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Logística Setorial 5 de março de 2021

Logística do setor têxtil e de vestuário traduz mudança de comportamento do consumo

O segmento foi fortemente influenciado pela transferência das compras para as plataformas online, exigindo ações voltadas à diminuição do lead time das entregas para aumentar a satisfação e a confiança dos clientes.

 

Depois da crise do coronavírus – que abalou a recuperação lenta, mas gradual, que o segmento de moda estava apresentando no início de 2020 –, a previsão é que o setor busque novos caminhos para superar as dificuldades e ampliar a lucratividade nos próximos anos. Está é a expectativa de Mírian C. Costa, gerente comercial da Transrefer Transporte e Logística.

A profissional está entre os entrevistados desta matéria especial sobre a logística do setor têxtil e de vestuário, cujas perspectivas são de crescimento de 8,3% na produção em 2021, segundo a Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.

Um dos reflexos do coronavírus nos negócios e na rotina das pessoas é a onda de compras online, tanto que a grande bola da vez é o setor de e-commerce. O Google aponta 59% de aumento no faturamento do comércio virtual em 2020 em comparação a 2019. Segundo a Ebit/Nielsen, o setor recebeu 90,8 milhões de pedidos no primeiro semestre de 2020, sendo que 7,3 milhões de brasileiros compraram pela primeira vez nessa modalidade.

Para Rosa Maria Amador, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Inovação da ID Logistics Brasil, o segmento foi fortemente influenciado pela transferência das compras para as plataformas online. “O ano de 2020 foi muito favorável, pois houve crescimento superior a 30% das demandas previstas nos canais de e-commerce, impulsionado pelo fechamento das lojas devido à pandemia da Covid-19. Para 2021, além da continuidade das restrições de circulação nas cidades, o cenário se mostra favorável, pois as lojas abriram parcialmente e muitos dos consumidores que compravam em lojas físicas passaram a aderir às compras online”, expõe Rosa.

De fato, o fast fashion volta com força, na opinião de Toni Trajano, diretor executivo da Soluciona Logística. “Já era um movimento muito forte no varejo de moda, multiplicando os lançamentos de coleções ao longo do ano e agora se combina aos novos hábitos de consumo”, afirma.

Para Delmar Albarello, fundador e diretor-presidente do Grupo Troca, em 2021, o consumidor deverá estar maduro o suficiente e, por isso, vai valorizar uma entrega expressa, por exemplo. “Essa agilidade e segurança vai chamar a atenção e funcionará como um requisito na suas decisões nas compras.”

Giuseppe Lumare Júnior, diretor comercial da Braspress, antes de fazer “previsões” para o setor em 2021, lembra que o ano de 2020 foi especialmente difícil para segmentos de consumo não essenciais. As vendas de têxteis, com poucas exceções, foram afetadas pela queda de vendas de confecções, mas este efeito se reduziu um pouco a partir do último trimestre do ano, quando as vendas começaram a voltar. “Nesse período, o crescimento das vendas foi alavancado pelo consumo de revanche, um efeito psicológico que faz o consumidor extravasar frustrações causadas por longos períodos de afastamento das compras, como foi o caso de vários meses do ano de 2020.”

Por outro lado – continua o diretor comercial da Braspress –, o consumo de confecções também se adaptou à realidade do home office, havendo forte crescimento de vendas de roupas mais despojadas e confortáveis, especialmente pelo canal do e-commerce.

Este, segundo Lumare Júnior, apresentou um impacto muito forte na logística do segmento. No geral, com a chegada do omnichannel, o transporte passou a se adaptar às novas demandas de Same e Next Day Delivery, passando a considerar novos modos de fazer chegar as encomendas aos consumidores – assim, foram incentivadas as entregas em “Pick Up Point” e as postagens em “Drop Offs”, cuja designação geral se fez por meio do acrônimo: PUDO’s.

Novas ideias e modos de fazer transportes têm surgido e devem evoluir muito a partir dos novos impulsos de consumo. Nos segmentos de têxteis e confecções, essas novas soluções têm facilitado as operações, pois se tornaram opções do consumidor para reduzir custos de frete e atender seus anseios em cada compra.

“Para 2021, ao que parece, as vendas estão voltando à normalidade, mas ainda é cedo para saber qual será o efeito efetivo ao longo do ano, mesmo porque a pandemia persiste e muita coisa pode alterar o ímpeto de compras do consumidor”, completa Lumare Júnior.

 

Comportamento

A logística no setor têxtil será influenciada pela mudança de comportamento do consumo, inclusive das novas gerações, cada vez mais digitalizadas, como a Geração Z, que valoriza a praticidade e o consumo on demand, acredita Albarello, do Grupo Troca.

