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Capa 6 de dezembro de 2023

Como fazer uma gestão de Supply Chain, desde a solicitação do material até a sua chegada ao almoxarifado ou CD

A adoção da gestão da Supply Chain permite diminuir os custos de operação, controlar a qualidade e gerenciar os insumos armazenados. Além disso, a integração dos processos envolvidos é uma das bases do Supply Chain.

Com a crescente complexidade das cadeias de suprimentos, a gestão eficiente do Supply Chain tornou-se uma necessidade crítica para as empresas – sem esquecer que esta gestão envolve a coordenação de todos os processos, desde a solicitação do material até sua chegada ao almoxarifado ou CD.

Para garantir a eficiência e a qualidade, é preciso contar com um bom controle e uma visão sistêmica. Ferramentas tecnológicas auxiliam e tornam o processo viável. Nesta matéria, vamos explorar as melhores práticas para gerenciar a cadeia de suprimentos e como a tecnologia pode ajudar nesse setor, entre outros tópicos.

Melhores práticas

A gestão efetiva de uma cadeia de suprimentos tem como objetivo principal adequar todo o ciclo de vida de um produto, desde seu desenvolvimento até sua entrega de fato. Sempre com olhar para entregar no prazo certo, com boa qualidade, menor custo e, atualmente, o mais sustentável ambientalmente. Tudo isso garantirá a satisfação do cliente.

Essa gestão passa obrigatoriamente por 3 pilares básicos: Processos, recursos – por exemplo, uso de tecnologia, data analytics – e pessoas. Todo fator de sucesso se dará pelo fortalecimento desses pilares que, como consequência, trarão cada vez mais eficiência de ponta a ponta de um processo específico.

Do ponto de vista prático – prossegue Marcelo Paciolo, diretor de Supply Chain & Logística na AGR Consultores –, deixar uma cadeia eficiente pode passar por inúmeras frentes, e dependerá muito do quão complexa e dinâmica é uma operação. Entretanto, destacamos algumas frentes que, independente do segmento, são essenciais para maximizar eficiência em uma cadeia:

Planejamento de Demanda: Possuir um hub de inteligência para análise de histórico, aliado a tendências e informações de mercado, é crucial para elaborar a previsão de demanda (o início de tudo – o planejamento). Nesse ponto, a utilização de ferramentas de previsibilidade, aliada a rituais de gestão, como S&OP (Sales and Operations Planning), pode ajudar muito a empresa a gerar assertividade nessa etapa.

Gestão de fornecedores: Estabelecer uma comunicação eficaz com os parceiros é fundamental. De nada adianta ter uma previsibilidade precisa se a informação não for compartilhada e gerida de perto. “Destacamos a gestão de parceiros, pois avaliar regularmente o desempenho dos fornecedores – considerando prazos de entrega, qualidade dos produtos e confiabilidade – será um diferencial no atendimento da cadeia como um todo. Por mais sólida que a relação de parceria seja, é preciso ter sempre em mente a necessidade de possuir planos de contingência para lidar com atrasos no fornecimento, escassez de materiais ou outros problemas potenciais.”

Gestão de inventário: Garantir que os estoques físicos x sistêmicos estejam corretos (“batendo”) é fundamental para concretizar uma estratégia definida através do planejamento de demanda realizado. Quando bem trabalhado, pode reduzir fluxo de caixa (em aquisição de produtos e custos de armazenagem), além de ser um termômetro sobre os processos internos de uma empresa, refletindo como está o controle entre entradas, saídas e gestão de armazenagem.

Tecnologia da Informação: Possuir informação em tempo real nos torna mais enérgicos para responder às intempéries do dia a dia. Sistemas de tracking, replenishment e gestão de estoque devidamente integrados e homologados com o ERP irão permitir essa visão abrangente e, consequentemente, uma coordenação eficiente dos processos.

Monitoramento e Melhoria Contínua: Nada é ou está tão bom que não possa ser melhorado. Um grande aliado da previsão de demanda é um processo eficiente e rápido. Isso porque, quanto mais rápido o ciclo de uma cadeia, menor será a chance de desvios na previsibilidade. Por isso, estabelecer métricas de desempenho para avaliar a eficácia do processo, aliado a realizar análises regulares, faz parte de toda gestão da cadeia. Obviamente, para cada anomalia ou oportunidade de melhoria identificada nessa análise, é necessário elaborar planos de ação e implementá-los, sempre de maneira cíclica.

