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Conteúdo 4 de maio de 2014

O maior desafio logístico de todos os tempos (parte 2/2)

Ao buscarmos soluções, sempre esbarramos em pontos como: inércia, cultura, conscientização, interesses, falta de compromisso e má gestão. E, enquanto nos preocupamos com o que gera o quê, nos tornamos mais ávidos por recursos que nos façam prosperar ou que nos proporcione comodidade, esquecendo que podemos escolher representar um problema ou uma solução.

Apontada como “a solução”, vem a Logística Reversa (LR). E seria parte muito importante se houvesse planejamento e estrutura para que se desenvolvesse. Mas, ainda estamos muito atrasados para entender a LR. Se não aprendermos logo como USAR, as chances de REUTILIZAR vão se perder nas ações de uma minoria idealista, correta e bonita para satisfazer a consciência daqueles que dizem que, pelo menos, alguém está fazendo algo. E, sabe aqueles pontos que acabei de citar? Pois é, podemos agora dizer que a LR está inerte por causa da cultura e falta de conscientização dos indivíduos e, para as organizações, não há interesse em investir nem em estabelecer um compromisso, já que o poder público se preocupa com impostos e não com impactos – só se esses forem resumidamente financeiros.

Hoje, uma folha de papel reciclado custa 15% a mais do que o convencional. Não seria assim com esse e outros exemplos se a questão da reciclagem não fosse uma grande hipocrisia: quando se diz que o lixo é o artigo mais caro do mundo, vamos de encontro com as dificuldades das empresas e cooperativas de catadores que sobrevivem sem apoio e com míseros trocados; quando separamos nosso lixo em casa, a coleta que não é seletiva e é maioria, mistura tudo novamente. É mais fácil uma empresa que trata seus resíduos ser multada, pois precisa cumprir diversos itens para as licenças caras e demoradas, do que uma que lança seus resíduos indiscriminadamente.

Ainda desperdiçamos um terço (mais de 1,3 bilhão de toneladas) de todo o alimento produzido no mundo, seja por questões culturais ou problemas com infraestrutura de transportes e de armazenagem. Esse valor representa cerca de US$ 750 bilhões por ano, fora outros efeitos como a emissão de 3,3 bilhões de toneladas de gases na atmosfera, o uso da água para a produção desses alimentos, que equivale ao fluxo anual do maior rio da Europa, o Volga na parte europeia da Rússia, e a contaminação do solo e lençóis freáticos. No Brasil, produzimos mais de 25% a mais do que precisaríamos para nos alimentar. Mas, do que fica no mercado interno, só consumimos 36%, pois 20% do alimento pronto é desperdiçado, mais 20% na colheita, 15% no processo industrial, 8% no transporte e 1% no varejo.

Nessa conta desumana, conseguimos entender as dificuldades logísticas para a busca de soluções: uma logística enxuta (lean) que funciona numa empresa, mas não em nossas casas (comportamento); um avanço tecnológico muito à frente da nossa infraestrutura (meios e condições). Estamos buscando acertar dentro de um ambiente de erros. Temos o melhor carro sem estradas, o trem mais rápido sem os trilhos e um navio sem mar.

A Logística precisa ser vista como aquela que oferece e não como a que necessita. Precisa ser moldada dentro de coerências e se desenvolver de forma planejada. Os “aventureiros” precisam parar de brincar de logística e dar seus lugares àqueles que realmente sabem o que têm e sabem como usar.

É duro admitir que tudo o que esperamos da Logística está trancado por teorias, às vezes, fantasiosas se tentarmos implantar projetos com essa atual infraestrutura e modelo de gestão pública e privada que neutraliza qualquer boa ideia que não tenha como único objetivo a lucratividade. É duro aceitar que um setor vital, como é a Logística, esteja fadado a sobrevier sempre no sufoco e tendo que “se virar” em meio às crises de combustíveis, energética, de abastecimento de água, de falta de mobilidade e, causadora de tudo, a crise da falta de honestidade – seja ela de caráter financeiro ou de informação.

Sem dúvidas, a conscientização com os investimentos corretamente direcionados serão importantíssimos para uma saída logística, embora não signifique que aquele país que melhor fizer seu dever de casa estará livre de consequências. O que realmente assusta é que todos os estudos apontam para uma necessidade urgente de uma renovação logística, de uma mudança de comportamento, e não estamos vendo isso acontecer. Sem apoio, o setor está altamente dependente de outros segmentos e vê, de longe, suas soluções enterradas em conceitos e estruturas ultrapassadas, deficientes e cuja única função hoje é “enxugar gelo”.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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