“Isso influencia inclusive a produção, quando players relevantes não precisam mais manter grandes estoques, ou nenhum até, fazendo a venda sair de CDs estratégicos por meio de uma logística inteligente e capilarizada”, expõe.

As palavras de ordem neste ano são planejamento e assertividade, de acordo com Thiago Menegon, diretor comercial da TDB Transporte e Distribuição de Bens. “É preciso estar o mais próximo possível do cliente para acompanhar as oportunidades e estar pronto no momento de necessidade.”

A consolidação da recuperação econômica e o aumento da inclusão digital serão fatores diretamente responsáveis pelo desempenho do setor, acredita Trajano, da Soluciona. “A convergência dos meios de consumo online e offline – tal como ocorre quando compramos pela internet, mas retiramos ou trocamos o produto na loja física – requer gerir embarque, transporte e estoques de maneira integrada, com uso de tecnologia e múltiplos modais de entrega”, conta.

Segundo ele, já não há como pensar a gestão de custos e riscos na logística sem a digitalização de processos e serviços, e quem não iniciar ou acelerar sua jornada de transformação digital vai certamente ficar para trás.

Para Rosa, da ID Logistics Brasil, a escassez de insumos e matérias primas pode influenciar o setor no que diz respeito à disponibilidade de produtos. “Além disso, a insuficiência e o alto custo do aço impactou a disponibilidade e os custos de estruturas portapaletes, o que pode ser um gargalo para o crescimento do setor em 2021”, observa.

Mírian, da Transrefer, diz que manter a eficácia para garantir níveis de serviço será um diferencial positivo, afinal, os desafios da indústria têxtil são considerados complexos, pois a área está diretamente ligada à moda, que a cada estação antecipa diversas coleções e condições. “Existem rotinas comuns e particulares, podemos citar como fatores que devem influenciar a logística: equilíbrio nos níveis de estoque, variedade de SKUs, manter frequência de transporte adequada e criar melhor estrutura para o armazenamento.”

Já Lumare Júnior, da Braspress, acredita que as causas mais comuns que afetam a logística e o transporte neste segmento, pelo menos no que diz respeito ao volume de serviços, são a renda e as predisposições de consumo. Em geral, renda é fator crucial para alavancar vendas e gerar operações logísticas e fluxos de carga, mas no caso das confecções e têxteis, cuja necessidade de consumo pode ser adiada, renda é tudo. Assim, em ano de muitas incertezas, não é seguro que teremos uma recuperação plena.

 

Novidades

Quando o assunto envolve as novidades logísticas no segmento têxtil e de vestuário, Rosa, da ID Logistics Brasil, cita que muitas empresas estão apostando em automação para mitigar a baixa oferta de mão obra e, principalmente, pelos altíssimos custos de locação de área.

“Os Operadores Logísticos e as transportadores estão investindo bastante na renovação de ativos diretamente ligados às operações. Os Operadores Logísticos, por exemplo, têm buscado incrementos de automação, especialmente com o crescimento do e-commerce, cuja demanda mais fracionada implica ampliar muito a capacidade de separações, item a item, seguido de processos automatizados de embalagem.”

Ainda de acordo com diretor comercial da Braspress, o transporte também busca se adaptar, passando a usar dispositivos de movimentação como caixas-mangas, cujo fito é consolidar muitos pacotes nestes dispositivos de contenção, possibilitando a segurança e garantindo a integridade até a fase de Last Mile, na qual as entregas finais são realizadas.

De acordo com Albarello, do Grupo Troca, a logística se adapta ao novo modelo de consumo, usando frotas mais compactas e, por isso, mais ágeis para entregas fracionadas door to door, automação dos CDs com soluções como esteiras, leitores óticos, medidores de cubagem digitais/laser, menos pessoas e mais máquinas de automação nos processos.

Segundo Valeria Colavite, da gestão comercial da Transportadora Risso, operacionalmente o transporte rodoviário no segmento têxtil ganha agilidade com a redução de tempo para as entregas, sendo assim, há a necessidade do aumento de linhas de transferências, viabilizando a distribuição em pequenos centros com maior agilidade. “Para a comunicação ágil, foram desenvolvidos aplicativos para que o consumidor final possa acompanhar passo a passo a informação do seu produto.”