Também falando sobre as melhores práticas e os elementos-chave para otimizar o processo de solicitação de materiais dentro de uma cadeia de suprimentos e garantir que as demandas sejam atendidas de forma eficiente – e como as empresas podem aprimorar esse processo para atender às demandas de forma eficiente – Marcelo Koiti Fugihara, sócio-diretor da Belge Consultoria, lembra que, para uma cadeia de suprimentos eficiente, tipicamente aplicada a produtos funcionais, o foco é nos custos. Para o atendimento dessas demandas de forma eficiente, o primeiro passo é fazer uma boa previsão de demanda, ou seja, o problema de forecasting é essencial. Se a demanda prevista for equivocada, a empresa poderá produzir mais do que o necessário, gerando estoques adicionais e custo de capital desnecessário, ou poderá produzir menos do que o necessário, gerando a ruptura do estoque e perda da venda.

“Para garantir que a malha logística esteja desenhada adequadamente para o atendimento dos clientes com o menor custo possível, seria importante um estudo de network design que ajudaria a empresa a responder: quantos CDs eu preciso, qual a melhor localização, quais modais, qual a melhor política de fornecimento, etc.”, ensina Fugihara.

No nível tático, a empresa precisa planejar como garantir que a capacidade das suas instalações esteja adequada com a agilidade e eficiência requerida: qual o melhor layout do CD, quantos recursos são necessários, vale adotar tecnologias & automações, melhoria para a produtividade, como distribuir o produto, qual a melhor rota, qual a frota requerida, etc. Isso poderia ser feito com base em estudos de Warehouse design, simulação de processos e otimização do transporte.

Por fim – completa o sócio-diretor da Belge Consultoria –, é vital contar com processos bem definidos e estruturados, com pessoas bem treinadas e capacitadas! “O sucesso em Supply Chain sempre depende de processos somados a tecnologias e pessoas.”

Na visão de Paulo Rago, CEO do CETEAL – Centro de Estudos Técnicos e Avançados em Logística, entre as melhores práticas e os elementos-chave para otimizar o processo de solicitação de materiais dentro de uma cadeia de suprimentos e garantir que as demandas sejam atendidas de forma eficiente está analisar o comportamento de consumo por períodos específicos, entendendo qual ou quais períodos temos mais ou menos solicitações. “Como faz um bom restaurante. Ele sabe quando tem mais ou menos demanda e se prepara para solicitar matéria prima ANTES de efetivada a venda de produtos.” As organizações, de forma geral, deveriam montar seus ciclos seguindo essa premissa.

Outra ilustração para isso – continua Rago –, são os hospitais. Hospital bom sabe quando vai receber mais doentes e se prepara para isso, pois tem, como meta, salvar vidas e atender da melhor maneira possível um paciente. “Entendo que quando as organizações passarem a tratar todos os clientes, internos ou externos, como pacientes, elas conseguirão ter melhor ajuste de seus atendimentos das demandas.”

De forma geral, é importante conhecer os fornecedores e parceiros de serviços, de modo a mensurar suas qualidades e limitações, assim como o posicionamento e o status do produto ou material no mercado como um todo – zonalidade, variação de preço ou escassez.

Porém – diz, agora, Tony Hiro Oda, consultor Sr. de negócio e gerenciamento de projetos da Connexxion Consulting –, algumas práticas são fundamentais para o atendimento eficiente, como um processo de S&OP que garanta um planejamento integrado entre as áreas envolvidas da companhia, de modo a evitar pedidos não planejados ou em atraso, um planejamento antecipado, para mitigar solicitações de última hora, reduzindo quebra de processos por parte do fornecedor para realizar o atendimento, assim como uma boa gestão dos estoques internos e, como mencionado anteriormente, bom conhecimento e confiança dos fornecedores.

As cadeias de suprimento mais eficientes são aquelas que têm um maior nível de integração e visibilidade de informações. Em geral isso se consegue com um bom processo de planejamento e com uso de tecnologia.

Para que a empresa possa fazer boas compras, é necessário que esteja integrada internamente com os solicitantes e também com os fornecedores. Quanto mais alinhado for o planejamento conjunto da necessidade de produção, vendas e compras, maior será o nível de serviço alcançado, pois ocorrerão menos surpresas de última hora, menos urgências, menos rupturas.

Ainda de acordo com Maria Fernanda Hijjar, sócia executiva do ILOS, a atividade de sourcing envolve tanto os processos do dia a dia da área de compras – como, por exemplo, a solicitação de propostas a fornecedores, a comparação de preços e a negociação – quanto atividades estratégicas que são a base para que o suprimento ocorra de forma contínua, com menos riscos de interrupções, com fornecedores adequados e evoluindo em conjunto. Essas atividades estratégicas englobam ações de Gestão de Fornecedores e de Strategic Sourcing, metodologias que visam a manutenção de um relacionamento mais próximo ente os elos do Supply Chain, ao mesmo tempo que identificam ações diferentes para cada grupo de fornecedores e grupo de produtos.

