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Conteúdo 27 de julho de 2014

Roubos de cargas e seus efeitos

Está difícil encontrar os números reais para desenhar esse “mapa de prejuízos”. Os roubos de cargas crescem vertiginosamente sob os olhos das autoridades que, sem meios e sem interesse, resultam no que chamamos de “urso pescando salmão”: enquanto um peixe que salta é capturado pelo urso, vários seguem seus destinos. Difícil ainda é identificar quem é o urso e quem é o peixe nessa história.

Apesar das divulgações dos números por parte das associações ligadas ao setor de transportes, eles são incompletos por dois motivos principais: muitas transportadoras, para “competir” no mercado, não possuem seguro de cargas e assim não entram nas estatísticas, e certas informações de seguradoras que, por questões de sigilo de mercado, não revelam a real situação. Fica a dica para quem contrata: veja se seu produto e o trecho estão cobertos, exija os comprovantes de contratação do seguro e cheque-os, pois esse mercado está repleto desses prejuízos iminentes.

Em 2011, escrevi o artigo “Roubo de cargas – Um problema de todos”, no qual chamava atenção para os custos dessa atividade criminosa, que giram em torno de 15% com escoltas e equipamentos de segurança. Mas, devido ao aumento considerável nas duas variáveis principais: tipo de produto e número de ocorrências; esse percentual já é questionável. A ousadia das quadrilhas parece não ter limites.

Esse questionamento em relação aos custos se deve também pelo tipo de ocorrência. Alguns especialistas alegam que o trabalho policial expulsa as quadrilhas das BR´s. Eu arrisco afirmar que, pela facilidade e livre movimentação, essas quadrilhas se aproximaram ainda mais da fonte da carga e agora agem em fábricas e nos centros de distribuição. Os roubos pré-cargas era uma modalidade rural, onde o gado era furtado na calada da noite. Hoje, até pequenos produtores dormem em suas lavouras de tomates na tentativa de guardar seu produto. Do tomate ao equipamento eletrônico, nada escapa aos olhos dos larápios.

Como se não bastasse, os consumidores ainda são prejudicados de outras maneiras: um exemplo fica por conta dos Correios que, com a evolução do seu serviço de entregas, já não cobre certas áreas devido esse tipo de violência. E se engana quem pensa que o interesse é apenas em eletrônicos. Também são roubadas faturas de cartões para a aplicação de vários golpes.

Se prestarmos atenção às ocorrências, que em 2012 atingiu o maior patamar em 15 anos, e repetiu o infeliz recorde em 2013, observaremos que se tornou um grande negócio não só para as quadrilhas: houve um crescimento assombroso das empresas que oferecem escoltas armadas e do setor de segurança patrimonial de indústrias e transportadoras. A diversificação dos serviços também cresceu: serviços apenas para trechos mapeados como perigosos, planos especiais para armazéns, monitoração, rastreamentos… Tudo na intenção de reduzir custos para os clientes.

Se em 2009 já registrávamos mais de 13.500 casos no Brasil e falávamos de R$ 1 bilhão em prejuízos, em 2013 esses números chegaram a 15.200 casos e com o mesmo R$ 1 bilhão em prejuízos. A que se deve a “façanha” de manter o mesmo valor estimado? Sabemos que as transportadoras tentam diminuir a atração pelas cargas, mas não há como fazer com combustíveis e produtos de fabricantes específicos. Na realidade, estamos perdidos nessas informações. Não só pelo que foi citado sobre a questão da falha na informação das transportadoras e seguradoras. Partindo daquele princípio de que não se pode gerenciar aquilo que não se pode mensurar, podemos dizer que a solução está muito distante.

Em São Paulo, que bateu o recorde dos últimos 8 anos e onde se concentram 53% das ocorrências, seguido do Rio de Janeiro com 23%, foi sancionada uma lei que prevê a perda da Inscrição Estadual e do registro de ICMS para lojas que praticam o crime de receptação. Para tanto, seria muito bom se houvesse uma fiscalização eficaz, se não houvesse o “esquente” de notas fiscais e a “pulverização” desses produtos no mercado. E, se acima de tudo, não houvesse um questionamento sobre o grau de interesse do poder público em combater realmente esse tipo de ocorrência que, mesmo contra a cidadania, tem uma importante participação na movimentação da economia, na geração de empregos e na geração de mais combustível para a máquina dos impostos.

Tratamos como prejuízo, mas na verdade não é um grande negócio? Promissor porque nós cobrimos os custos e lucrativo porque ainda compramos os produtos – não sabendo se tratar de roubo ou sabendo e fomentando esse absurdo.

 

Marcos Aurélio da Costa Marcos Aurélio da Costa

Foi coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.

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