Colaboração e compartilhamento são as palavras da vez, e ajustar-se a este novo modelo durante a pandemia tem sido uma necessidade para pequenas e grandes empresas, que devem olhar para o lado e firmar parcerias para sobreviver, conta Trajano, da Soluciona. Isto abrange desde o compartilhamento de Centros de Distribuição por empresas que habitam um mesmo marketplace, até o compartilhamento de rotas e carretas por empresas concorrentes, buscando otimizar custos e reduzir a pegada ambiental.

“De modo mais amplo, inúmeras iniciativas sob o chapéu da Logística 4.0 vêm sendo testadas e adotadas de modo generalizado pelas empresas do setor, buscando operações mais inteligentes para oferecer uma experiência superior de compra. E já vemos um movimento de grandes varejistas incorporando startups a plataformas próprias, que integram toda a cadeia de suprimentos, ou mesmo acelerando startups em busca de soluções específicas.”

Já a TDB percebeu que alguns clientes trocaram as embalagens de papelão pelos sacos plásticos. “Creio que por conta de redução de custos, até porque muitos nos relataram o aumento no valor das embalagens, bem como a falta delas. Os clientes também estão implantando RFID para caixas e peças”, compartilha Menegon.

As novidade listadas por Mírian, da Transrefer, são: novas tecnologias, garantir melhor nível de serviço (ciclo mais rápido e constante), veículos equipados e dedicados ao tipo de operação e sistemas operacionais próprios.

 

Exigências

Sobre as novas exigências que estão sendo feitas pelos embarcadores aos OLs e às transportadoras, Rosa, da ID Logistics Brasil, diz que estão cada vez mais voltadas a diminuir o lead time das entregas. “Essa redução aumenta a satisfação e a confiança dos clientes com relação às vendas online”, expõe.

Tem a mesma opinião Menegon, da TDB. “As empresas estão percebendo que a falta de mercadoria no ponto de venda é atrativo para o concorrente vender.”

A principal exigência, como responde Valeria, da Transportadora Risso, está atrelada ao processo logístico com integração do fluxo de informação. “São demandadas ferramentas práticas de fácil acesso com informações online.”

Na lista de Mírian, da Transrefer, estão Logística 4.0, otimização dos custos e serviços, atenção à qualidade do negócio, e finalmente tecnologia em dia, “para garantir controle e evolução de procedimentos, firmando a integração interna e externa e focando na qualidade dos serviços”.

A adoção de soluções operacionais sustentáveis do ponto de vista socioambiental já é um requisito básico no relacionamento com grandes grupos varejistas, e vem se tornando um padrão para todo o setor, observa Trajano, da Soluciona Logística.

“Já a omnicanalidade na ponta de consumo vem exigindo uma integração inteligente entre as operações logísticas no ambiente online e offline”, continua. Para ele, o grande desafio do segmento está em unir de modo ágil os fluxos dos canais digitais e físicos desde o embarque, conciliando a disponibilidade de produtos espalhados pelo território com as diferentes demandas de frequência de abastecimento nas lojas físicas e nos canais virtuais.

“Isto está longe de ser simples, e exige compartilhar recursos entre diferentes empresas, com diferentes processos, para ter escala e menor custo. Desenvolver um modelo de negócio que possa viabilizar esta operação equivale a encontrar o Santo Graal da logística têxtil”, ressalta Trajano.

Para Albarello, do Grupo Troca, as exigências podem ser percebidas como uma questão estratégica, como no atendimento em formato capilarizado para cobrir todo o território; uma negociação única para diminuir a gestão de várias logísticas pelos embarcadores; e racionalização de custos mediante melhoria de processos e tecnologia.

As empresas que operam neste segmento devem ter o monitoramento da carga, de processos e etapas operacionais totalmente automatizado, segundo Jaime Kras Borges, diretor comercial de POA da Transminuano. “Por ter muita variedade de produtos e códigos, é preciso investir fortemente em tecnologia, como RFID. Isto garantirá total integridade e maximização da roteirização. Com os ciclos de moda, cada vez mais curtos, torna-se imprescindível atender os prazos de entregas no menor tempo”, acrescenta.

Já na visão de Lumare Júnior, da Braspress, não há propriamente novas exigências, mas, sim, exacerbação de alguns pontos de controle. O fluxo de informações ou, por assim dizer, a rastreabilidade das operações, para ofertar posições de rastreio, passo a passo, das entregas aos consumidores, tornou-se objeto de fortes preocupações dos embarcadores, levando-os a pressionar seus parceiros de transporte e logística, os quais, por sua vez, passaram a reagir e se posicionar.

