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Conteúdo 30 de janeiro de 2017

Os legados negados

Os grandes eventos da Copa e Olímpiadas ocorridos no Brasil, em 2014 e em 2016, respectivamente, eram aguardados com grande expectativa, pois representavam grandes chances para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira. Embora, inaceitavelmente, grande parte dos brasileiros já soubesse que a tônica seria de superfaturamentos, problemas com prazos e qualidade, verbas desviadas ou mal direcionadas em meio à precariedade da oferta dos serviços essenciais, as obras voltadas à acessibilidade com um melhor funcionamento do transporte público, por exemplo, parecia compensar nababescos investimentos. E tinha também a turma que defendia os melhores estádios para o futebol pentacampeão mundial e uma inclusão definitiva do Rio no cenário do turismo mundial.

Hoje percebemos que muitas das afirmações quanto ao sucesso dos eventos que o Brasil sediou não são positivas e estão longe do legado que desejávamos. Claro que a visibilidade do país trouxe frutos, mas não foram assim tão doces. Embora muitos ainda defendam que as “festas” foram um sucesso, o que experimentamos mesmo agora é a “ressaca” que elas produziram: dívidas, esquemas de corrupção, estádios sem uso, grandes centros esportivos sem incentivo algum, aeroportos ainda precários, obras paradas e muitas que não causaram nenhum impacto na qualidade de vida dos brasileiros.

A exemplo dos estádios africanos para a Copa de 2010, as arenas brasileiras estão se tornando uma manada de elefantes brancos e, embora algumas já fizessem parte desta previsão, como a Arena Pantanal e a Arena Amazonas, outras vêm causando grandes prejuízos e questões judiciais acerca de suas administrações. Das 12 arenas construídas ou reformadas, 7 tiveram ocupação de apenas 30% no ano passado. As duas arenas citadas, Pantanal e Amazonas, ocuparam apenas 3% e 13%, respectivamente. As arenas de Natal, Recife e Salvador também apresentam sérios problemas. A de Itaquera está mergulhada em dívidas.

Ainda sobre a situação desses empreendimentos, chama atenção o fato de que algumas arenas sequer foram concluídas quase três anos depois de suas “inaugurações”, mesmo com orçamentos na casa de R$ 1,3 bilhão e dívidas de igual valor, e a atual situação do Maracanã, fechado por questões administrativas que desafiam qualquer mente a entender como uma das sete maravilhas do mundo esportivo se tornou um peso, jogado de um lado para o outro, sem que ninguém queira administrá-lo. Sua história merecia, no mínimo, respeito.

Obviamente que tais situações envolvem uma série de fatores, em especial fatores políticos e econômicos, que contribuíram para o desenho atual. Contudo, tudo aponta apenas para uma verdade: o dinheiro foi gasto e os resultados não são, nem de longe, satisfatórios. O Rio de Janeiro, por exemplo, sede das Olimpíadas em 2016, que mais trouxe esperanças de melhorias com as obras, simplesmente faliu! Apesar de algumas obras terem impactado positivamente no dia a dia dos fluminenses, muitas ainda causam espantos por estarem paradas e sem nenhuma previsão de retomada. Obras essenciais para as Olimpíadas foram interrompidas para não atrapalhar as Olimpíadas… Casos clássicos de absoluta falta de gestão.

Logisticamente falando, foram as duas melhores oportunidades para mudarmos um cenário crítico que apavora quem há muito esperava por algo positivo que pudesse amenizar tantos e tantos desafios enfrentados, principalmente pelo transporte de passageiros. Embora não façamos uma ligação plena desses investimentos com o nosso dia a dia, na Logística tudo acerca de mudanças na infraestrutura reflete de forma direta em todas as áreas.

Muitos atribuem à corrupção o insucesso desses legados. Outros somam a isso vários problemas de uma gestão pública bisonha ou demasiadamente voltada aos próprios interesses. Talvez pudéssemos acrescentar ainda a falta de conhecimentos dos planos de sustentabilidade que qualquer negócio exige hoje e, principalmente, a falta de interesse da população em acompanhar, participar e cobrar do poder público os melhores meios e as melhores alternativas para investir nosso suado dinheirinho. Infelizmente, nesse quesito, temos como lotar tais arenas.

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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