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Conteúdo 29 de junho de 2014

O progresso ainda anda sobre rodas

Durante minhas pesquisas e mapeamentos de demanda de produtos asfálticos, realizadas na maioria dos municípios de oito estados, vivi experiências inimagináveis pela maioria dos brasileiros. Foram três anos num carro percorrendo rodovias num trabalho exaustivo, perigoso e, ao mesmo tempo, fantástico!

Na imensidão dessas rodovias, muitas belezas contrastavam com a precariedade da nossa logística, percebida nas dificuldades dos trechos, e com as faces de brasileiros esquecidos pelos poderes públicos. Misturavam-se a esses os que carregam o progresso pelas estradas e o leva àqueles que ainda não o conhecem. Essas rodovias revelaram heróis do cotidiano – os conhecemos por “motoristas de caminhão” – que conduzem as mudanças estrada afora numa “batalha” imperceptível e, muitas vezes, desumana.

Baseado nessas experiências, expressei minha indignação quanto à Lei 12.619, a Lei do Descanso, não por sua parte legítima na redução da jornada, mas por sua hipocrisia em buscar proporcionar descanso a esses profissionais sem o mínimo de infraestrutura e apoio legal. Tudo acabou num “faz de conta bilateral”: o motorista fingindo cumprir a Lei e o governo fingindo oferecer pontos de apoio e toda a estrutura e fiscalização necessárias. Infelizmente, eu sabia que uma lei dessas não vingaria devido às condições apresentadas por nossas estradas.

A única mudança que percebemos com a Lei 12.619 foi a aceleração da modernização da frota com os incentivos que o governo ofereceu às montadoras e, consequentemente, essa modernização encontrou muitos profissionais desqualificados elevando o déficit de vagas no país que hoje ultrapassa as cem mil.

Claro que a atual situação não tem uma única causa. São muitas. Entres essas, destaco mais uma vez as condições desumanas que fazem com que os caminhoneiros, que tanto repassavam essas labutas de pai para filho, agora escolham um futuro diferente para estes, que veem de longe e sem entusiasmo, aquele desejo de dar continuidade à profissão. Ironicamente, o mercado que gostaria de uma melhor educação nessa área abre os olhos daqueles que a buscam afastando-os desse destino. A saída seria dificultar o acesso à educação como muitos fazem? Não. Aumentar o respeito e ofertar infraestrutura para melhorar as condições de trabalho.

Não vou vender só a boa imagem dos caminhoneiros. Em muitos percebemos que suas conduções e suas condutas não condizem com a nobreza da profissão. Com a expansão das drogas e das necessidades de distribuição, hoje percebemos que três entre dez caminhoneiros são usados para o transporte ou fazem uso desses produtos. E não estou falando do conhecido “rebite”, pois isso elevaria o percentual dos usuários, falo de cocaína e derivados que contribuem negativamente com a classe e com o constante aumento do número de acidentes nas estradas.

Temos ainda 70% de movimentação logística por rodovias e nada, ou quase nada, é feito para dar condições seguras aos profissionais ou àqueles que cruzam com estes pelas rodovias. O resultado não podia ser diferente: o Brasil registra por ano quase 50 mil mortes no trânsito. Porém, essas estatísticas não são bem feitas, pois as vítimas graves, muitas vezes, não são consideradas diante do posterior óbito. Acidentes graves saltaram de 150 mil em 2010 para 450 mil em 2013 que, também não refletem a realidade já que esses números só são considerados quando há a indenização por parte do seguro DPVAT. É certo que a procura por esse seguro aumentou – e as fraudes também – mas, os que não o buscam ou a demora nos processos escondem uma realidade assustadora.

É nesse ambiente de perigo, de encantos e desencantos, que encontramos profissionais que honram o lema da nossa Bandeira. Embora o positivista francês Augusto Comte, autor da frase, a tenha definido como “o Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, eu definiria, nesse caso, como “o Amor necessário e a Ordem que lhes é negada; o Progresso anda sobre rodas”.

Dia 30 de junho, dia do caminhoneiro, meu respeito aos profissionais que honram a tarefa árdua de levar o progresso por esse país construído por eles.

 

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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