“Por sua vez, a atividade de planejamento deve contar com processos estruturados de S&OP e IBP (Integrated Business Planning), que têm como objetivo integrar e sincronizar as metas de vendas e operações da companhia, melhorando o planejamento de demanda, otimizando o uso de recursos e trazendo visibilidade para toda a companhia de forma unificada”, completa Maria Fernanda.

Já em um esforço para otimizar o processo de solicitação de materiais em uma cadeia de suprimentos, Leonardo Araki, CEO da INVENT Smart Intralogistics Solutions, destaca a importância da integração e automação. Para ele, investir em sistemas integrados, na colaboração estreita com fornecedores e em tecnologias como RFID pode agilizar a solicitação, assegurando uma resposta eficiente às demandas. A constante busca por melhorias nesse processo envolve também a análise contínua de dados para identificar oportunidades de aprimoramento.

Concluindo esta questão, José Geraldo Vantine, CEO da Vantine Logistics Consulting, se reporta aos elementos-chave, explicando que três são essenciais: planejamento integrado com vendas e produção; gestão das operações de armazenagem e transportes; entender as necessidades dos clientes e as capacidades dos fornecedores. “Ressalto que logística é parte da Gestão da Cadeia de Abastecimento, mas essa não é operação.”

Gestão de estoque

A gestão de estoque desempenha um papel vital na otimização da cadeia de suprimentos, pois influencia diretamente a capacidade da empresa de atender à demanda do cliente de maneira eficiente, evitando excessos ou ruptura de materiais. Do ponto de vista da sua importância, Paciolo, da AGR Consultores, destaca:

Tomada de Decisão Estratégica: Fornece dados cruciais para a tomada de decisões estratégicas relacionadas à produção, compras e distribuição.

Custos: Impacta diretamente os custos associados ao armazenamento, obsolescência e falta de estoque.

Eficiência Operacional: Facilita uma operação mais suave, reduzindo a ocorrência de atrasos e interrupções na produção.

Atendimento ao Cliente: Assegura a disponibilidade de produtos quando os clientes necessitam, contribuindo para a sua satisfação.

Ainda de acordo com o diretor de Supply Chain & Logística na AGR Consultores, as estratégias podem ser variadas, de acordo com o apetite da empresa em, por exemplo, reduzir ruptura ou custo. No entanto, ele cita algumas estratégias comumente utilizadas:

Classificação ABC: Classificar os itens de estoque com base na importância financeira (ABC) e concentrar esforços em gerenciar de forma mais intensiva os itens mais críticos.

Giro de Estoque: Monitorar a taxa de giro de estoque para garantir que os produtos não fiquem obsoletos e para maximizar a eficiência do uso do espaço de armazenamento.

Estoque de Segurança: Manter um estoque de segurança para lidar com variações na demanda e incertezas na cadeia de suprimentos.

Políticas de Devolução e Descontinuação: Estabelecer políticas claras para devolução de mercadorias e descontinuação de produtos obsoletos.

Just in Time (JIT): Adotar o modelo JIT para receber materiais apenas quando necessário, reduzindo o excesso de estoque e custos de armazenamento.

“É importante destacar que, para a operacionalização dessas estratégias, cada vez mais estão sendo utilizadas tecnologias para melhorar a visibilidade e a rastreabilidade desses estoques. Mesmo já existente há algum tempo, o RFID vem se tornando cada vez mais acessível. Além disso, a Inteligência Artificial e machine learning, para a visibilidade e gestão de estoques, vêm conquistando cada vez mais espaço dentro da gestão da cadeia de suprimentos.”

Também respondendo à questão sobre como a gestão de estoque desempenha um papel fundamental na otimização da cadeia de suprimentos, e quais são as estratégias recomendadas para equilibrar o nível de estoque e garantir que materiais estarão disponíveis quando necessários, Bruno de Norman, sócio-diretor da Belge Consultoria, enfatiza que o estoque, quando bem planejado, é essencial e traz valor ao negócio em nível de serviço e custos. “A definição de uma política de estoques irá indicar as melhores estratégias para garantir que não haja falta de matéria-prima para produção e produto acabado para o atendimento imediato dos clientes finais.”

Dentro das políticas de estoque, existem diferentes abordagens, como a política de estoque de segurança, que visa mitigar a incerteza na demanda, e a política de estoque cíclico, que determina os momentos específicos para a reposição com base em ciclos pré-determinados. A escolha da política mais adequada deve ser feita cuidadosamente com base em cada contexto, podendo ser diferente de acordo com cada classificação de produto (curva ABC e XYZ) ou em termos de natureza do produto e, principalmente, no grau de variabilidade da demanda e do lead time.

