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Conteúdo 6 de março de 2017

Os dramas do escoamento das commodities

Com a crise que o Brasil vem atravessando, uma área em especial, responsável por cerca de 65% do volume das exportações brasileiras, vem se destacando e somando números importantíssimos para nossa economia. São as commodities (produtos básicos, em estado bruto ou com baixo grau de transformação) minerais e, principalmente, agrícolas como a soja e o açúcar bruto de cana, que se sobressaem no cenário econômico apesar de diversos obstáculos em seu dificílimo caminho entre o produtor e o cliente.

Pagamos mesmo um alto preço por sermos tão dependentes de commodities. Não é raro sermos surpreendidos com dificuldades, muitas alheias às nossas vontades, como ocorre com a China após a desaceleração de seu intenso crescimento econômico que provocou uma indesejável queda nos preços das commodities diminuindo o volume de nossa balança comercial e, combinado com a diminuição sistemática das importações, tivemos um superávit recorde em 2016 de US$ 47,7 bilhões que foi – equivocadamente – comemorado. Claro, poderia ser pior, mas com os pés no chão, podemos sim comemorar mais um avanço de nossa produção, embora o clima seja tenso na hora de transportá-la.

Muitos defendem uma melhor diversificação na oferta de produtos brasileiros ao comércio internacional e isso talvez esteja um pouco distante ante os baixos investimentos em tecnologias de ponta e em infraestrutura logística para adequá-la competitivamente. Aliás, já está mais que provado que o país possui meios eficientes para produzir, o que causa mesmo essa distonia nos processos é a capacidade insuficiente de armazenagem e a cansativa e danosa atividade de transporte até os portos, para lá, enfrentar outros conhecidos problemas.

Apesar de manter uma linha de abordagem na produção de grãos, sendo a soja nosso principal produto, não se pode desprezar os problemas nos transportes de minérios de ferro e de petróleo com suas ferrovias e dutos insuficientes. Porém, o drama do campo rompe o imaginário.

Claro que a ineficiência logística para o escoamento das safras de grãos nos atormenta há décadas, e não se concentra apenas nas estradas precárias e na saturação dos portos, mas está bem representada pela falta de planejamento do poder público que obriga produtores a implantar e fazer manutenções nas estradas para evitar que seus prejuízos inviabilizem seus compromissos.

Contudo, o que vimos nos últimos dias na BR-163 que liga o Rio Grande do Sul ao Pará, principalmente no início da atividade de escoamento das safras de soja e de milho da região produtora no Centro-Oeste do país para Santarém no Pará, é algo, no mínimo, vergonhoso que apaga qualquer tentativa de comemoração sobre o recorde de produção. Pior que expor o país em termos de uma competitividade que se desenha agora inalcançável, expor os produtores e transportadores aos enfadonhos prejuízos que amargam pelo não cumprimento dos contratos e danos às cargas, é expor uma classe já tão judiada deixando os caminhoneiros à mercê do lamaçal que nossa logística tem que enfrentar. Muitos, isolados e contando apenas com a solidariedade dos colegas, não têm sequer o que comer. E o Brasil ainda corre riscos de maiores prejuízos na oferta de mão-de-obra de transporte, pois os autônomos sem condições de seguir pagando seus financiamentos nessa luta desigual a que o país os submete, cada vez mais abandonam a profissão.

Cestas básicas foram distribuídas para amenizar o sofrimento de toda aquela gente que trabalha para tentar dar ao Brasil o status que ele merece, para que seu comércio sobreviva – uma vez que o seu complemento é a entrega – nas piores condições de atoleiros quilométricos que não deveriam estar em lugar nenhum de um país que arrecada os impostos que arrecada, quanto mais numa área que vem “salvando” o país dos números negativos de uma economia que precisa reagir com urgência. Seria essa falta de reação também culpa das chuvas? Uma coisa é certa para ambos os casos: o problema é a lama.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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