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Conteúdo 13 de dezembro de 2016

Os efeitos da recessão sobre a logística

O terceiro trimestre de 2016 não trouxe bons números a respeito de nossa economia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país ainda vive um momento crítico de queda dos índices e de falta de confiança no mercado. A questão do “vamos superar a crise com trabalho” chega a seu momento mais difícil em que se provou que só o trabalho não resolve, principalmente porque muitos não podem contar com ele. Essa história de fechar os olhos para a crise e trabalhar soa mais como uma tentativa desesperada do que uma habilidade para superá-la por meio do conhecimento e do planejamento.

Ainda não desaceleramos a queda. O indicador do Produto Interno Bruto (PIB) dava sinais de desaceleração do segundo trimestre de 2015 (-2.3%) até o segundo trimestre de 2016 (-0.4%), e agora no terceiro trimestre do mesmo ano recua 0.8% com um acúmulo de queda de 4.4% em doze meses. É a sétima queda consecutiva e a décima no acumulado. O PIB per capta, que é a divisão do PIB pela quantidade de pessoas, é de -5.2%, o que significa que uma população que precisa consumir não o pôde fazer porque está mais pobre e mais endividada. Todos os segmentos econômicos estão no vermelho e vários pioraram. Buscar ânimo no mercado é, sem dúvidas, a parte mais importante, porém, a mais difícil hoje.

Somos um país cauteloso e conservador na hora de correr riscos e chegamos ao chamado “ciclo vicioso da recessão”, que é quando há o desemprego e a queda da renda, as vendas despencam e as indústrias sofrem com isso demitindo mais trabalhadores. A alta taxa básica de juros (13.75%) faz com que investidores optem em ganhar junto aos bancos ao invés de investir diretamente na economia.

A Logística é o “medidor de temperatura” que sofre várias alterações na evolução da crise porque é o apoio presente em todos os segmentos do mercado. E, como os serviços caíram 0.6%, com destaque justamente para os transportes e o comércio que acumularam as maiores quedas, não fica difícil entender que os investimentos – que já são insuficientes – desaparecem causando efeitos terríveis de parada no tempo no momento em que mais se torna necessário investir no setor, não só para que estejamos preparados para a retomada das demandas, como para que busquemos a melhora da confiança através da geração de empregos. Como todos sabem, a infraestrutura logística é um gerador em potencial. Dinheiro há para isso. Talvez a questão esteja mesmo no conhecimento e no planejamento que, sem isso, afastamos todas as possibilidades de combater a crise da forma correta e, não só estaremos suscetíveis à outra, como ainda não recuperados das anteriores ante uma nova.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que a taxa de ocupação, que é o que a indústria está utilizando de sua capacidade instalada no país, também piorou e hoje representa 65%. O setor industrial caiu 1.3%. Isso é terrível para a Logística, pois há uma diminuição na oferta de serviços que refletirá, mais uma vez, na falta de ações voltadas aos investimentos. Sabemos que no Brasil os investimentos são para os setores que estão sob os holofotes, e não para colocá-los sob esses holofotes, como é na maioria dos países que buscam o desenvolvimento.

Mesmo não gostando de tais comparações, pois há mecanismos diferentes entre Brasil e Estados Unidos, os brasileiros ouvem a todo o momento que o trabalho é a saída para superar a crise. Ora, os americanos têm jornadas de trabalho bem semelhantes às nossas e suas taxas de juros básicos oscilam entre 0% e 0.5% com inflação que gira em torno de 1% contra a nossa de 10.6%. Claro que trabalhar é extremamente necessário, mas estamos caminhando carregando algo errado e pesado nas costas que pode ser, por exemplo, nossa política econômica e sua forma de controlar inflação com juros altos permitindo que algumas instituições pratiquem juros de mais de 400%. Poucos ganham com isso enquanto todos perdem.

Estava prevista uma estagnação da economia para 2017 e agora já se permite pensar em outra retração de até 1.5%. Acompanhada de reformas nos orçamentos que exclui a classe política que mais deveria contribuir com cortes, reformas na previdência que mexe com as perspectivas dos trabalhadores e afeta diretamente o ânimo daqueles que movimentam o mercado, a economia brasileira está precisando de cirurgias, mas está sendo tratada somente com analgésicos e, em alguns casos, com placebo.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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