Para encontrar o nível de estoque mais adequado, balanceando custo e nível de serviço – ensina Norman –, ferramentas e técnicas para planejamento de demanda e produção também se fazem essenciais. Há softwares no mercado que são capazes de fornecer um amparo, principalmente para segmentos em que há maiores níveis de instabilidade na demanda, aplicando modelos estatísticos e machine learning. “Estes podem ser essenciais, quando aliados a estruturas de reuniões de S&OP bem estruturadas e inputs qualitativos são apropriadamente considerados.”

A fim de otimizar ainda mais a gestão de estoque, são importantes o aprofundamento e a aplicação de classificações como ABC-XYZ. A classificação ABC categoriza os produtos com base em sua importância no aspecto de valor monetário, promovendo uma alocação eficiente de recursos. XYZ, por outro lado, classifica os produtos com base na variabilidade da demanda e na previsibilidade, ajudando na definição de estratégias de reposição mais precisas, dependendo de cada contexto.

“Ao compreender e aplicar conceitos como políticas de estoque, classificações ABC-XYZ, tipos de políticas, variação da demanda e escolha entre reposição periódica e revisão contínua, organizações podem não apenas otimizar seus processos, como também melhorar a satisfação do cliente e alcançar eficiência operacional e financeira”, completa o sócio-diretor da Belge Consultoria.

Também com referência às estratégias recomendas para equilibrar o nível de estoque e garantir que materiais estarão disponíveis quando necessários, Rago, do CETEAL, diz que a primeira coisa é definir o modelo de abastecimento: abastecimento regular ou make to order (fazer sob encomenda). Depois, vem a definição de políticas especificas para cada produto/região, considerando os tempos de abastecimento. Na sequência, é necessário sempre projetar qual o nível de disponibilidade que seja o necessário para qualquer período.

“Tem muita organização que quer trabalhar com disponibilidade contínua, mas não quer ter estoque, o que torna esse processo quase que inviável. Entendo que muitas empresas deveriam aprender como funciona o modelo de grandes pizzarias. Elas trabalham com o produto final, a pizza, no modelo make to order mas, a matéria-prima (e a maioria dos produtos é extremamente perecível) tem fluxo regular em função da demanda e funciona perfeitamente. Para isso funcionar, é necessário ter recursos para entender as demandas e fazer o acompanhamento diário dos consumos”, afirma Rago.

Para Oda, da Connexxion Consulting, a gestão de estoque tem impacto direto na eficiência operacional, assim como sobre as questões financeiras da empresa. Por exemplo, uma boa gestão de estoque reduz os custos operacionais de estocagem (armazenagem) e do capital empregado, que poderia estar sendo investido em outras frentes ou melhorias, gerando impactando também em produtos vencidos ou avariados.

De modo geral, possuir uma previsão de demanda qualificada e com bom nível de acurácia é uma estratégia importante para manter o estoque equilibrado, porém, sempre atrelado a estratégia de abastecimento – estoque de segurança, curva de produto, operação interna, KPI’s etc. – e entendimento do nível de serviços dos fornecedores, evitando altos volumes e falta de produto.

De fato, a formação de estoques é necessária por muitos motivos, como garantir a disponibilidade imediata de produtos – sem que haja necessidade de esperar sua produção –, para evitar paradas de máquinas por falta de insumos, para prevenir rupturas devido a eventos de difícil previsão, assim como para se obter maiores descontos na compra em lotes maiores e economizar no custo de transporte, aproveitando melhor os veículos.

Entretanto, manter estoques também traz consequências negativas para as empresas, como aumento do custo de armazenagem, aumento da possibilidade de perda de produtos devido à validade, assim como o aumento do custo financeiro pelo capital imobilizado em estoques.

O alerta é de Maria Fernanda, do ILOS. De acordo com ela, para garantir o melhor equilíbrio dos níveis de estoque, é preciso que sejam utilizados métodos de dimensionamento e controle de estoques com ferramentas quantitativas e modelos de gestão avançados. Assim, a empresa poderá estabelecer os níveis de estoque que garantirão determinado nível de disponibilidade.

É preciso, ainda, que as empresas adotem as políticas de reposição mais adequadas, utilizando critérios de quando e quanto pedir, reduzindo, assim, o custo total. Os modelos e as políticas de estoque a serem adotados dependem do perfil de cada negócio, e podem variar conforme o direcionamento estratégico de cada companhia. Existem ferramentas tecnológicas que auxiliam nesse processo, assim como cursos e consultorias especializadas em implementação de gestão de estoques avançada e adequada para cada empresa.

