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Conteúdo 22 de outubro de 2013

O petróleo é nosso! Pelo menos 41,65%…

Estamos vendo o desenrolar de mais um capítulo sobre a reserva brasileira de petróleo na camada pré-sal. Desta vez, foi o tão questionado leilão do Campo de Libra, a maior reserva da história do Brasil, que dividiu brasileiros sobre a autenticidade, sobre as vantagens de concedermos os poderes de exploração a outros países.

Não faz muito tempo, o discurso governista bradava aos quatro cantos que o petróleo era nosso. Tornou-se até um lema desse governo e uma boa estratégia de nacionalização de recursos quando reinavam aqueles rumores de que perderíamos a Amazônia e coisa e tal. A pergunta vinha de forma capciosa e o governo a esfriava com o bordão “o petróleo é nosso!”.

Como no Brasil “o que é hoje não é amanhã”, as coisas mudaram. Mas, vamos entender melhor essa concessão? Afinal, estamos falando de quintuplicarmos a extração de petróleo no Brasil. Para se ter uma ideia, hoje a maior reserva, Marlim Sul na Bacia de Campos, produz 284 mil barris/dia. A estimativa da produção no Campo de Libra, na Bacia de Santos, é de 1,4 milhões de barris/dia. É uma reserva estimada em até 12 bilhões de barris que, por motivos lógicos e logísticos, ainda não nos coloca perto dos líderes como Arábia Saudita que produz 5 milhões de barris/dia.

O Brasil saiu da modalidade de exploração antiga – sendo que o “lucro” vinha através da cobrança de impostos das empresas exploradoras – e agora a Petrobras estabeleceu o regime de partilha de produção que é um percentual sobre o excedente mínimo. Ou seja, coberto os custos de exploração o excedente mínimo, que ficou em 41,65%, é repassado à Petrobras pelo consórcio vencedor – e único participante –, onde foi formado pela própria brasileira Petrobras (40%), pelas européias Shell e Total (20% cada) e pelas chinesas CNPC e CNOOC (10% cada).

Se olharmos a questão do volume, é um caminho interessante já que o Brasil, que dispõe de uma excelente tecnologia para extração de petróleo no mar, não conseguiria abraçar toda essa reserva em tempo hábil de desenvolvimento e a temperatura no local (em torno de 150ºC) é mais um obstáculo nesse caminho de 7 mil metros mar abaixo. Aliás, é importante citar que essa exploração não ocorrerá antes de três anos. Alguns especialistas estimam que a extração dure uns 15 anos – a concessão foi de 35 anos – e terá início entre dois e cinco anos.

Agora vem a parte ruim de sempre: O Ministro Guido Mantega classificou o leilão como um sucesso. Ora, para começar não houve leilão! Não há leilão se não houve concorrência. Uma negociação com essas empresas teria alcançado números melhores. E “sucesso” por quê? Não houve ágio – sem diferença do valor pago para o valor nominal – comum em todos os leilões quando há interesse ferrenho numa fonte de dinheiro como esta.

Na verdade, o “leilão” poderia ter sido mais bem articulado. Sem contar que o momento da Petrobras não é um dos melhores em termos de capitalização. A estatal sofre a maior descapitalização dos 60 anos de sua história. Bem provável que num momento melhor ou numa melhor preparação, os números seriam diferentes e poderíamos abraçar um percentual maior no consórcio. Embora saibamos que a Bolsa já reagiu e as ações da Empresa já valorizaram mais de 5% após o “leilão”. Mas, só o tempo dirá mais sobre isso, pois ainda não está contemplado o risco real na exploração. Na Arábia Saudita, por exemplo, o risco é zero – se furar o chão com uma agulha sai óleo – no Brasil fala-se de um risco de 47% nas áreas apontadas.

Alguns já pensam na situação de um combustível mais barato. Ainda é cedo para isso. Contudo, há boas possibilidades em longo prazo. Maior produção, menor preço. Todavia, vale relembrar: o petróleo não é nosso! Só uma parte…

Por que não é todo nosso? Se o Brasil, que gloriosamente investiu bem em pesquisas, tivesse investido em Logística e infraestrutura como deveria, não teríamos sido surpreendidos com uma “galinha dos ovos de ouro” desse naipe sem que pudéssemos alimentá-la. O jeito agora é vender “os ovos” para comprar “o milho”.

 

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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