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Conteúdo 6 de abril de 2014

Por trás de Pasadena

Mais um desastre econômico no Brasil vem afetar, não só o já deficiente mercado logístico de combustíveis, como a confiabilidade nos negócios da Petrobras, conduzidos de forma desastrosa e interesseira.

A compra de uma refinaria em Pasadena, no estado do Texas (EUA), por mais de US$ 1,3 bi quando esta valia US$ 42,5 milhões, é mais uma razão para sermos o 13º país com o combustível fóssil mais caro do mundo e, considerando nossas reservas de petróleo, termos a gasolina mais cara do mundo entre os principais países produtores, mesmo com uma mistura (hoje de 25%) de álcool para “reduzir” os custos. Mas, o que realmente está por trás de um negócio mal conduzido como esse? Quais os impactos logísticos/econômicos?

Apesar de nos chocarmos com a corrupção praticada na Petrobras, não só com esse caso de Pasadena como com a refinaria de Pernambuco (Abreu e Lima) que, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), a obra orçada em US$ 2 bi saltou para US$ 18 bi (são mais R$ 36,5 bilhões de diferença), essas manobras comerciais indicam que há algo monstruoso crescendo nesse mercado para ir além de propinas milionárias.

Em setembro de 2010, a Petrobras celebrou a maior capitalização realizada no mundo. Foram R$ 120 bi injetados no caixa com a emissão de mais de quatro bilhões de ações. Só no primeiro ano, investidores amargaram perdas na casa de 20%. Em 2012 consolidou-se a compra dos outros 50% da refinaria em Pasadena, detidos por um conglomerado de empresas belgas, após uma disputa judicial que custou mais US$ 171 milhões. O Conselho da Petrobras, que tinha à frente a hoje presidente Dilma Rousseff, aprovou o arrendamento dos primeiros 50% da refinaria em 2006 e, anos depois, alegou não ter conhecimento de cláusulas contratuais que obrigaria a Petrobras garantir lucro de 6,9% à empresa belga Astra Oil Company e nem da obrigação em pagar pela outra metade em caso de divergências entre as partes. Contudo, em 2007, o mesmo Conselho aprovou a compra de uma refinaria no Japão com cláusulas idênticas ao contrato de Pasadena.

Não há dúvidas de que os problemas de infraestrutura no Brasil vão além das tentativas de garantir o abastecimento no país. Alguns devem se perguntar sobre a razão de comprar refinarias estrangeiras, mas as razões são as mesmas que levaram a Petrobras a vender quase metade de suas reservas de petróleo da camada pré-sal: insuficiência estrutural para extrair, refinar e atender a demanda nacional. Na verdade, a razão, além da corrupção que está por trás dessas ações desastrosas, tem a ver com a desvalorização de um patrimônio nacional na busca futura de uma negociação de uma empresa que tanto foi motivo de orgulho para os brasileiros – razão não menos corrupta do que as citadas e de tantas outras “varridas para baixo do tapete”.

Talvez estejamos nos preocupando à toa? Não se observarmos que o setor de telecomunicações, não menos importante para o país, foi conduzido da mesma forma e hoje sabemos como está. Nada de ser a favor ou contra privatizações desde que sejam proveitosas para o Brasil e não negociadas de forma a enriquecer A ou B. A forma de desapego pela estatal plantada aos poucos nos brasileiros conduz a negócios sujos que se escondem na nossa ideia de que é “apenas” ingerência de capital ou mais uma da corrupção que permeia nossa velha política.

Há anos a Petrobras vem “nadando contra a correnteza” sem o real conhecimento da maioria dos brasileiros. São ações sem lucros, rebaixamentos da credibilidade para investimentos, negócios mal conduzidos – pelo menos para o povo brasileiro – e desvalorização patrimonial mesmo com os investimentos e projetos tocados pela empresa. O patrimônio, que era de quase R$ 500 bilhões, hoje vale menos de R$ 200 bilhões. Infelizmente, o pré-sal não será suficiente para reverter esse quadro, pois o intuito verdadeiro é de que não seja mesmo.

Já não se vê a abertura para empresas estrangeiras como uma boa estratégia para contornar nossos inúmeros e sérios problemas logísticos. Na verdade, nossos problemas de infraestrutura são oportunos. A situação toda reforça ainda mais a opinião de alguns parlamentares que defendem a necessidade de privatização abrindo mão de mais um segmento: o mais forte para a economia do país. Talvez estejamos à mercê da outra face da corrupção: aquela que, não satisfeita em ganhar com a venda dos “ovos de ouro”, anseia por vender a “galinha”. Já vimos essa história antes […]

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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