Também para Augusto Ghiraldello, VP executivo da INVENT Smart, a gestão de estoque é um componente crucial na otimização da cadeia de suprimentos. Estratégias recomendadas incluem a aplicação de modelos de previsão de demanda, adoção de sistemas just-in-time (JIT) e a segmentação inteligente de produtos. O equilíbrio entre o nível de estoque e a disponibilidade oportuna de materiais é alcançado através de uma abordagem estratégica que considera a criticidade e a sazonalidade dos produtos.

“Estoque é a resultante entre ‘o que entra menos o que sai’. Varia de cada cadeia produtiva e de qual elo dessa cadeia estamos tratando. Por exemplo, no primeiro elo (extração mineral, por exemplo), o estoque é necessário e estratégico, mas se está no último elo – entrega da indústria para o varejo –, o estoque faz o equilíbrio de toda cadeia de abastecimento (ou suprimentos). A gestão de estoques depende em que elo da cadeia está o processo e em que cadeia produtiva. Não se pode comparar o setor automobilístico com o farmacêutico. Por isso, logística é muito mais do que entregar pacotinhos no elo ‘n+1’”, completa Vantine.

Análise de dados e IA

A análise de dados e a Inteligência Artificial (IA) cada vez mais desempenham papéis relevantes na otimização da previsão de demanda e na melhoria da gestão da cadeia de suprimentos. Ao aplicar essas tecnologias, as empresas podem tomar decisões mais informadas, antecipar demandas futuras e garantir que os materiais estejam disponíveis no momento certo.

E Paciolo, da AGR Consultores, aponta algumas maneiras específicas de como essas abordagens podem ser aplicadas: previsão de demanda precisa, análise preditiva e prescritiva, monitoramento em tempo real, detecção de padrões anômalos, personalização da oferta e, não menos importante, na automatização de processos, principalmente os transacionais.

Rago, do CETEAL, também abordando a questão de como a análise de dados e a Inteligência Artificial podem ser aplicadas para melhorar a previsão de demanda e a gestão de Supply Chain, garantindo que os materiais estejam disponíveis no momento certo, destaca que, atualmente, muitas empresas de distribuição de e-commerce já trabalham dessa forma. “Montam um ciclo de análise diária e a AI projeta os modelos de atendimento e identifica possíveis gargalos com antecedência, por isso são líderes nos seus segmentos e conseguem disponibilizar sempre os produtos nos prazos combinados.”

O tema de Inteligência Artificial ganhou muita força com os avanços recentes em tecnologias de IA generativa, como o chat GPT. Grandes expoentes de tecnologia em Supply Chain estão correndo para desenvolver soluções para melhor aproveitar a nova realidade tecnológica. “Estivemos, por exemplo, no evento da ASCM (Association for Supply Chain Management – EUA) em que a pauta foi definitivamente a mais discutida. Tendo dito isso, há de que se tomar cuidado para se assegurar de que tais tecnologias realmente trarão benefícios tangíveis no cenário atual, e não serão aplicadas com um simples viés de empolgação com o novo”, alerta Fugihara, da Belge Consultoria.

Ele acredita que uma das principais, mais concretas, tangíveis e valiosas aplicações de machine learning são, justamente, em metodologias matemáticas e softwares de previsão de demanda, como o ForecastPro. “Recentemente foi adicionado o recurso de modelos de machine learninig, a partir de árvores de decisão.  O software conta com uma seleção automática do modelo que mais se adequa à série de dados, e o novo modelo adicionado tem se mostrado bastante preciso em nossa experiência até agora, rapidamente se tornando o mais utilizado entre diversos outros.”

A utilização de modelos de machine learning com este propósito é especialmente favorável em casos de alta variabilidade, com picos e vales de demanda aparentemente inexplicáveis e baixo nível de padrão de crescimento ou queda em termos históricos de longo prazo. Mas, outros modelos estatísticos podem ser mais adequados quando é necessário estudar a relação entre as variáveis explicativas e como afetam a demanda.

“A maior precisão no processo de previsão de demanda é uma das chaves para o planejamento de produção, gestão de estoques e garantia de que produtos e materiais para a produção estejam onde precisam estar, e na quantidade correta, completa o sócio-diretor da Belge Consultoria.

Para Oda, da Connexxion Consulting, a análise de dados e a Inteligência Artificial têm um papel fundamental no aperfeiçoamento da previsão de demanda e, consequentemente, na gestão de Supply Chain, atuando de forma a analisar padrões históricos de demanda, identificando tendências de produtos por região e período, antecipando variações sazonais e interferências externas identificadas.

“A IA entra para complementar essa análise, com algoritmos de machine learning e deep learning com foco em padrões complexos de dados não lineares e aprendizado de variações não identificados, antecipando futuras variações não previstas.”

Outro fator a considerar, ainda segundo o consultor, seria o fato de possuir uma integração on-line, identificando variações climáticas ou outras ações que possam impactar diretamente nos valores de demanda.