“Como? É fato que, com a crise sanitária e o crescimento do e-commerce, o consumidor passou a desejar entregas mais rápidas, assim, os embarcadores passaram a tomar mais cuidado com as promessas de prazo de entrega, especialmente no que toca as compras digitais, passando a pressionar seus parceiros de transporte, os quais, por sua vez, passaram a dosar suas ofertas segundo um conceito que pode ser chamado de ‘calibragem de expectativas’.”

Como o mercado em geral caminha para o conceito de omnichannel – prossegue o diretor comercial da Braspress –, quando as vendas tradicionais e as digitais se integram e passam a operar em conjunto, o consumidor passou a comprar sob diferentes condições de escolha: de oferta de itens disponíveis com mais facilidade; de preços; de tempos de entrega.

“Assim, as ofertas de transporte e logística precisaram ser adequadas a estas demandas diferenciadas, ocasião em que estes prestadores de serviço passaram a se especializar e não mais contando com a condescendência dos clientes. Ou seja, as ofertas de serviços precisam ser mais precisas, porque os erros passaram a ter efeitos muito mais graves nas relações comerciais. E não há dúvida de que essa nova realidade tem forçado mudanças no transporte e na logística”, finaliza Lumare Júnior.

 

Mudanças

A crise inesperada gerada pelo coronavírus abalou os modelos tradicionais de negócios, conforme analisa Trajano, da Soluciona Logística. Da noite para o dia, a cadeia foi interrompida por conta do fechamento de lojas e shoppings, e todo o setor teve de se reinventar.

“Em nosso caso, como maior empresa de transporte cabideiro do país, vimo-nos obrigados a expandir nossa atuação para outros mercados, como fármacos e alimentos. Por sorte vínhamos de um processo de reposicionamento e revisão de nosso planejamento estratégico. O que fizemos foi acelerar sua implantação, fechando contratos em segmentos com desempenho acima da média ainda no primeiro trimestre. Esta diversificação salvou o nosso ano”, revela.

Ele diz, ainda, que o aumento do comércio eletrônico também foi o gatilho para uma descentralização sistêmica de estoques, conversão de inúmeras lojas em mini hubs de distribuição local e logística reversa, e para a transformação digital em todos os elos da cadeia, buscando atender ao aumento na frequência de abastecimento nos pontos de venda com menores volumes de carga.

Trajano explica que a dinâmica do comércio eletrônico demanda um volume sempre crescente dos mais variados produtos e das mais variadas origens, que devem chegar aos clientes o mais rápido possível. Em termos logísticos, o desafio está em aliar os prazos de entrega reduzidos com uma capilaridade de abastecimento cada vez maior, em um país de dimensões continentais – e fazer isto sem um aumento significativo nos custos de transporte. “É uma equação que requer integração ao longo da cadeia, com acompanhamento em tempo real das cargas e permanente contato com o cliente final. Em outras palavras, requer upgrade tecnológico e digitalização”, acrescenta.

Também o deslocamento de grandes Centros de Distribuição para áreas mais próximas dos centros de consumo era uma tendência entre os grandes grupos varejistas e se intensificou durante a pandemia. “Um indicador inquestionável dessa tendência é o aquecimento do mercado imobiliário de galpões de médio porte em locais mais próximos dos centros consumidores”, continua Trajano.

Há, ainda, a incorporação progressiva de empresas regionais para atuar no last mile, o uso de modais alternativos para entrega a domicílio e a conversão de lojas físicas em ponto de experimentação ou entrega. “A combinação destes movimentos desenha o cenário de desafios aos quais os Operadores Logísticos estão tendo de se adaptar para se manterem competitivos no segmento têxtil”, expõe o diretor executivo da Soluciona Logística.

Já a TDB, que opera no setor de vestuário somente no canal B2B, ficou com muita mercadoria parada nas unidades operacionais devido ao fechamento dos shoppings e comércio de rua. Sem contar que alguns clientes embarcadores também fecharam e ficou impossível devolver a mercadoria.

“Mesmo sem poder atender o público, alguns comerciantes pediam para entregarmos em suas residências, e então, a questão de agendamento das entregas se tornou fundamental, bem como a readaptação de atendimento nas janelas de abertura permitidas pelos governos estaduais para que pudéssemos entregar as mercadorias”, explica Menegon.

O grande desafio em razão da pandemia, de acordo com Rosa, da ID Logistics Brasil, foi fazer a contratação e o treinamento do time para atender o crescimento repentino da demanda e ainda assim garantir os índices de qualidade e produtividade.

