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Conteúdo 7 de junho de 2021

Supply Chain: a crise que leva à ruptura sincronizada

07-06-21

INTRODUÇÃO

Recentemente li um texto publicado no New York Times e reproduzido no Estadão cujo título era: “Escassez global desafia fábrica enxuta”. E a reportagem veio a calhar, pois havia conversado com um amigo de importante empresa de carrocerias sobre os problemas de disponibilidade de componentes, tanto importados quanto nacionais.

Sabemos que as cadeias globais abastecem diferentes países tornando-os fortemente interdependentes. Logicamente uns mais que outros dependendo do insumo. Durante o ano de 2020 e continuando em 2021, a pandemia gerou um revés importante, interrompendo o fluxo das operações em quase todo o mundo. Os desafios tem sido muitos.

O “supply chain” e por consequência a logística passou a ter uma visibilidade ainda maior. Grandes organizações como Amazon, Apple, Unilever, Natura, Magazine Luiza, Mercado Livre e iFood, para citar apenas algumas, buscaram padrões distintos de atendimento e foco na experiência do cliente – os agentes geradores das demandas. Estratégias foram revisitadas, processos remodelados, projetos acelerados, reestruturações implementadas a toque de caixa, enfim uma busca por adaptação sem precedentes.

Palavras como flexibilidade, visibilidade, transparência, resiliência e sustentabilidade, entre outras, passaram a fazer parte do vocabulário diário das organizações para atender aos novos padrões. Não quero chamar de “novo normal”. Nada contra.

Contudo um problema tem tirado o sono de muitos gestores: a escassez de insumos e componentes nos diversos elos da cadeia coloca as cabeças a pensarem em como poderiam fazer diferente para suprir as faltas de estoques. E alguns conceitos organizacionais começam a ser colocados em xeque. Lean Supply Chain ou Cadeia Enxuta é um deles. E outros devem ser revisitados como o sincronismo da cadeia. Para o bem e para o mal.

 

SUPPLY CHAIN VIROU UMA BAGUNÇA?

Dependendo da perspectiva, sim, a cadeia global ficou bem bagunçada. Vamos refletir um pouco sobre o que aconteceu em 2020 e primeiros meses de 2021.

1) Demora na carga e descarga dos diferentes modais, principalmente navios devido ao “lockdown” deslocando a linha do tempo em termos de entrega e por conseguinte a produção;

2) Falta de containers e de pallets em alguns países;

3) Incêndios em fábricas ao redor do mundo;

4) Aumento exorbitante dos transportes, principalmente os marítimos;

5) O bloqueio do canal de Suez pelo encalhamento de um navio.

Essas rupturas levam a uma escassez no comércio global intensificada pela falta de matéria-prima. Recentemente a falta de um insumo básico que é o plástico tem levado a paralisações de fábricas e atrasos na produção em diversos segmentos. Sem contar o leilão dos preços.

Os aumentos nos preços dos insumos e dos fretes no contexto transnacional têm sido extremamente elevados. Imagine a falta de insumos básicos para a produção do plástico. Este é um material que compõe desde embalagens de alimentos, veículos, eletrodomésticos, smartphones, brinquedos, computadores, seringas, até equipamentos esportivos. As restrições de oferta acabam sendo um grande negócio para quem as tem. E há uma demanda crescente por parte dos consumidores.

Interessante. Vemos uma economia mundial em recuperação que depende do sincronismo das cadeias globais de abastecimento e que agora sente um abalo reverso: as rupturas sincronizadas. Mas o que fazer?

 

CONCEITOS QUE DEVEM ESTAR SEMPRE PRESENTES

Tenho conversado com alguns gestores amigos e quase que unanimemente me comentam que não conseguem respirar, tirar a cabeça para fora da água e pensar em coisas novas: futuro e estratégias. Foco na operação e resultados. Perfeitamente compreensível. Mas os colegas que arrumam uma forma de olhar para frente irão se sair melhor. Algumas dicas simples. Nenhuma ciência de foguete.

 

1) Flexibilidade

Uma cadeia de abastecimento flexível permite ajustar o fluxo de acordo com as demandas de mercado. Criatividade e busca por novas soluções são elementos importantes para se adaptar a esta nova realidade. Analise as capacidades de fornecimento, busque alternativas, pense estrategicamente, nacionalize se possível.