Também para Igor Uliana, VP de operações da INVENT Smart, a análise de dados e a Inteligência Artificial desempenham papéis fundamentais na melhoria da previsão de demanda e na gestão eficiente do Supply Chain. “Algoritmos avançados podem analisar padrões históricos, dados de mercado e sazonalidades, proporcionando previsões mais precisas. A implementação de sistemas baseados em IA automatiza tarefas operacionais, aprimorando a eficiência operacional.”

Na verdade, a IA pode ser utilizada para aprimorar o planejamento de demanda, trazendo uma série de benefícios, resumidos de forma clara por Leonardo Julianelli, sócio executivo do ILOS: (1) melhoria na acuracidade das previsões de vendas, incluindo inúmeras variáveis externas; (2) automatização e aumento na agilidade do tratamento de dados de consumo, anteriormente realizada por times de analistas; (3) identificação de tendências futuras de consumo de longo prazo, que ajudem no planejamento estratégico da empresa; (4) aprimoramento na reposição de estoques do dia a dia, através de técnicas de demand sensing, que coletam dados com alta granularidade e trazem informação rápida sobre necessidade ou não de reposição de estoques por tipo de produto; (5) análise de cenários que podem ser simulados considerando uma série de variáveis; (6) análise das ações de promoção de produtos, com avaliação dos impactos e identificação daquelas que trazem mais resultados.

“Se fala muito de IA, mas é prematuro ter assertividade sobre seu impacto em previsão de demanda, pois essa depende de variáveis aleatórias semelhantes à previsão do tempo ou da bolsa de valores”, completa o CEO da Vantine Logistics Consulting.

Estratégias

A pergunta “quais estratégias as empresas podem adotar para garantir a segurança e integridade dos dados e informações ao longo da cadeia de suprimentos?” traz uma reflexão importante, segundo Norman, da Belge Consultoria, pois, com o aumento do potencial analítico de grandes volumes de dados, é natural que eles se tornem cada vez mais sensíveis, requisitando maior cuidado em termos de segurança e sigilo.

As principais medidas a serem tomadas com este objetivo devem ser relacionadas ao estabelecimento de procedimentos robustos em termos de controle, monitoramento de acessos e adoção de padrões rigorosos de segurança da área de tecnologia de informação.

Medidas mais técnicas, como a criptografia, atualização constante de softwares técnicos e protetivos, são essenciais para evitar que agentes mal-intencionados possam se aproveitar de brechas de segurança e acesso. Porém, tais medidas não são as únicas que devem ser cuidadosamente consideradas.

“O estabelecimento de uma cultura de organizacional em torno do zelo pela proteção e qualidade dos dados não é algo simples ou trivial, porém, pode se mostrar uma das metodologias mais poderosas de forma geral. A educação contínua dos colaboradores sobre as melhores práticas de segurança é de crescente importância. Treinamentos regulares ajudam a evitar falhas humanas, como o compartilhamento inadvertido de informações confidenciais, e fortalecem a cultura organizacional de maneira favorável e condizente com a importância dos dados”, explica o sócio-diretor da Belge Consultoria.

Para garantir a segurança e integridade dos dados ao longo da cadeia de suprimentos, é essencial adotar estratégias como criptografia, firewalls robustos e treinamento contínuo em segurança cibernética, acrescenta Leonardo, da INVENT Smart. Políticas claras de gerenciamento de acesso e a utilização de autenticação de múltiplos fatores são medidas eficazes para proteger informações sensíveis, completa.

Oda, da Connexxion Consulting, também lembra que, hoje, dados são considerados uma mercadoria de valor. Sendo assim, a criptográfica de ponta a ponta, assim como o controle de acesso a pessoas que irão utilizar essas informações dentro da empresa são fundamentais.

Compartilhamentos dos dados também devem ser controlados, tanto pela empresa, quanto pelos fornecedores e prestadores que possuem informações. É fundamental gerar contrato de NDA (Non Disclosure Agreement) para assegurar essas informações internas, para que de forma alguma haja vazamento de dados fora do ciclo esperado. Outro fator importante é focar em cybersecurity e Blockchain, reduzindo ao máximo a questão de invasão cibernética, e criptografia de proteção de dados.

A grande revolução das transações na cadeia de suprimentos é o Block-chain, que pode ser descrito resumidamente como uma grande base de registros de informações descentralizadas, principalmente financeiras e de ativos, mas também para outras aplicações, como para registro de contratos e rastreamento da origem de produtos na cadeia de suprimentos. No Blockchain, como as informações não estão guardadas em um único lugar, ataques cibernéticos e alterações são praticamente impossíveis, pois precisariam atingir inúmeros computadores de todos os usuários envolvidos, e não somente uma entidade centralizadora, lembra Maria Fernanda, do ILOS.

