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Conteúdo 14 de julho de 2014

O grande negócio do caos

Sem dúvidas, uma crise é uma grande oportunidade para crescimento. O aprendizado deixado por essas situações é determinante para a manutenção de um negócio que precisa ser bem conduzido, pois toda crise passa e começa outra num diferente segmento. Como um grande carrossel, o mercado oferece ferramentas para todos os setores, mas lembra: o que está em alta hoje pode ser o fracasso de amanhã.

Um grande exemplo dessa má condução é a crise imobiliária: o Brasil precisando de mais moradias, incentivou investimentos no setor da construção; puxou então, os preços dos materiais devido à procura; absorveu toda a mão de obra e submeteu o objetivo principal às falhas secundárias provindas das deficiências que o setor não conhecia. Não havia nenhum levantamento que apontasse a capacidade da mão de obra. Simplesmente, o preço do imóvel decolou, faltou mão de obra, construtoras comprometeram seus cronogramas ou até faliram, e o resultado final foi a insatisfação de muitos consumidores que ainda lutam na justiça para que seus direitos sejam respeitados.

Na verdade, podemos dizer que experimentamos dois tipos de crises: a crise natural, que sobrevem do curso do mercado em evolução, e a crise construída que, geralmente, é aquela resultante da falta de iniciativa pública e da oferta de direitos básicos negados pelo Estado. Essa é uma crise que destrói o que chamamos de “crescimento sustentável”, pois mesmo tendo que contar com outras áreas, os lucros são concentrados num segmento e torna outros “escravos” de suas regras, poderes e ritmos.

Há décadas vivemos crises construídas, mas foi na última que elas mais se acentuaram e comprometem diretamente a qualidade de vida dos brasileiros. São crises com efeitos agudos sobre a sociedade e que em nada representam oportunidades de crescimento para todos que desenvolvem suas atividades nesses meios. E são meios essenciais para o país os que mais interessam:

•    A crise na educação: Essa deficiência, muito antiga, é o principal fator que prejudica o Brasil. Com ela e por ela, temos uma banalização do ensino que, de baixa qualidade, não prepara os alunos para o mercado como deveria e, paralelo a isso, desestimula o corpo docente do qual esse preparo depende. Do ano 2000 para cá, as instituições de ensino superior passaram de pouco mais de mil para quase duas mil e quinhentas – 90% são particulares – ao mesmo tempo em que o salário dos professores defasou 43%. Há casos em que o salário desses profissionais, essenciais para o desenvolvimento do país, caiu até 60%, configurando um negócio altamente lucrativo para aqueles que exploram essa crise, pois os alunos, mesmo não bem preparados, pagam caro. Em 2014, o setor movimentará mais de R$ 72 bi.

•    A crise na saúde: Hoje os planos de saúde determinam “quem vive e quem morre” em meio àqueles que tentam se livrar das maiores chances de morte na saúde pública. Não só escolhem os clientes como negam direitos aos escolhidos. Com quase 50 milhões de brasileiros contratantes, quase ¼ da população, o lucro líquido desse setor alcança R$ 1,5 bilhão por trimestre. Só em 2013 o lucro do setor cresceu 25% contrastando com os ganhos salariais dos profissionais.

Podemos incluir também a crise na segurança e no transporte de pessoas e produtos. Podemos citar crises com lucros antecipados – aquelas onde se colhe antes de plantar – que, visando unicamente o lucro, não se investe em infraestrutura e na renovação de recursos, como o abastecimento de água e oferta de energia. Podemos entender o porquê de termos uma logística pouco desenvolvida se olharmos para o monopólio dos combustíveis. Podemos entender o péssimo serviço das operadoras de telefonia que vendem linhas num sistema insuficiente e precário, e só é assim porque seus lucros independem disso, criando uma situação de “aprisionamento comercial”.

Enfim, todas são crises que oferecem lucros exorbitantes e unilaterais não são favoráveis ao Brasil, pois a conta é sempre paga pelo consumidor final, que sofre duas vezes: pela negação de um direito e pela exploração em decorrência. Esses grupos que exploram essas crises não fomentam outros como se pode pensar. Na verdade, eles estão imunes às crises naturais do mercado, pois estão acima das necessidades e da fiscalização daquele que se vale destes para cobrir suas deficiências: o poder público.

 

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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