Os elos da cadeia podem ter rupturas concentradas. Uma visão holística e de toda a cadeia é fundamental. Analise o fornecedor do fornecedor. É importante entender que flexibilidade deve estar presente em todos os elos.

Não adianta sua empresa ser o elo forte. Se depender de um elo mais fraco e ele se romper, toda a cadeia se rompe. É o feito borboleta. Lembra do livro A Meta, de Ellyahu Goldratt? Que tal relê-lo.

 

2) Sustentabilidade

Falar de sustentabilidade hoje em dia é tarefa das mais importantes. A cadeia de valor sofre duras perdas quando conectada às estratégias sustentáveis. Os consumidores aos poucos se conscientizam da compra de serviços e produtos de empresas que se organizam favoravelmente e ao redor da preservação do meio ambiente e fabricam e/ou comercializam produtos reutilizáveis ou recicláveis.

A prática da sustentabilidade traz seus benefícios por si só. As empresas, geralmente se adaptam empurradas pelos consumidores. Particularmente gostaria de ver iniciativas diferenciadas neste sentido. Puxadas pelas empresas e que trouxessem orgulho aos consumidores.

A redução da pegada de carbono é fator importante. Muitas empresas a adotam visando exportar mais em função das exigências de países. Pense nesta estratégia. Ela é importante. Se antecipe.

 

3) Resiliência

A cadeia de abastecimento não resiliente provocou severas rupturas gerando escassez de produtos. Mas qual a origem desta falta de resiliência? Má gestão de estoque, extrema volatilidade nas demandas e baixa aquisição de mercadorias, muitas vezes provocadas pelo uso de conceitos como manufatura enxuta, cujo foco se volta para as demandas presentes de consumo.

É interessante entender que havia uma necessidade premente de estocar itens durante a pandemia. Coisa que eventualmente não era necessária antes. Muitas organizações durante a crise reveem o conceito do enxuto para superar a escassez, onde possível, claro. A resiliência impele a rever as estratégias de obtenção, de compra, buscando alternativas mais próximas e viáveis.

 

4) Visibilidade

A disponibilidade e acesso à tecnologia permite que as organizações tenham um melhor domínio sobre certos elementos ao longo da cadeia de abastecimento, como quantidade em estoque, localização estática e dinâmica, de insumos e produtos terminados. As informações fluem pela cadeia em tempo real e alimentam sistemas e processos substanciais que permitem ter a visibilidade necessária para a tomada de decisão.

 

CONCLUSÃO

Confesso que tenho lido muito sobre este tema nos últimos tempos. Adicionalmente tenho conversado com os amigos e amigas que atuam ao longo das funções da cadeia de abastecimento. Os desafios são enormes. São profissionais extremamente competentes e que vivem situações difíceis. As decisões não têm sido fáceis.

Fortaleço minhas recomendações no sentido de criarem soluções rumo aos itens que mencionei acima. A crise vai passar. Mas temos que passar por ela. Não tenho bola de cristal. Não acredito que se resolva antes do final de 2021. E devemos nos acostumar às constantes crises. E flexibilidade, visibilidade, sustentabilidade associados à resiliência são alguns dos fatores determinantes para a sobrevivência.

Por hoje é isso. Estamos por aqui. Ao infinito e além. Que a força esteja conosco. Nos cuidemos e muito! Estou no Linkedin. Me procure por lá e vamos trocar ideias. É sempre saudável! Me acompanhe também no meu canal do Youtube: https://www.youtube.com/paulobertaglia

Paulo Roberto Bertaglia Paulo Roberto Bertaglia

Fundador e Diretor Executivo da Berthas, empresa de consultora especializada em supply chain e cofundador da Aveso, organização que atua conectando o ecossistema de startups, investidores e empresas em busca de soluções. Atuou nas empresas: IBM, Unilever, Hewlett-Packard e Oracle. Ao longo da carreira tem se especializado nas áreas de Supply Chain Management, Gestão estratégica de Negócios, Liderança, Vendas e Terceirização de Serviços. Professor de pós-graduação em Logística, Gestão Estratégica de Negócios e Tecnologia da Informação. É Autor de vários livros, entre eles Logística e Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento – Editora Saraiva, 4ª edição – 2020. Realiza palestras de temas estratégicos, cadeia de abastecimento e liderança empresarial para empresas e instituições educacionais, além de consultorias e mentorias. É fundador da Prosa com Bertaglia, movimento voluntário para a educação cujo acesso é: https://bit.ly/3VW9Anp

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