Os dados de transações ficam inalteráveis e blocados em uma cadeia cronológica onde cada bloco é conectado a informações do bloco anterior, formando uma corrente que não pode ser modificada, pois não seria aceita pelos inúmeros computadores descentralizados participantes da rede, gerando um elevado nível de segurança. “Já existem sistemas de segurança de dados e informações, por exemplo, em base de Blockchain. Mas inviolabilidade é algo mais complexo que nem o governo americano escapa”, completa Vantine.

Antes de abordar segurança e integridade, Paciolo, da AGR Consultores, diz que é importante falar da disponibilidade de dados. É fundamental que, nas soluções sistêmicas envolvidas na cadeia, a parametrização esteja bem calibrada e que tais soluções estejam devidamente integradas. Isso irá garantir uma base de dados mais acurada e, consequentemente, análises mais próximas da realidade e com certeza mais produtivas para se trabalhar.

Sobre a segurança e integridade, as estratégias vão além da gestão de cadeia de suprimentos e passam a valer para todo ecossistema em que uma empresa está envolvida. O diretor de Supply Chain & Logística na AGR Consultores destaca as estratégias abaixo:

Acesso Seguro: Implementar políticas rigorosas de controle de acesso. Garantir que apenas funcionários autorizados tenham acesso aos dados relevantes para suas funções e atribuir permissões com base na necessidade. A Autenticação Multifatorial (MFA) adiciona uma camada extra de segurança, exigindo mais de uma forma de autenticação para acessar sistemas e dados sensíveis.

Criptografia de Dados: Utilizar técnicas robustas de criptografia para proteger os dados durante a transmissão e armazenamento. Isso impede que terceiros não autorizados acessem informações confidenciais.

Monitoramento Contínuo: Utilizar sistemas de monitoramento contínuo para detectar atividades suspeitas ou violações de segurança em tempo real. Isso permite uma resposta rápida a potenciais ameaças.

Atualizações e Patches: Manter todos os sistemas e softwares atualizados com os patches de segurança mais recentes para corrigir vulnerabilidades conhecidas. Isso reduz o risco de exploração por parte de hackers.

Backup Regular de Dados: Implementar políticas de backup regular para garantir a recuperação eficiente de dados em caso de perda, corrupção ou ataque cibernético.

Além destas, Rago, do CETEAL, alinha algumas estratégias que as empresas podem adotar:

Mapeamento e Avaliação de Riscos: Identificar os pontos vulneráveis na cadeia de suprimentos. Avaliar constantemente os riscos associados a cada ponto, considerando ameaças internas e externas.

Políticas de Segurança da Informação: Desenvolver e implementar políticas claras de segurança da informação em toda a cadeia. Educar e treinar os colaboradores, fornecedores e parceiros sobre as práticas de segurança.

Auditorias e Certificações: Realizar auditorias regulares para garantir conformidade com padrões de segurança, além de buscar certificações reconhecidas na indústria para demonstrar comprometimento com a segurança.

Parcerias Seguras: Avaliar a segurança cibernética dos parceiros de negócios antes de estabelecer parcerias. Estabelecer acordos contratuais que incluam cláusulas específicas de segurança da informação.

Gestão de Fornecedores: Avaliar a segurança de TI de fornecedores e exigir práticas de segurança robustas. Para tanto, é recomendável incluir cláusulas contratuais específicas relacionadas à segurança da informação nos contratos com fornecedores.

Resposta a Incidentes: Desenvolver testes e planos de resposta a incidentes para agir rapidamente em caso de violações de segurança. Para isso, deverá realizar simulações periódicas para garantir a eficácia dos planos de resposta.

Desenvolver Cultura de Segurança: Promover uma cultura organizacional que valorize a segurança da informação com incentivo à comunicação aberta sobre potenciais riscos e incidentes de segurança.

Exemplos de sucesso

“Muito se fala sobre empresas de fora do Brasil quando se trata de cases de sucesso no gerenciamento da cadeia de suprimentos. Particularmente, gosto muito de um exemplo nacional, a Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica. Basicamente, todos os pontos analisados nesta matéria a Embraer conseguiu executar com precisão. Possui uma rede de parceria estratégica com fornecedores, gestão de riscos robusta, pioneira em incorporar as novidades de tecnologia ao longo de toda sua cadeia. Além da Embraer, também podemos trazer alguns outros exemplos de sucesso: Amazon, Zara, Natura. Cada um em um segmento diferente, mas com resultados eficientes na cadeia de suprimentos”, diz Paciolo, da AGR Consultores.