Para Albarello, do Grupo Troca, a grande mudança foi no aspecto sanitário em nível geral e no maior cuidado com a saúde das equipes, clientes e fornecedores. “Está sendo imprescindível conscientizar para que a cadeia não trave e se mantenha em operação. Temos promovido treinamento reforçado das equipes para que possam lidar com as limitações respeitando este novo modelo mais consciente e cuidadoso. Além disso, o crescimento de canais farma e de insumos hospitalares esteve presente de forma muito forte”, expõe.

Para Valeria, da Transportadora Risso, a principal mudança também foi com relação aos cuidados com a contaminação do vírus, sendo necessário o constante treinamento junto aos colaboradores para as práticas de higiene e distanciamento social, garantindo a coleta e a entrega do material de forma rápida e segura.

Borges, da Transminuano, observa que, com a pandemia, houve retração no canal de vendas B2B. No entanto, empresas do setor têxtil e de vestuário, que focaram mais no B2C, aumentaram suas vendas via e-commerce. “As transportadoras e os Operadores Logísticos que mudaram sua estrutura e/ou criaram novas divisões exclusivas para atender esta modalidade de vendas viram um crescimento exponencial na demanda de cargas. Foi nosso caso, pois tivemos no segundo semestre um bom crescimento neste segmento”, declara.

Houve mudanças, mas a evolução não para e novos desafios surgem a cada momento para o segmento, expõe Mírian, da Transrefer. “A pandemia colocou à prova a capacidade de adaptação a novos momentos econômicos e sociais, desafios que o setor têxtil e de confecção precisa contornar para sobreviver e se destacar no mercado, neste e nos próximos anos”, salienta.

Lumare Júnior, da Braspress, também lembra que as mudanças tiveram origem nas alterações nos modos e hábitos de consumo. A começar pela queda da demanda de itens cujo consumo podia ser adiado, mas também pela mudança de hábitos e de uma maior preservação da renda, na medida em que o consumidor passou a consumir com mais consciência, o que levou à redução da quantidade de coleções por ano, e mesmo em sua composição, que passou a ser mais enxuta e seletiva. “O transporte e a logística são caixas de ressonância dessas mudanças e têm como mister se adaptar a elas.”

 

Têxtil na cabotagem

O mercado têxtil e de vestuário é formado por grandes empresas, e quando falamos em confecção, há mais de 32 mil companhias, a maioria PMES. Este nicho abre oportunidades para a cabotagem movimentar produtos de forma fracionada. “Quando falamos de fios de poliéster saindo do Nordeste em direção ao Sul do Brasil, geralmente segue uma carreta fechada para cinco ou seis indústrias diferentes. Esse é um trecho que pode ser atendido pela cabotagem”, exemplifica Igor Teles, gerente geral de vendas da Log-In Logística Intermodal.

Segundo ele, as indústrias vêm trabalhando com estoques reduzidos. Assim, elas compram em menores quantidades, mais vezes ao longo do mês. O desafio é fazer essa parte do fracionamento: encher um contêiner ou uma carreta não só para uma empresa, mas para quatro, cinco, com produtos diferentes da indústria têxtil. “A cabotagem precisa se aperfeiçoar para esse tipo de operação, tanto na consolidação e distribuição na ponta rodoviária, como também em investimentos em tecnologia de informação, rastreamento, informação de entrega”, comenta.

Em relação aos fatores que devem influenciar a logística neste segmento, Teles observa que o Brasil exporta muito produtos têxteis, assim como matéria prima. “Independentemente da cabotagem, vejo um avanço da multimodalidade no país. Acredito que, ao combinar os modais marítimo, rodoviário e ferroviário, podemos ter uma melhor estrutura para o escoamento de alguns produtos, principalmente o algodão, tão importante para o segmento e que hoje está basicamente no caminhão. Os projetos de ferrovias no oeste baiano, por exemplo, podem possibilitar o transporte do algodão até o Sul da Bahia usando o trem para conectar os portos”, ressalta.

Outro fator influenciador da logística no setor é a tecnologia. O gerente geral de vendas da Log-In diz que, atualmente, boa parte dos maquinários dessas indústrias vem da Ásia e Europa. “Alguns polos tecnológicos estão avançando no Brasil e isso pode expandir esse mercado, favorecendo a indústria local e, consequentemente, a cabotagem”, complementa.

A Log-In atua no segmento têxtil transportando matéria prima, com maior participação em fios, sintéticos e poliéster. A companhia faz o transporte via cabotagem desses insumos do Nordeste para as regiões Sul e Sudeste e também para o Mercosul, através da rota Atlântico Sul, que tem uma operação regular. “Para 2021, temos uma perspectiva positiva, já que há uma projeção de alta no PIB, além de um maior consumo da população por meio do indicador de consumo das famílias”, finaliza.

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