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Conteúdo 21 de abril de 2013

Os círculos viciosos e virtuosos do transporte

No transporte rodoviário de cargas há uma premissa universal que diz que “caminhão parado no pátio é prejuízo”; seja porque não há mercadorias para serem transportadas (talvez porque a frota esteja mal dimensionada, a atividade econômica esteja em baixa, etc.) ou porque ele simplesmente está impossibilitando momentaneamente de fazê-lo (talvez porque esteja em manutenção, etc.).

Desta forma, a principal preocupação dos gestores de frota é justamente fazer com que os caminhões literalmente não parem, pois a bem grosso modo isto significa que a frota está bem dimensionada e que a transportadora está exercendo a sua atividade a pleno vapor, o que resultará no final do mês em resultados positivos e no crescimento do negócio. Será mesmo?

Se formos analisar apenas o que é feito com os caminhões, que ao lado dos motoristas são os bens mais preciosos das transportadoras, veremos que nem sempre o fato de os termos todos na rua o tempo todo significa eficiência operacional e dinheiro no bolso, pois a transportadora pode ter entrado no chamado “círculo vicioso da ineficiência” sem ter percebido. A lógica é simples: como a infraestrutura rodoviária no Brasil e o nível de qualificação dos motoristas ainda são muito baixos, o uso intensivo dos caminhões acabará gerando um desgaste excessivo nas peças, que por tabela necessitarão de um maior tempo para troca/reparo, o que diminuirá a vida útil do veículo e reduzirá o seu valor de revenda. Ou seja, o fato isolado dos caminhões rodarem vinte e quatro horas por dia carregados não quer dizer, em absoluto, que o somatório destas entregas no final do mês gerará lucro para as transportadoras – muito pelo contrário. Até mesmo porque há outro círculo vicioso importante, que é o do próprio mercado do transporte rodoviário de cargas em si, em que independentemente da otimização da frota e da atividade econômica do país (que também vive de ciclos), como há poucas barreiras de entrada neste setor, há um aumento natural e quase irracional da oferta de serviços de transporte (seja através de frota própria ou através da frota de autônomos), forçando assim a diminuição dos valores dos fretes.

Com menos dinheiro no bolso e a necessidade de não deixar os caminhões parados, o nível de manutenção acaba sendo inadequado ou simplesmente postergado, o nível de renovação acaba sendo baixo, os motoristas acabam fazendo jornadas extras, os caminhões andam com sobrepeso, aumentando assim o risco de acidente em estradas, gerando perdas tanto em vidas para a sociedade como também em mercadorias para os contratantes destes serviços de transportes. E uma vez havendo continuamente a intersecção destes dois ciclos, o final da história invariavelmente será sempre o mesmo: a “morte súbita” (ou quase) das transportadoras, independentemente de elas andarem com os seus caminhões sempre carregados ou não (o que agrava ainda mais a situação).

E há solução para sairmos destes círculos viciosos e entrarmos num círculo virtuoso genuíno? Sim, como já comentamos de certa forma na coluna “A gestão comportamental e os custos invisíveis”, a partir do momento em que as transportadoras começarem efetivamente a utilizarem ferramentas que as permitam fazer a gestão do comportamento dos motoristas ao volante e aliar isto às boas ferramentas para a gestão operacional (além de investir em capacitação, tecnologia e terceirização), este círculo se inverterá, pois os motoristas passarão a dirigir com mais segurança, reduzindo assim os custos por km rodado, aumentando a produtividade e a vida útil dos caminhões, e gerando maior competividade para as transportadoras não só se manterem, como, principalmente, prosperarem neste mercado.

Eduardo M. R. Lopes Eduardo M. R. Lopes

Possui 15 anos de experiência no mercado de combustíveis e transportes, sendo atualmente Coordenador de Produtos voltados para o segmento de frota pesada (Ticket Car) na Ticket Serviços S/A.

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