“Um exemplo que temos o privilégio de poder contar como cliente e de fazer parte da história de sucesso é o do Mercado Livre. Internacionalmente conhecido por ter resistido bravamente às entradas de grandes players internacionais, como a Amazon, em território sul-americano”, dizem Fugihara e Norman, da Belge Consultoria.

O sucesso do Mercado Livre se deve a diversos fatores, porém os consultores dizem que o fator central é a capacidade de atender as crescentes expectativas por parte dos clientes de e-commerce, exigindo níveis de serviço cada vez maiores para satisfazer os padrões modernos de consumo.

Através de estudos detalhados com aplicação de modelação de simulação de eventos discretos, foi possível encontrar melhorias de processos, mitigar e endereçar gargalos, avaliar layout e equipamentos, aumentar a eficiência operacional e, assim, atingir significante vantagem competitiva.

“Um dos fatores-chave para o sucesso do Mercado Livre na América do Sul é a sua capacidade de se adaptar à complexidade da região. Considerando as vastas distâncias, o relevo diverso, as diferentes infraestruturas logísticas e variações nas regulamentações tributárias, a empresa desenvolveu estratégias flexíveis que levam em conta as peculiaridades de cada mercado local. Em regiões como esta, a responsividade de cadeias de suprimentos e capacidade de se adaptar rapidamente a cenários inesperados muitas vezes podem ser até mais importantes quando comparadas a altos investimentos em automação e equipamentos”, explica Fugihara.

“O Mercado Livre se destaca na América do Sul devido à sua logística eficiente, processos operacionais robustos, distribuição estratégica, cadeia de suprimentos integrada, inovação tecnológica e capacidade de adaptação à realidade local. Esses elementos combinados não apenas impulsionaram o crescimento da empresa, mas também a posicionaram como uma referência em excelência na gestão da cadeia de suprimentos na região e a consolidam como um caso de sucesso de calibre mundial”, completa Norman.

Também convidado a citar exemplos de sucesso na gestão do Supply Chain no Brasil e no mundo, Rago, do CETEAL, cita, além da Amazon e do Mercado Livre, o MCDonald’s, Marilan e IFoo. “No contexto de exemplos de sucesso na gestão do Supply Chain, destacam-se empresas como Zara e Amazon, internacionalmente reconhecidas. No cenário brasileiro, casos notáveis incluem Magalu e Via Varejo, que demonstram eficiência na gestão de cadeias de suprimentos, contribuindo para o avanço do setor logístico nacional e global”, acrescentam Ghiraldello e Uliana, da INVENT Smart.

Maria Fernanda, do ILOS, também lembra que as empresas de maior destaque em seu Supply Chain são identificadas anualmente no ranking mais acompanhado mundialmente, o Gartner Supply Chain Top 25. Em 2023, as empresas líderes foram: Schneider Electric, Cisco Systems, Colgate-Palmolive, Johnson & Johnson, PepsiCo, Pfizer, Microsoft, Lenovo, Walmart, L’Oréal, Coca-Cola, Diageo, Inditex, Tesla, Siemens, Intel, Nestle, AstraZeneca, Dell Technologies, McDonald’s, HP, InBev, Alibaba, GlaxoSmithKline, Dow. O ranking é baseado em dois componentes principais, o desempenho dos negócios e a opinião de profissionais líderes de mercado, e considera apenas empresas de grande porte globais.

“No Brasil, embora não tenhamos um ranking específico, vale destaque para as empresas de varejo online que atuam no comércio eletrônico, que montaram seu Supply Chain para atender nosso país de dimensões continentais com redes logísticas supercomplexas, agregando um portfólio de produtos cada vez maior, gerenciando estoques dos demais elos da cadeia de suprimentos (sellers), oferecendo tempos de entrega cada vez mais curtos e trazendo um nível de visibilidade e rastreamento de produtos elevadíssimo”, parabeniza.

Empresas participantes

AGR Consultores – Atua em toda esteira end-to-end da cadeia de bens de consumo, desde o plano estratégico até operação do negócio.

Belge Consultoria – Smart Supply Chain. Presta serviços de consultoria aplicando soluções tecnológicas a fim de aprimorar e adicionar elementos inteligentes, de ponta-a-ponta da cadeia de suprimentos.

CETEAL – Oferece treinamentos técnicos e consultoria empresarial para toda cadeia de suprimentos, além de desenvolver e implantar universidades corporativas para as organizações.

Connexxion Consulting – Consultoria especializada em Supply Chain.

ILOS – Considerada referência em consultoria e inteligência de mercado na área de Logística e Supply Chain Management, no Brasil e na América Latina.

INVENT Smart Intralogistics Solutions – Oferece equipamentos para automatização das operações na cadeia de suprimento.

Vantine Logistics Consulting – Empresa de consultoria com foco em logística e SCM com mais de 800 projetos em mais de 350 empresas. 

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