Facebook Twitter Linkedin Instagram Youtube telegram
Conteúdo 17 de abril de 2022

Vale analisar a nova concessão da Dutra

 

A principal rodovia do Brasil, a Via Dutra, que faz a ligação entre as duas principais cidades do Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro), passando por uma das regiões mais industrializadas do país (Vale do Paraíba) teve sua concessão renovada por mais trinta anos para o mesmo grupo que já tinha o contrato para gerir a rodovia, a antiga CCR Nova Dutra que passa a se chamar CCR Rio-SP. Acho importante pontuar alguns erros e acertos diante das novidades apresentadas pela concessionária.

Antes de tudo, é preciso lembrar a importância dessa renovação, que é quase a mesma de praticamente trinta anos atrás, quando a via Dutra foi privatizada e entregue à iniciativa privada. Não é preciso fazer um exercício muito grande de memória para lembrar-se de quão terrível e quantas vidas foram perdidas na Dutra, que era uma via esburacada, sem o muro de contenção entre as pistas, com trechos escuros e largados.

Dirigir pela Dutra até meados de 1994 era um desafio, o chamado “Retão da Morte de Jacareí” não tinha esse nome por acaso. A privatização foi uma luz não só para os usuários, mas também para o transporte rodoviário do Brasil, pois deste modelo de concessão surgiram tantos outros, e isso acabou literalmente salvando ou preservando muitas vidas.

Voltando ao contexto atual, a nova e velha administração da Via Dutra começa com muitos acertos, principalmente na questão da redução do preço das tarifas nas praças de pedágios. Muitos se perguntam, será que é uma redução “para inglês ver”, se lá na frente eles (a concessionária) vai subir o preço novamente? Acredito que não, são reduções práticas, que já estão no papel, basta seguir o contrato que já está definido. Ao todo, a viagem de carro entre Rio de Janeiro e São Paulo terá queda de 10,4%, passando de R$ 55,80 para R$ 50.

Outro importante acerto da CCR Rio-SP é incentivar o pagamento automático das tarifas via tags, o que é fantástico e acaba premiando as pessoas que mais utilizam a rodovia, portanto aquelas que mais precisam. O chamado Desconto de Usuários Frequentes (DUF), no qual os veículos são identificados por meio das tags, dará reduções de tarifas para quem utiliza a Via Dutra. O desconto começa a ser processado a partir da segunda passagem pela mesma praça de pedágio, no mesmo sentido e dentro do mesmo mês – limitados a 30 passagens. Segundo a concessionária, o desconto no preço do pedágio pode chegar a 73%. Para quem utiliza da rodovia diariamente, é uma economia e tanto no fim do mês.

E quando o assunto é desconto em tarifas para caminhões e fretes, é preciso lembrar que o preço do frete hoje no Brasil está desatualizado e faz tempo. Colocar incentivos e acreditar que isso acabará ocasionando na redução de fretes ainda é muito cedo, pois não deve acontecer em um prazo muito curto. Mas é uma medida que no momento da montagem do preço do frete acabará sendo levado em consideração. Efetivamente poderão acontecer pequenos descontos em cima desse item com o usuário frequente.

Ainda nos acertos é preciso lembrar que serão feitos investimentos por parte da concessionária na rodovia, como por exemplo, a implantação da faixa adicional em praticamente toda a extensão da Dutra no trecho do Vale do Paraíba, entre Lavrinhas e Igaratá, e a construção de marginais em trechos movimentados como entre Caçapava e São José dos Campos, Pindamonhangaba e Taubaté e Lorena e Guaratinguetá. A concessionária irá investir ainda em mais passarelas, iluminação (o que é muito importante) entre outras melhorias que devem custar aos seus cofres um valor de aproximadamente R$ 14,8 bilhões.

Mas nem tudo são rosas, é preciso apontar alguns erros nesse novo contrato, como a desoneração do pagamento de pedágios de motos e afins. Quando se fala em desoneração, alguém acaba pagando por isso, ou seja, sobra para quem utiliza a rodovia. Não faz o menor sentido, já que a moto polui mais que automóvel.

Também é importante frisar que, no pagamento das tarifas para caminhões, as categorias para caminhões precisam ser repensadas, como o pagamento por eixo. Outra questão importante está ligada ao meio ambiente. A concessionária poderia pensar em algumas soluções dentro do conceito ESG (Environmental, Social and Governance), como por exemplo, caminhões que utilizam motor “Euro 5” deveriam pagar menos, pois poluem bem menos.

Acredito que é uma missão não só da CCR Rio-SP, mas também de todas as concessionárias, repensar a questão das desonerações de pagamentos e, principalmente, incentivar que seus usuários utilizem cada vez mais equipamentos menos poluentes.

Antonio Wrobleski Antonio Wrobleski

Especialista em logística, presidente da BBM Logística, sócio e conselheiro da Pathfind. Engenheiro com MBA na NYU (New York University) e também sócio da Awro Logística e Participações. Ele foi presidente da Ryder no Brasil de 1996 até 2008. Em 2009 montou a AWRO Logística e Participações, com foco em M&A e consolidação de plataformas no Brasil. Foi Country Manager na DHL e Diretor Executivo na Hertz. O trabalho de Antonio Wrobleski tem exposição muito grande no mercado Internacional, com trabalhos em mais de 15 países tanto no trade de importação como de exportação. Além disso, ele é faixa preta em Jiu-jítsu há 13 anos e pratica o esporte há 30 anos.

Enersys
Volvo
Savoy
Retrak
postal