e bilhões em dinheiro. Só possuímos 11% da capacidade de armazenagem de produção de grãos. Economicamente, isso significa que produzimos, carregamos e perdemos produção e valor, pois não temos como administrar o escoamento a fim de garantir o melhor tempo e preço de mercado. O nosso carro-chefe da economia vai se perdendo pelas estradas esburacadas e ferrovias insuficientes combinando com portos desestruturados. Um plano para contornar essa situação seria o aumento dessa capacidade de armazenagem, como fizeram os Estados Unidos, nosso maior concorrente, que armazena uma safra para escoá-la no momento certo para sua logística e para os preços de mercado cobrindo inclusive os custos com a gestão dos estoques, e a concessão da malha ferroviária que o país desprezou ao longo dos anos. Não é um plano instantâneo, ele levaria no mínimo cinco anos.

O problema é que há o temor por parte da esfera pública em reconhecer incapacidades administrativas e criam-se impedimentos para a solução dos problemas. Enquanto isso, buscamos um meio de suportar e conviver com deficiências que nos tiram a qualidade de vida. Pior, sabemos o que é necessário, como mudar, quanto custa e os porquês de não ser feito. Por falta de recursos não é. Quem trabalha no meio sabe o tamanho do sofrimento como usuário e como profissional.

Acreditar numa economia sustentável é mais que concentrar palavras e desejos, apesar de serem precedentes às etapas do processo de desenvolvimento, palavras sem planos e desejos sem ações nos deixam estagnados e aprisionados pela fatia que detém o poder dado por nós. O crescimento econômico que, antes de tudo, deve acontecer para o bem das pessoas, inclui, sem dúvidas, soluções em infraestrutura para reduzir perdas e entraves.

É triste ouvirmos as explicações dos nossos representantes, ao longo de décadas, a respeito do baixo crescimento econômico. É como tentar justificar a fome com a despensa cheia de alimentos. O problema é a incapacidade ou falta de vontade de prepará-los.

 

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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